Os Dias da Música sob o signo de Bosch num ano de novidades
Os trípticos de Hieronymus Bosch inspiram este ano o festival, que decorre entre 26 e 29 de Abril no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Um ano de “muitas novidades”, foi assim que o programador do Centro Cultural de Belém (CCB), André Cunha Leal, resumiu, esta quinta-feira, o que virá aí para a 12.ª edição de Os Dias da Música, que decorrem de 26 a 29 de Abril. A inspiração para o festival, mas também para a programação do CCB nos meses de Abril e Maio, provém do tríptico As Tentações de St.º Antão de Hieronymus Bosch. Castigos, Culpas e Graças Divinas são o mote para o ciclo que, segundo o programador, marcará uma edição “mais enquadrada com as práticas dos grandes festivais”, no sentido em que haverá uma temporada de programação que “segue uma narrativa”, inspirando-se na pluralidade de leituras do mundo perturbante e fantástico de Bosch. Por outro lado, aposta-se na “dimensão internacional”, com obras de grande fôlego tocadas de forma integral, com mais orquestras e intérpretes estrangeiros, embora a base continue a ser os portugueses – até porque, foi sublinhado pelo programador, tal como pelo presidente do conselho de administração do CCB, Elísio Summavielle, se vive um contexto particularmente excitante em Portugal, na quantidade e na qualidade.
O barítono Wolfgang Holzmair, o tenor Aquiles Machado, a Orquestra de Câmara Alemã, o Orlando Consort, os maestros Frédéric Chaslin e Ton Koopman ou agrupamentos e solistas portugueses como a Orquestra Sinfónica Portuguesa, os cantores José Fardilha e Ana Quintans, o violoncelista e maestro Bruno Borralhinho, Os Músicos do Tejo, Artur Pizarro, a Orquestra Gulbenkian ou a soprano Sónia Grané são alguns dos muitos nomes convocados para um evento que este ano está estruturado como tríptico, seguindo e celebrando as tentações terrestres e a sua redenção, como se poderá escutar em A Criação de Haydn, no Gianni Schicchi do Tríptico de Puccini, no Caim ou o Primeiro Homicídio de Alessandro Scarlatti ou nos Sete Pecados Mortais de Kurt Weill.
A abertura de Os Dias da Música dar-se-á a 26 de Abril com a oratória A Criação de Joseph Haydn, com direcção de Pedro Carneiro, pela Orquestra de Câmara Portuguesa, o coro Voces Caelestes e os solistas Wolfgang Holzmair, Ana Quintans, Carla Caramujo, Thomas Michael Allen e Peter Kellner. Segundo o presidente do conselho de administração do CCB, o orçamento será análogo a anos anteriores, não devendo ultrapassar os 500 mil euros (“algures entre os 450 e os 500 mil”, disse), contemplando mais de 60 acontecimentos em torno da música, de concertos a conferências, 42 em sala, 12 no contexto da programação para os mais novos da Fábrica das Artes e dois workshops de dança.
Mas antes de dia 26 de Abril já o CCB estará decorado com detalhes da pintura de Bosch do século XV. É que a 10 de Abril inicia-se uma secção de cinema sob o lema Sete Pecados Mortais e também conferências. A 21 de Abril decorrerá o Festival Jovem, com a apresentação de agrupamentos jovens, entre orquestras juvenis, como a OJ.Com, e escolas de música. É ainda a pensar nos jovens que o CCB dedicará esse dia à causa dos estudantes sírios, juntando-se à Associação Plataforma Global para os Estudantes Sírios, criada pelo ex-Presidente da República Jorge Sampaio, para a angariação de fundos para bolsas de estudos superiores a refugiados.
Luísa Taveira, da administração do CCB, explicou que foi concretizada uma parceria entre os Dias da Música e aquela associação, no sentido de serem disponibilizados através de um donativo directo mil bilhetes, 200 por concerto. Jorge Sampaio, que criou a associação em 2003, realçou a importância do apoio, lembrando que a Síria, apesar da ditadura, tinha um ensino superior muito significativo antes de a guerra irromper e, mesmo com o conflito já em curso, “25% dos jovens entre os 18 e 25 anos frequentavam o ensino universitário ou o politécnico”, recordou.
Para Os Dias da Música em Belém foram postos à venda 20.770 bilhetes.