Weinstein Company declara falência e anula acordos de confidencialidade
Compra por grupo de investidores falhou. A empresa entra agora em insolvência e rasga os acordos que Harvey Weinstein utilizou para silenciar vítimas de crimes sexuais.
A produtora de cinema americana Weinstein Company declarou insolvência esta segunda-feira e anunciou que vai rasgar os acordos de confidencialidade que vinculavam ao dever de sigilo eventuais vítimas de crimes sexuais cometidos pelo seu fundador, Harvey Weinstein.
“Desde Outubro que tem sido noticiado que Harvey Weinstein utilizou acordos de confidencialidade como uma arma secreta para silenciar as vítimas. Com efeito imediato, esses ‘acordos’ acabaram”, afirmou a administração da empresa em comunicado. A produtora de cinema afirma que “ninguém deve ter medo de falar nem ser forçado a ficar calado”, e qualifica de “corajosas” as vítimas que denunciaram os casos de abuso sexual e que “inspiraram um movimento de mudança em todo o país e em todo o mundo”.
O escândalo Weinstein marcou o início de uma onda de denúncias e de um debate público internacional sobre o fenómeno do abuso sexual no local de trabalho — com uma focalização inicial na indústria do cinema. O fenómeno desencadeou os movimentos Time's Up e #MeToo, que têm conduzido à investigação de crimes, alguns cometidos há várias décadas, e à implementação de leis e regulamentos contra o assédio.
Quanto ao processo de falência, a produtora procurará que a justiça permita a venda do seu património a uma empresa de gestão de activos, a Lantern Capital Partners, que depois ficará encarregada de alienar os bens. O recurso a este veículo pode evitar que o património da empresa seja leiloado num processo de liquidação, o que geraria uma receita menor.
“O conselho de administração tem o prazer de ter um plano para maximizar o valor dos seus activos, preservando o maior número de empregos possível e procurando justiça para qualquer vítima”, disse o actual presidente da produtora, Bob Weinstein, num comunicado citado pela BBC.
O procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman, que tinha apresentado no mês passado uma acção judicial contra a empresa em nome dos funcionários, considerou que este é “um momento importante”.
O estúdio cinematográfico, com uma equipa de 100 funcionários, tem activos avaliados em cerca de 500 milhões de dólares (406,6 milhões de euros ao câmbio actual). A falência da empresa é anunciada no seguimento de várias tentativas de venda. Uma delas tinha mesmo resultado na assinatura de um contrato com um grupo de investimento liderado por Maria Contreras-Sweet. No entanto, o grupo de investidores acabou por recuar e suspender o negócio, alegando a existência de dívidas que a produtora não tinha declarado anteriormente.
Segundo o jornal The Guardian, também as produtoras Lions Gate Entertainment e Miramax tinham abordado a Weinstein Company com vista à sua possível aquisição.
A empresa Weinstein Company foi fundada em 2005 pelos irmãos Harvey e Bob Weinstein, que em 1979 tinham já fundado os estúdios Miramax. Em Outubro de 2017, Harvey Weinstein foi demitido da presidência da Weinstein Company, logo após a divulgação das primeiras acusações de abuso sexual. O influente produtor, que tem no seu currículo filmes como Pulp Fiction e O Discurso do Rei, enfrenta agora diversas acusações judiciais por assédio sexual e violação, após queixas de dezenas de mulheres.
Texto editado por Pedro Guerreiro