Festival DDD: o caleidoscópio da dança contemporânea

Olga Roriz num tributo a Ingmar Bergman, os noruegueses da Carte Blanche dançando o deserto da marroquina Bouchra Ouizguen, o flamenco de Farruquito ou ainda o jumpstyle do colectivo (La) Horde são algumas das estreias do festival DDD – Dias da Dança, que regressa de 26 de Abril a 12 de Maio.

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To Da Bone, do grupo (La) Horde LAURENT PHILIPPE
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Jerada, que a coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen construiu com os noruegueses Carte Blanche HELGE HANSEN
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(b)reaching stilness, de Lea Moro DIETER HARTWIG
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Le Cri, da companhia francesa Dyptik THOMAS COLLET
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Inaudible , da companhia Zoo, do coreógrafo belga Thomas Hauert GREGORY BATARDON

A terceira edição do festival DDD – Dias da Dança abre no próximo dia 26 de Abril com o minimalismo de (b)reaching stilness, um espectáculo da coreógrafa Lea Moro inspirado nos detalhes do barroco, e apresenta as suas últimas estreias a 12 de Maio com o flamenco de Farruquito e o jumpstyle do colectivo (La) Horde, duas pontas de uma programação que quer justamente mostrar a diversidade da criação coreográfica contemporânea.

Unindo três cidades da frente atlântica do Grande Porto – Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia – e decorrendo em 12 salas, às quais se somam seis espaços ao ar livre, o Dias da Dança propõe 35 espectáculos, incluindo 15 estreias absolutas e 13 estreias nacionais. A programação foi apresentada ao final da tarde desta quinta-feira nas instalações da companhia mala voadora pelo director artístico do festival (e do Teatro Municipal do Porto), Tiago Guedes, que nela sublinhou o desejo de dar a ver o “panorama caleidoscópio da dança contemporânea”, da mais "clássica" a criações que a aproximam de estilos tão distintos como as danças orientais, o flamenco ou o hip-hop.  

A Meio da Noite, uma coreografia de Olga Roriz que presta tributo ao universo do cinema existencialista de Ingmar Bergman, e que se mostrará no Teatro Nacional São João no dia 27 de Abril, é uma das estreias absolutas que Tiago Guedes destaca no programa DDD/In, a principal secção do festival, que concentra as coreografias e performances que serão apresentadas nas múltiplas salas pelas quais o festival se desdobra.

No dia seguinte, 28, será a vez de a Enchente, de Luísa Saraiva, subir ao palco do Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos. Formada na Alemanha e hoje radicada no Porto, a coreógrafa aborda neste espectáculo os gestos que os corpos executam quando se movem numa lógica colectiva em momentos de algum modo disruptivos, seja um protesto político, uma rave, o saque a um supermercado ou um concerto dos Beatles.

Ainda no âmbito das criações nacionais que terão a sua estreia neste terceiro DDD, Tiago Guedes salientou Um [Unimal], de Cristina Planas Leitão, um dos espectáculos que decorrerão no Teatro do Bolhão, que se juntou em 2017 aos parceiros do festival, From  Afar  it  Was  an  Island (Auditório Municipal de Gaia), de João Fiadeiro, que o director do Dias da dança considerou “um dos faróis da dança contemporânea”, e ainda Feux d’Artifice (Grande Auditório do Rivoli), uma coreografia de dois artistas mais conotados com a performance, António Lago e Susana Chiocca.

Mas é a programação internacional que reflecte de modo mais óbvio a deliberada diversidade estilística desta edição, com estreias nacionais como o já referido (b)reaching  stilness, de Lea Moro, coreógrafa que se divide profissionalmente entre Berlim e Zurique, Jerada, da coreógrafa marroquina Bouchra  Ouizguen, que em 2016 apresentara Ha! no Rivoli, e que agora vai mostrar no mesmo teatro, no dia 28, a peça que construiu com a companhia norueguesa de dança contemporânea Carte Blanche, ou ainda Inaudible, da companhia Zoo, do coreógrafo belga Thomas Hauert, que aprofunda as suas investigações em torno das relações entre música e dança com um espectáculo em que os bailarinos se confrontam com o Concerto em Fá, de George Gershwin, e Ludus de Morte Regis, do compositor contemporâneo Mauro Lanza.  

As danças urbanas estarão presentes com espectáculos como Le Cri, da companhia francesa Dyptik, com raízes no hip-hop, ou To Da Bone, do grupo (La) Horde, que reúne 11 artistas de jumpstyle de diversos países que se conheceram através das redes sociais, onde iam colocando os vídeos das suas performances, e que se reuniram em Paris para criar uma coreografia colectiva ao vivo, na qual interrogam o papel que o Facebook ou o YouTube podem ter na criação de movimentos de contestação.

Outro momento a não perder será a actuação no Coliseu do Porto, já no fim do festival (12 de Maio, às 18h), de Farruquito, um dos grandes nomes do flamenco actual, que apresentará Pinacendá, um trajecto dançado pelas várias províncias andaluzas, incluindo a sua Sevilha natal. 

Uma comunidade à volta do festival

Com um orçamento total de cerca de 580 mil euros – revelado pelo presidente da Câmara do Porto, que abriu a sessão, seguido pelos seus homólogos de Matosinhos e V. N. de Gaia –, o festival vê ainda reforçada a sua rede de parceiros com as entradas do Espaço Mira, no Porto, e da nova Casa da Arquitectura de Matosinhos, que se vem juntar aos cúmplices iniciais, entre os quais se contam, além dos já citados, Serralves e o Armazém 22, em Gaia.

Além do seu eixo principal, o DDD/In, esta terceira edição do festival incluirá ainda, como em 2017, o DDD/Out, com coreografias pensadas para vários espaços públicos das três cidades, o DDD/Extra, que congrega uma programação paralela muito diversa, de workshops masterclasses a festas, e o DDD/Pro, uma novidade deste ano, que consiste num workshop de duas semanas para profissionais, ministrado pelos coreógrafos Marco da Silva Ferreira, David Zambrano, Edivaldo Ernesto e Frey Faust, e no qual, segundo Tiago Guedes, “já se inscreveram 131 bailarinos europeus, que estarão no Porto e irão ver os espectáculos à noite, contribuindo para criar uma comunidade artística à volta do festival”.

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