Philip Kerr, autor da trilogia Berlin Noir, morre aos 62 anos

O escritor escocês era um dos mais talentosos autores policiais contemporâneos, criador do inesquecível Bernie Gunther, um detective alemão que ganha a vida a desvendar crimes em pleno III Reich.

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ESTEBAN COBO/LUSA

Conhecido pela sua notável trilogia Berlin Noir, editada em Portugal na colecção O Fio da Navalha, da Presença, o autor escocês de livros policiais Philip Kerr (1956-2018) morreu esta sexta-feira aos 62 anos. A sua morte foi confirmada pelo seu editor e pela sua viúva, a também ficcionista e jornalista Jane Thynne, mãe dos seus três filhos. 

Nascido em Edimburgo, formou-se em Direito e em Filosofia pela Universidade de Birmingham e trabalhou depois vários anos como revisor em várias agências de publicidade, nas quais passava a maior parte do tempo, como mais tarde confessaria em entrevistas, a fazer investigações para o seu projecto de criar um detective sediado em Berlim.

Depois de muita pesquisa e de várias viagens à Alemanha, publicou em 1989 o seu livro de estreia, Violetas de Março, cujo título recuperava o termo pejorativo aplicado aos arrivistas que, logo após a chegada ao poder de Hitler, se tinham tornado nazis fanáticos do dia para a noite. O seu protagonista, Bernie Gunther, um ex-polícia que deixara de ter estômago para colaborar com os nazis e se dedicara à investigação privada, era uma dessas personagens que nunca mais se esquecem. Se imaginarmos Philip Marlowe (o detective criado por Raymond Chandler) numa versão um pouco menos sofisticada e obrigado a sobreviver, com a sua peculiar noção de honradez, no meio da barbárie nazi, teremos um retrato mais ou menos aproximado de Gunther.

Nos três livros de Berlin Noir, Kerr consegue mergulhar-nos no sufocante quotidiano de Berlim antes, durante e logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, com uma minuciosa investigação histórica a sustentar um conjunto de histórias invulgarmente bem contadas.

O livro mais premiado de Philip Kerr é Se os Mortos Não Ressuscitam (2009), publicado em Portugal pela Porto Editora, que recupera a figura de Gunther num enredo que vai saltando entre os anos de ascensão do nazismo e a década de 50, em plena Guerra Fria. Mas nem este volume nem o anterior, O Projecto Janus (2006), também já publicado pela Porto Editora, e que assinala o regresso de Bernie Gunther após um hiato de 15 anos, estão bem à altura, embora se leiam ambos com prazer, da trilogia inicial, que inclui, além do já citado Violetas de Março, O Criminoso Pálido (1989) e Um Requiem Alemão (1991).

Além de ter escrito, já depois de Berlin Noir, mais uma dezena de histórias, a maior parte ainda por traduzir, com o seu principal detective, Kerr publicou ainda três romances policiais protagonizados por um treinador de futebol londrino, Scott Manson. Logo no primeiro desses volumes, Mercado de Inverno (2014), Manson vê-se confrontado com o homicídio de um carismático treinador, cujo nome português, João Zarco, está longe de ser o único aspecto que pode fazer pensar em José Mourinho.

Kerr escreveu ainda vários romances policiais fora destas duas séries, alguns deles já publicados em Portugal, como Um Assassino Entre os Filósofos (1992) ou A Vingança Serve-se Fria (1997), e escreveu também diversos livros para crianças.

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