Partido Democrata confiante numa vitória na "Pensilvânia de Trump"

Eleitores do 18.º Distrito escolhem esta terça-feira quem vão mandar para a Câmara dos Representantes, numa zona onde Trump esmagou Clinton em 2016.

Foto
Conor Lamb evita tocar no nome do Presidente norte-americano Reuters/BRENDAN MCDERMID

A primeira grande batalha eleitoral deste ano nos Estados Unidos tem lugar esta terça-feira, e logo num sítio onde Donald Trump bateu Hillary Clinton por uns esmagadores 19 pontos nas presidenciais de 2016. Mas, desta vez, os eleitores do 18.º Distrito, na Pensilvânia, vão decidir quem irá representá-los na Câmara dos Representantes, e o Partido Democrata chega ao dia decisivo com grandes possibilidades de causar uma surpresa.

No 18.º Distrito, esta terça-feira, a luta é entre o favorito Rick Saccone, um antigo oficial da Força Aérea de 60 anos que está a tentar manter o lugar para o Partido Republicano; e Conor Lamb, um antigo marine de 33 anos que está a tentar deixar o país de boca aberta com uma vitória do seu Partido Democrata. Num distrito eleitoral onde há muita população que trabalha na indústria, e que é sindicalizada, o historial de votação contra os direitos laborais de Saccone levou os sindicatos a apoiar o candidato democrata.

Mas é inevitável que os olhos estejam virados para Novembro, quando os eleitores de todos os estados norte-americanos forem às urnas para escolherem a composição do próximo Congresso, para o biénio 2019-2021: Se Rick Saccone vencer esta terça-feira de uma forma confortável, o Partido Democrata perderá uma grande oportunidade para cavalgar a promessa de uma "onda azul" em Novembro.

Mas se as sondagens mais recentes se vierem a revelar certeiras, e Conor Lamb causar uma surpresa, então o Partido Republicano terá de explicar porque perdeu a primeira eleição após a reforma fiscal e o anúncio da subida das taxas alfandegárias para o aço e alumínio, e logo numa zona da Pensilvânia onde as minas de carvão e as fábricas ainda são uma das principais fontes de emprego.

Foto
O favorito é o republicano Rick Saccone Brendan McDermid/REUTERS

Corrida especial

Numa situação normal, a escolha da próxima figura a representar o 18.º Distrito da Pensilvânia também só deveria ocorrer em Novembro, mas este ano houve dois acontecimentos que alteraram o curso natural desta história.

Por um lado, o homem que ocupava essa posição desde 2003, o republicano Tim Murphy, demitiu-se no final do ano passado, depois de ter sido revelado que encorajou a sua amante a abortar, apesar de ser um dos maiores críticos do aborto; por outro lado, o Supremo Tribunal da Pensilvânia decidiu, em Janeiro, que o 18.º Distrito deve ser redesenhado para as eleições de Novembro porque o mapa actual favorece injustamente o Partido Republicano – os republicanos recorreram dessa decisão, mas é quase certo que o distrito vai desaparecer para dar lugar a dois novos distritos.

E este ponto do mapa eleitoral é importante para uma análise sobre o resultado desta terça-feira.

Uma vitória de Conor Lamb, ou mesmo uma derrota por uma curta margem, deixará o Partido Democrata eufórico e muito confiante para a tarefa de roubar a maioria na Câmara dos Representantes ao Partido Republicano, em Novembro.

Um bom resultado democrata neste distrito da Pensilvânia significa que foi possível estimular a sua base de apoio numa daquelas zonas esquecidas e deprimidas do chamado Rust Belt (determinante para a vitória a Trump em 2016), e mudar o sentido de voto de outros eleitores, num distrito que não só preferiu Trump de uma forma avassaladora nas presidenciais, há menos de um ano e meio, como, de acordo com o Supremo da Pensilvânia, está injustamente desequilibrado para o lado do Partido Republicano.

O candidato centrista

Como em outras situações semelhantes, é difícil perceber até que ponto um bom resultado do Partido Democrata nestas condições anuncia um grande resultado em Novembro: se mais por causa de uma suposta onda anti-Trump, ou por causa das qualidades do candidato.

O que se pode dizer é que no caso do 18.º Distrito da Pensilvânia pode ser uma mistura dos dois factores.

Apesar de terem apoiado Trump em 2016, a maioria dos eleitores do distrito ainda está inscrita no Partido Democrata, fazendo parte do gigantesco grupo de desiludidos que se foi aproximando do Partido Republicano na última década por não se rever numa versão mais progressista e liberal pós-Bill Clinton.

De acordo com as estruturas locais do Partido Democrata, muitos desses eleitores estarão a regressar ao partido nos últimos meses, porque o candidato Conor Lamb não representa essa versão mais progressista e liberal.

Durante a campanha, Lamb evitou falar sobre Donald Trump e apoiou o aumento das taxas alfandegárias do aço e do alumínio anunciadas pela Casa Branca. E (talvez mais importante do que tudo isso para os eleitores democratas mais conservadores) disse que não votará em Nancy Pelosi para um novo mandato como líder dos democratas na Câmara dos Representantes – Pelosi é extremamente impopular em zonas como a desta eleição.

Conor Lamb é o expoente máximo da estratégia defendida pelos centristas do Partido Democrata para vencer as eleições em Novembro: em zonas do país mais liberais e progressistas, cavalgar o ódio a Donald Trump e a tudo o que ele representa; em zonas mais conservadoras, apostar em figuras que salientem mais o que as une a quem votou no actual Presidente.

Em contracorrente com o seu partido, Lamb não defende medidas fortes de controlo das armas – e a sua ideia de que os criminosos e as pessoas com problemas mentais não devem ter acesso a armas só foi transmitida nos últimos dias da campanha.

A somar a todas as razões que puseram o 18.º Distrito novamente em jogo para o Partido Democrata, de forma surpreendente (em 2014 e 2016, por exemplo, o partido nem sequer apresentou um candidato), está a fragilidade do candidato do Partido Republicano, Rick Saccone, sublinhada pelo Presidente Trump, que raramente disse o nome do candidato durante um comício de apoio na Pensilvânia.

Esta terça-feira, Donald Trump partilhou uma mensagem de apoio a Rick Saconne no Twitter, mas centrou-a no seu próprio trabalho na Casa Branca: "A economia está em grande, num nível nunca visto, e ainda vai ficar melhor. Os empregos e os salários estão a subir. Votem no Rick Saccone e mantenham essa tendência!"

Sugerir correcção
Comentar