Portugal espera para ver provas do envolvimento russo até 16 de Abril

Secretária de Estado dos Assuntos Europeus avisou na AR que, se expulsar os diplomatas russos, Portugal ficará sem as três antenas que tem em Moscovo e sem a “informação de que tanto precisa”.

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A secretária de Estado dos Assuntos Europeus defendeu a posição de Portugal no Parlamento Nuno Ferreira Santos

A secretária de Estado dos Assuntos Europeus defendeu esta quarta-feira a posição de Portugal de não expulsar, de imediato, os diplomatas russos em Lisboa, deixando aberta a porta para posições mais musculadas que sejam tomadas a nível europeu na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros de 16 de Abril e no Conselho Europeu de Junho, numa altura em que já serão conhecidos os resultados das peritagens em curso no Reino Unido. “Isto é um processo evolutivo”, sublinhou.

Ana Paula Zacarias refutou que Portugal tenha “ficado isolado” nesta matéria, sublinhou que a decisão de chamar o seu embaixador na Rússia para consultas foi a mesma que tomou a Comissão Europeia e outros quatro países europeus – Luxemburgo, Malta, Eslováquia e Bulgária – e garantiu que o Governo apoiará “todas as medidas adicionais” que venham a ser decididas a nível europeu.

“Não ficamos isolados, estamos perfeitamente integrados no quadro multilateral”, afirmou Ana Paula Zacarias na Comissão de Assuntos Europeus, onde deixou uma questão que considerou central: “Estamos a entrar numa espiral de expulsões e contra-expulsões, mas onde é que nos leva tudo isto? Não podemos fechar a porta de diálogo com a Rússia”, disse, argumentando com a “vocação global da nossa comunicação”.

Na interpelação à governante, a deputada social-democrata Rubina Berardo começou por considerar que se trata de “uma matéria de grande sensibilidade onde é necessário prudência, mas também clareza e firmeza”, sublinhando que a maior parte dos países que optaram por expulsar diplomatas o fizeram apenas em relação àqueles da área da “intelligence”, ou seja, os que trabalham na área da informação.

Mas logo lamentou que Portugal não tivesse feito o mesmo, lembrando que “os aliados tradicionais seguiram o Reino Unido” e que, por não o ter feito, “Portugal figura agora na lista negra do [jornal britânico] The Observer” e considerando a posição lusa de “muito cinzenta e hesitante”. “Não podemos estar com o Reino Unido nos dias de sol e abandoná-lo nos dias de chuva”, afirmou a deputada, considerando que Portugal “já perdeu a primeira leva de solidariedade, esse barco já partiu”.

Ana Paula Zacarias voltou a explicar a posição portuguesa, separando as decisões tomadas no quadro multilateral – União Europeia e Nato, onde frisou que Portugal votou sempre a favor das decisões – das tomadas Estado a Estado, insistindo que as conclusões do Conselho Europeu remetiam as decisões a tomar a nível bilateral para os países. “Alguns decidiram de imediato seguir o Reino Unido na expulsão de diplomatas, outros decidiram aumentar a lista de personas non gratas e outros ainda decidiram chamar os seus embaixadores para consulta”, como fez Portugal.

E foi aqui que surgiu o argumento pragmático do Governo. Lembrando que Portugal tem uma “embaixada muito pequena” em Moscovo – apenas três diplomatas -, Zacarias disse que a expulsão dos embaixadores russos teria como consequência ficar sem antenas na Rússia. “E depois como é que obtemos a informação de que tanto precisamos?”, questionou.

Em sua defesa, o coordenador do PS na comissão, Vitalino Canas – que também é vice-presidente da Assembleia Geral da NATO – argumentou que “este não é o primeiro incidente grave da Europa com a Rússia” e lembrou que em 2013, durante a crise da Crimeia, “Portugal [o anterior governo] procurou manter algumas pontes, estando sempre do lado da condenação, mas tendo uma atitude menos agressiva com a Rússia do que outros países, sobretudo do Norte da Europa”. Para o deputado, é essa “imagem de país equilibrado que tem permitido a Portugal chegar a lugares cimeiros da comunidade internacional”, numa referência directa ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas ocupado por António Guterres.

BE lembra "erro" da Cimeira das Lajes

Para os partidos da esquerda, a questão está, neste momento, na falta de provas inequívocas que os ataques de Salisbury foram perpetrados pela Federação Russa. Foi neste argumento que se fundou Miguel Tiago (PCP), que defendeu a posição do Governo de manter pontes de diálogo. “Portugal deve estar disponível para garantir o desanuviamento da tensão internacional e entendimento entre os povos, isso não significa brandura, mas bom senso”, afirmou.

O BE foi mais longe, com Isabel Pires a lembrar que “há 15 anos Portugal esteve ao lado dos aliados numa questão sensível e ficou muito mal na fotografia”, referindo-se à Cimeira das Lajes onde foi decidido avançar com a guerra ao Iraque. “Nesse caso havia provas inequívocas que afinal não existiam”, frisou.

“Quando o Governo tem uma posição de prudência, o CDS acompanha, mas não acompanha quando tem uma posição de fragilidade”, disse por seu lado o deputado do CDS Pedro Mota Soares, que exigiu “explicações ao Governo” sobre o que sucedeu e o que vai acontecer daqui para frente. “Poderá passar por chamar o embaixador russo em Portugal para explicações? Está à espera dos relatórios dos peritos sobre a arma química usada?”, questionou.

Ana Paula Zacarias acabou por dizer que sim à última questão: “Pode vir a haver mais matéria de prova e mais informação que permitam aos ministros tomar posições mais profundas a 16 de Abril”.

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