Contas da Santa Casa e da mutualista sobre os 2% não batem certo
Ainda que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não tencione comprar a totalidade dos 2% de capital do Montepio alienados, Edmundo Martinho disse que o valor total rondava os 30 a 40 milhões de euros; mas a Associação Mutualista diz que está em causa um valor mais alto.
As contas da Associação Mutualista Montepio e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) não batem certo, noticia o Jornal de Negócios nesta segunda-feira. Os números previstos pela Associação Mutualista, transmitidos ao conselho geral, pelos 2% de capital que será alienado estão na ordem dos 45 e 48 milhões de euros; mas o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, disse que o valor dos 2% do capital “anda entre os 30 e os 40 milhões de euros” — um valor diferente daqueles apresentados pela mutualista.
Os primeiros valores foram divulgados pelo presidente da Associação Mutualista Montepio, António Tomás Correia, numa entrevista à RTP3, em meados de Março. Os 45 a 48 milhões de euros apresentados por Tomás Correia divergem daqueles que foram mencionados mais tarde por Edmundo Martinho numa entrevista na semana passada ao Diário de Notícias e à TSF: o provedor da SCML confirmou que a instituição de solidariedade social iria mesmo avançar, em conjunto com outras misericórdias e IPSS, para a compra de uma parte dos 2% do capital, que “anda entre os 30 e os 40 milhões de euros”.
Segundo os cálculos feitos pelo Negócios, se 2% representam um montante entre 45 e 48 milhões de euros, a totalidade da caixa vale entre 2,25 e 2,4 mil milhões, que é o valor bruto de investimento da caixa económica no balanço da mutualista: 2,4 mil milhões de euros, de acordo com o relatório e contas de 2017. No entanto, este valor bruto não tem em conta a imparidade de 498 milhões de euros, que baixa o valor líquido da Caixa Económica Montepio Geral no balanço da associação para menos de 1,9 milhões de euros; aí, 2% já seriam 38 milhões.
Como noticiado pelo PÚBLICO, a parceria assumida entre a mutualista e a SCML deverá seguir uma linha menos ambiciosa, devendo ser feita através de um conjunto (pool) de misericórdias e de institutos de solidariedade social que fará um investimento simbólico. O objectivo da Santa Casa não é comprar a totalidade dos 2%, refere Edmundo Martinho, garantindo ainda que os projectos previstos para a cidade de Lisboa não estão em risco. À SIC Notícias, o provedor da Santa Casa referiu que o investimento da instituição deverá rondar os 18 milhões de euros.
O negócio tem desencadeado reacções no sector político, com o PSD a exigir que “não haja qualquer concretização da operação” sem que esteja concluída uma avaliação pedida, pedindo esclarecimentos “imediatos” ao Governo. Também o CDS tem reagido com hesitação sobre a entrada da Santa Casa no Montepio: “Como se a Santa Casa actuasse por sua conta própria, sem ter de prestar contas ao Governo ou receber indicações por parte do Governo numa matéria tão sensível quanto esta”, afirmou a líder do partido, Assunção Cristas.