Escola Ducla Soares espera as obras prometidas há quase dois anos

Vereador da Educação diz que só falta mesmo o visto do Tribunal de Contas para a reabilitação arrancar. Os pais esperam para ver e ponderam novas formas de luta.

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Já há muito tempo que os pais e encarregados de educação sabiam que os problemas da Escola Básica Luísa Ducla Soares só se resolveriam quando houvesse obras profundas. Caíam placas do tecto do ginásio, as paredes desfaziam-se em bocados e as salas eram frias e húmidas. Não havia segurança nem conforto. Por isso, quando a Câmara Municipal de Lisboa transferiu todos os alunos para outra escola e anunciou uma reabilitação geral, a notícia foi recebida com satisfação. Mas já lá vão quase dois anos sem que as obras tenham começado e os pais dizem-se fartos de esperar.

A impaciência tomou recentemente a forma de um cartaz, pendurado na fachada do velho edifício: “Reconstruam-me, porra!”. Desde Setembro de 2016 que o prédio onde a Ducla funcionou mais de 30 anos, na Rua do Passadiço, está fechado e silencioso. As crianças foram enviadas para a Escola Básica das Gaivotas, na Rua das Chagas, o que inspirou alguns pais a lançar o blogue “As chagas da Ducla”, onde manifestam o descontentamento que sentem com o arrastar deste assunto.

“O facto de não estar a haver obras pode provocar uma diminuição da procura e a justificação para que a escola deixe de existir”, receia José Gonçalves, um dos promotores do blogue. “Os meus filhos, que hoje estão na pré-escolar, muito dificilmente irão para a Ducla. Estamos a começar a ficar saturados”, comenta Paulo Alves, da associação de pais.

Por esta altura, o processo devia estar quase a concluir-se. “O que nos disseram era que estava tudo encaminhado, que era uma questão de meses até começarem as obras”, afirma Paulo Alves. “Foi-nos prometido que íamos para um sítio digno até as obras estarem concluídas, mas deparámo-nos com situações muito complicadas”, continua. A escola das Gaivotas, entre o Calhariz e o Chiado, para onde inicialmente foram transferidos os cerca de 150 alunos do jardim-de-infância e primeiro ciclo da Ducla, tinha também problemas graves de degradação.

Perante as queixas, a câmara propôs, no Verão passado, que duas turmas fossem transferidas para a nova Escola Básica Maria Barroso, no antigo Tribunal da Boa Hora. Os pais aceitaram, mas temem que esta dispersão possa servir de pretexto para pôr em causa a necessidade de existência da Ducla, sobretudo se as obras não começarem rapidamente.

Na Escola Ducla Soares há “uma enorme percentagem de crianças de língua estrangeira”, afirma José Gonçalves, explicando que “o projecto pedagógico assume este desafio e tem pessoas competentes e militantes”. Paulo Alves refere que esta “sempre foi uma escola muito acolhedora” e “o principal foco de qualidade” escolar na freguesia de Santo António. “Temos estado na expectativa, mas não sabemos o que vai acontecer”, diz o dirigente.

“O processo arrastou-se”, admite o vereador da Educação, Ricardo Robles, que recebeu este dossier quando tomou posse, em Outubro passado. “Temos tudo pronto para avançar. Empreiteiro escolhido, empreitada adjudicada. Estamos só à espera do visto do Tribunal de Contas”, explica o vereador.

Uma das dificuldades de fazer obras na Ducla é que a Rua do Passadiço é muito estreita para montar um estaleiro. A câmara teve de chegar a acordo com o Hospital dos Capuchos, atrás da escola, para instalar a base da empreitada. Há um ano, quando José Gonçalves foi a uma reunião da autarquia tentar saber em que ponto estavam as coisas, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, disse-lhe que o protocolo com o hospital poderia ser assinado logo no dia seguinte. E que as obras deveriam começar em Setembro para estar concluídas “no final do primeiro trimestre de 2019”.

Ricardo Robles diz que o protocolo com o Hospital dos Capuchos “foi assinado há um mês” e que as obras vão demorar “cerca de um ano”, mas não consegue precisar uma data de arranque dos trabalhos porque, refere, não sabe quando o Tribunal de Contas se vai pronunciar.

A associação de pais distancia-se, para já, de acções como as de José Gonçalves. “Entendemos e apoiamos, mas não participamos”, afirma Paulo Alves, sublinhando a importância de “manter relações cordiais” com a câmara para resolver a situação. Mas avisa: caso não surjam novidades em breve, “avançaremos para outras formas de luta”.

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