Reduzir o consumo calórico em 15% pode ser um dos segredos da longevidade
Em suma, os organismos que consomem energia de forma mais eficiente são os que vivem mais. Um estudo revela que uma redução calórica de 15% ajuda a travar o envelhecimento e a proteger os humanos de doenças que surgem com a idade, muitas delas relacionadas com elevados níveis de stress oxidativo.
Já se sabia que a redução do consumo de calorias em alguns animais conduzia a uma maior longevidade, mas não se sabia até que ponto é que o mesmo se aplicava a humanos. Agora, um novo estudo mostra que uma redução de 15% das calorias consumidas ao longo de dois anos desacelera o processo metabólico que conduz ao envelhecimento e reduz também a probabilidade de doenças relacionadas com elevados níveis de stress oxidativo, como a diabetes, o Alzheimer, ou o cancro. O estudo em que são apresentados estes resultados foi publicado na quinta-feira na revista científica Cell Metabolism.
“Reduzir as calorias pode retardar o metabolismo basal [a quantidade mínima de calorias necessária para manter as funções vitais] e, se os derivados do metabolismo aceleram o processo de envelhecimento, então a redução de calorias ao longo de vários anos pode ajudar a diminuir o risco de doenças crónicas e prolongar a vida”, disse a investigadora que coordenou o estudo, Leanne M. Redman, que é também professora no Pennington Biomedical Research, no estado norte-americano do Luisiana.
O estudo foi feito num grupo que reduziu o seu consumo calórico em 15% e num grupo de controlo (que comia sem restrições); ao todo, eram 60 pessoas. No entanto, as últimas análises só foram feitas em 53 pessoas: 36 mulheres e 17 homens. Os testes foram feitos em pessoas saudáveis, algumas delas com peso normal e as restantes com ligeiro excesso de peso. Mas a coordenadora do estudo garante à CNN que reduzir o consumo calórico “tem benefícios de saúde para toda a gente, independentemente do seu estado de saúde”. Antes, já tinham sido acompanhados mais de 200 indivíduos durante um menor período de tempo (seis meses).
Ainda que os indivíduos tenham perdido, em média, nove quilos, não se verificaram quaisquer outros efeitos secundários; o estudo nota que houve até uma “melhoria” da disposição dos participantes e da sua qualidade de vida no que toca a questões de saúde. “Mesmo as pessoas que são saudáveis podem beneficiar de um regime de restrição calórica”, reiterou Redman, num comunicado sobre o estudo.
No fundo, lê-se no estudo, uma maior longevidade está associada “àqueles que utilizam a sua energia de forma mais eficiente”. O estudo combina duas teorias associadas à longevidade: uma taxa de metabolismo mais baixa e a redução dos níveis de stress oxidativo –? este tipo de stress é um dos factores que promovem o envelhecimento celular, e é causado pela acumulação progressiva de radicais livres, formados durante o processo metabólico, por exemplo.
Este estudo é importante por ter sido o primeiro a ser feito em humanos, com base em ensaios clínicos em indivíduos aleatórios. Já se tinham verificado resultados semelhantes em animais: em 2015, uma equipa de neurocientistas da Universidade de Coimbra descobriu que a redução de 20% a 40% das calorias ingeridas por ratinhos (sem causar subnutrição) ajudava não só a atrasar o envelhecimento mas também a prolongar as suas vidas. Além dos ratos, já tinham sido feitos estudos do género nos vermes Caenorhabditis elegans e em moscas, com resultados semelhantes. Com algumas excepções: os resultados de uma investigação com mais de 20 anos em macacos rhesus, divulgados em 2012, contrariavam essa tendência.
Os ensaios clínicos feitos em humanos fazem parte do programa Calerie (Comprehensive Assessment of Long term Effects of Reducing Intake of Energy, em inglês). Os cientistas referem que é precisa mais investigação neste campo, até porque deve haver uma maior amostragem e consideram que um período de dois anos é curto.
Num outro estudo feito pela organização britânica Cancer Reasearch UK divulgado nesta sexta-feira, é revelado que um terço dos casos de cancro no Reino Unido poderia ter sido evitado — e refere que o excesso de peso é uma das principais causas da ocorrência de cancro, em 6,3% dos casos. Mesmo assim, a principal causa de cancro que poderia ser evitado continua a ser o consumo de tabaco, ainda que esses casos tenham vindo a diminuir no Reino Unido; outra das causas é a exposição a radiação solar ultravioleta.