}

Nova alameda no Barreiro abre cidade à zona industrial e mostra maior obra de Vhils

Requalificação da antiga Rua da União, que vai ser inaugurada no domingo, assume-se como ponte de várias ligações, da histórica CUF ao urbanismo moderno, da cidade aos terrenos que lhe estavam vedados e da arte à vida das pessoas.

Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

O Barreiro prepara-se para inaugurar, no próximo domingo, a nova alameda que resultou da requalificação da histórica Rua da União e que se apresenta agora como uma artéria ampla, com espaços pedonais e de estar e uma vincada componente artística assente na maior obra já feita até hoje por Alexandre Farto aka Vhils.

O artista plástico pintou um extenso mural, que cobre as fachadas dos edifícios do Bairro de Santa Bárbara, sobranceiro à nova alameda da Rua da União. Do alto do antigo bairro operário, dezenas de figuras de mulheres e homens, trabalhadores do tempo da Companhia União Fabril (CUF), contemplam a nova realidade urbana e interpelam os que circulam hoje pelo local, de carro ou a pé.

A nova artéria, agora ajardinada, passou a ter passeios, largos, para circulação de peões, zonas de estar, com bancos, e um espaço próprio para pequenos espectáculos, enquadrado pelo mural de Vhils, no Sobe e Desce, a conhecida entrada circular do Bairro de Santa Bárbara. O local, de grandes dimensões, foi equipado com lugares para sentar, numa espécie de anfiteatro.

A velha estrada ladeada por muros passou a ser uma larga alameda com vista e acesso a edifícios até agora vedados, como o antigo quartel da GNR e a Casa Museu Alfredo da Silva.

Estes dois equipamentos, que a Baía do Tejo, empresa pública (do universo Parpública) proprietária dos terrenos e dona da obra agora concluída, considera serem dos mais relevantes do núcleo museológico da CUF, passam a estar disponíveis para usufruto da população.

O antigo posto da GNR deve vir a servir para acolher exposições e iniciativas públicas e a antiga casa de Alfredo da Silva, que contém objectos pessoais do grande industrial português como a sua roupa e a mobília original, funcionará como museu e, a partir de Domingo, está já disponível para visitas por marcação.

A obra, que requalificou quarteirões associados às antigas instalações fabris tem “dois níveis de importância” para a cidade, diz o autarca do Barreiro.

“A obra de Vhils será uma ancora para a cidade, que vem dar força à aposta na arte urbana e a requalificação simboliza o esforço da ligação do Barreiro aos territórios industriais, que confinam com a cidade mas que são muitas vezes murados”, disse Frederico Rosa ao PÚBLICO.

O presidente da câmara sublinha que com a abertura da nova alameda o Barreiro “está a expandir-se para territórios que, mais do que apenas privados, estavam inacessíveis às pessoas”

Frederico Rosa acrescenta que a autarquia continua a trabalhar para “reconverter equipamentos para a sociedade” e assegura que o novo mural de Vhils “não está isolado” porque “combina” com a política de arte urbana do município.

Do Lavradio à cidade e à marginal

Com a abertura da nova Rua da União, ganha espaço a ligação do Barreiro ao Lavradio, localidades historicamente apartadas pelo complexo industrial da CUF, que nasceu entre as duas povoações, e a circulação desta antiga vila para o centro da cidade ou para a marginal.

É que a alameda confina com a Avenida da Praia, a marginal à beira-Tejo com vista directa para Lisboa, e completa aproximação ao centro do Barreiro que foi iniciada com a estrada que a câmara municipal construiu há já alguns anos na zona do antigo estádio do Barreirense FC.

A obra nesta antiga zona industrial, que custou 1,5 milhões de euros, foi realizada e financiada pela Baía do Tejo e, segundo a administração, integra-se na preocupação de requalificação urbana dos territórios que a empresa pública “assume na sua missão”.

“O objectivo é proporcionar um espaço publico de qualidade a toda a população e não só aos clientes do parque Baía do Tejo”, disse ao PÚBLICO Jacinto Guilherme Pereira, presidente da empresa.

O administrador destaca também a sensibilidade da empresa para a relação com os artistas.

De acordo com Jacinto Pereira, esta mais recente obra de Vhils faz parte da parceria que a empresa tem com o artista e insere-se no desenvolvimento do núcleo de industrias criativas que a Baía do Tejo procura consolidar nos seus parques empresariais e que conta já, além do estúdio de trabalho de Vhils, com o arquivo da associação cultural Ephemera, de Pacheco Pereira, e a editora musical Hey Pachuco.

As obras de requalificação geraram polémica, no ano passado, por envolveram a demolição do edifício do antigo posto médico da CUF, contestada por um grupo de cidadãos que defendia a sua preservação e classificação como Património Arquitectónico.

O prédio não integrou a lista de património da antiga CUF que está em vias de classificação pela Direcção Geral do Património Cultural (DGCP) e foi mesmo demolido.

Na altura, o presidente da Baía do Tejo, dizia que o resultado final da requalificação urbana iria agradar à população. “No momento em que os barreirenses virem o que está a ser feito, vai ser consensual porque é a devolução definitiva do território à cidade”, disse Jacinto Pereira.

 O momento é no domingo às 16h, hora da inauguração da nova rua, assim como do mural de Vhils.

A CUF foi fundada em 1865 pelo empresário Alfredo da Silva, e no complexo industrial do Barreiro, que integrava diversas fábricas, de adubos, sabão, produtos químicos, rações, óleos e azeite, chegaram a trabalhar 11 mil pessoas. A empresa foi nacionalizada em 1975 e os antigos territórios são actualmente geridos pelo Estado através da Baía do Tejo.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários