Para a Sonae, 2017 foi "o melhor e o pior ano de sempre"

Grupo Sonae regista crescimento em todas as frentes de negócio, com o grupo a surpreender com a possibilidade de voltar a dispersar capital da Modelo Continente em bolsa.

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Nélson Garrido

Paulo Azevedo quis replicar o modelo que usou no ano passado na apresentação de resultados da Sonae em 2017 e, munido de um powerpoint, começou a fazer o fact-check a todos os objectivos estratégicos que tinha proposto para a empresa. Conseguiu cumpri-los a todos, nomeadamente o crescimento de 7,5% do volume de negócios consolidado, e não podia deixar de invocar a satisfação enorme com o trabalho feito pela Sonae durante o ano. Mas 2017 foi também, referiu, “o ano mais triste na vida da Sonae”.

Referindo-se à morte do pai, Belmiro de Azevedo, o actual chairman da empresa sentou-se para dizer: “Eu ainda não vos consigo falar desse tema. Mas gostava muito de falar”. Acabou por ser Ângelo Paupério, co-CEO, a prestar homenagem ao fundador do grupo. “É o ano que fica marcado pela partida do engenheiro Belmiro de Azevedo, o nosso líder inspirador. É a alma da nossa cultura, é a nossa referência e vamos querer continuar a honrá-lo, a criar valor económico e social no longo prazo, levando os benefícios do progresso a um número cada vez maior de pessoas”, declarou, também ele com a voz muito embargada.

No que correu bem, a empresa fechou com lucros de 166 milhões de euros, resultados que não são comparáveis aos 222 milhões de euros de 2016, influenciados por factores não recorrentes. Em face dos resultados obtidos, a Sonae (proprietária do PÚBLICO) propõe um aumento de 5% do dividendo a distribuir pelos accionistas, que será de 0,042 euros. A dívida caiu 103 milhões de euros, para 1112 milhões de euros, com Paulo Azevedo a sublinhar a inversão do financiamento das operações da empresa, que hoje em dia assenta dois terços da operação em capitais próprios. “No passado era o inverso”, lembrou.

Regresso do Modelo Continente à bolsa

Os negócios do grupo cresceram em todas as áreas, com o presidente da empresa a demonstrar particular satisfação com o crescimento no retalho alimentar para os 3,9 mil milhões de euros. “Tivemos um crescimento de vendas de 5,4%, muito acima do mercado”, anunciou Paulo Azevedo, avisando, mais à frente, que não pretendem perder a liderança neste segmento. “Queremos continuar a crescer na preferência de clientes, pelo preço, pela qualidade dos frescos e pela qualidade da marca própria, é o nosso porta-aviões dentro do Continente. Vai ser sempre a nossa prioridade”, afirmou o gestor.

A anunciada abertura de lojas em Portugal da cadeia de supermercados Mercadona não assusta os responsáveis na Sonae. “É um grande player do mercado, é de um país próximo. Nós respeitamos a Mercadona, mas não assusta”, respondeu Paulo Azevedo.

O eventual regresso da Modelo Continente à bolsa acabou por ser a novidade da sessão, com Paulo Azevedo a admitir que esta é uma das formas de “potenciar o crescimento de uma empresa. Oficialmente a empresa comunicou ao mercado que está a “analisar a possibilidade de listar [cotar em bolsa] um portefólio de retalho, no qual a Sonae SGPS irá manter a participação maioritária”.

Sem se comprometer com datas, Paulo Azevedo admitiu que foi o interesse dos investidores em ter uma maior exposição no mercado na área de retalho que levou a Sonae a iniciar o processo de estudo, que nesta altura já envolve bancos de investimento. Paulo Azevedo admitiu que já nem se lembravam bem das razões que levaram à decisão pela saída de bolsa da Modelo Continente em 2006. Garante que a empresa é, 12 anos depois, muito diferente. “E os mundos também são diferentes”, rematou.

Worten aposta no omnicanal

Durante o ano de 2017 a Sonae investiu 316 milhões de euros no âmbito das empresas que consolidam pelo método integral. O objectivo é continuar a acelerar vários negócios a nível nacional e internacional, tendo Paulo Azevedo destacado os resultados surpreendentes da Worten que ultrapassou os mil milhões de euros em facturação. “Agora, mais do que o crescimento, é importante sermos bons na proposta omnicanal, que é o futuro deste sector”, defendeu o presidente da Sonae referindo que as vendas online situaram-se, pela primeira vez, acima de 100 milhões de euros e que estão “cada vez mais integradas”. “Queremos estender a gama de produtos online, vamos entrar na área do market places e alargar o portefólio de serviço”, anunciou.

Na área da Sonae Invest Management, Paulo Azevedo referiu que o número de empresas tecnológicas que integra “já permite que se fale num portefólio”. Esta é uma área onde “ou se cresce ou se morre”, argumentou, para justificar que a aposta é no crescimento, numa lógica internacional e que pode passar por novas aquisições.

Melhorar a satisfação de cliente é o desafio da NOS

Na área do Desporto e Moda a intenção é continuar a crescer dentro do novo posicionamento do grupo, que passa pelo franchising e pelas parcerias em mercados internacionais. Os resultados neste domínio ainda estão longe de ser satisfatórios, referindo-se particularmente à Salsa e à Losan, mas onde Paulo Azevedo diz “que põe a cabeça no cepo”. “Sei o trabalho que já está feito, e sei que agora os resultados vão aparecer”.

Demonstrando satisfação pelo crescimento e rentabilidade conseguida na área das telecomunicações, Paulo Azevedo referiu que a Nos deverá concentrar-se mais no reforço da qualidade de serviço. “Agora com a lavoura feita, vamos querer um Excel com a satisfação do cliente e do serviço prestado”.

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