“A Polónia tem um risco? Tem, mas não é muito grande”

Em 22 anos, a cadeia polaca Biedronka da Jerónimo Martins cresceu para vendas de 11,05 mil milhões. No caso da Hebe, o modelo de negócio de crescimento, e se é exportado além do mercado polaco, ainda está por definir.

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Pedro Soares dos Santos, presidente e admnistrador-delegado da JM SGPS Rui Gaudêncio

No grupo desde 1995, a rede de discount Biedronka representou 68% das vendas da Jerónimo Martins em 2017. Em termos de EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi 87% do consolidado pelo grupo no mesmo ano. É um risco, “mas não muito grande”, acredita Pedro Soares dos Santos, líder do grupo de distribuição.

Já a expansão na América Latina, que arrancou em 2013, está restringida, no futuro próximo, à Aliança do Pacífico, reafirma – além da Ara na Colômbia, os mercados a analisar são México, Peru e Chile.  Da fronteira da Venezuela, onde tem uma loja a pedido do Governo de Bogotá, vêm ecos de “miséria”. “Como é que se pode deixar um povo à fome, com falta de medicamentos, de comida, necessidades básicas, que têm de atravessar a fronteira para os ir buscar? Um país que podia ter tudo.”

Na Polónia, aumentaram o salário em 6%?
O último foi 6%, mas é na base de alguns que têm vindo a ser feitos nos últimos anos. No total [em dois anos] deve andar à volta de 15% ou 20%. Ou mais.

Isso deve-se à falta de mão-de-obra?
À falta de mão-de-obra e à boa rentabilidade que a companhia tem. É uma mistura dos dois. Se a rentabilidade aumenta, também se partilha. A pressão de falta de mão-de-obra é desde os últimos seis meses. Há menos gente. Os polacos continuam a emigrar muito. E a reformarem-se mais cedo. Estamos com uma carência de mais de 5000 pessoas.

E isso complica a vossa expansão?
Não, até agora não. Mas tem de se ter cuidado.

A questão dos domingos [encerramento do comércio, desde 1 de Março] é algo com que já não tinham que lidar há muito tempo. Porque em Portugal este é um problema já resolvido. É todo o comércio?
Exactamente. Mas não é só a nossa [área], são todos.

Não viu isto como uma medida proteccionista do comércio tradicional polaco, que continua a ser dominante?
Não. É acreditar numa forma de estar da vida diferente. Mas tudo bem, aceita-se.

Tem que ver, essencialmente, com tempos de descanso, é isso?
Não, tem que ver com a sociedade acreditar que o domingo não é para se fazer determinadas coisas, mas é para se fazer outras.

Mas se fosse em Portugal se calhar não via com tanta bonomia, não?
Se fosse para todos, é o que é.

É tudo uma questão de ser igual para todos?
Exactamente. É tudo uma questão de igualdade. As pessoas depois vão reajustar os padrões de consumo. Tem mais que ver com a comunidade, com uma escolha individual, do que propriamente com a operação retalhista.

Falando de proteccionismo, ou não, é mais complicado ser um operador de distribuição estrangeiro na Polónia desde 2015?
Não. Até ver, não.

Não houve alterações de maior para vós?
Não, não houve.

A Polónia é 68% das vendas e 80% do EBITDA [do grupo]. Não tem receio que se veja como demasiado risco num mercado?
Tem um risco. Por isso mesmo estamos agora a desenvolver outros mercados.

Está a falar da Colômbia, ou a pensar já num quarto [mercado de expansão para a JM]?
Estou a falar da Colômbia. Este é o mercado que escolhemos agora para desenvolver.

Portanto, o risco, eventual, de estar com tanto peso no mercado polaco …
Bem, é um risco, não é um grande risco. Quando se está num país que tem três vezes mais a população portuguesa isto impacta em todos os números, quer se queira, quer não. Temos que ter uma política de equilíbrios, mas essencialmente continuar a crescer — o mercado escolhido foi o colombiano e é aí que vamos tentar que se torne um sucesso.

Mas a América Latina…
Não é a América Latina. É a Aliança do Pacífico [Chile, Colômbia, México e Peru]. Fomos sempre muito claros que a América Latina para a qual olhamos é a Aliança do Pacífico, que é uma América Latina diferente.

Porquê diferente?
São Pacífico. São diferentes. Têm um Estado de direito completamente diferente dos outros. (...)

Porque têm Estado de direito?
Sim. Têm um olhar para a iniciativa privada como um bem. Como uma necessidade. E essencialmente são países que têm orgulho, têm uma aceitação do investimento estrangeiro como uma coisa muito bem-vinda. E isso vale a pena. E, depois, têm população e têm consumo. Têm políticas estáveis fiscais e de trabalho, e gostam do investimento estrangeiro.

E não fazem depender do break-even da Ara na Colômbia, em 2020, para irem para outro mercado?
Não, não fazemos.

E, entretanto, demonstraram vontade, caso haja oportunidades, em crescer sem ser organicamente?
A nossa base é orgânica. Se podermos juntar pequenas cadeias de retalho locais, que possam entrar na nossa filosofia de negócio, não temos problemas com isso. Tal como temos já feito. São lojas individuais – duas, três. De resto não há nenhuma empresa, próxima, interessante.

A questão do petróleo de que falou na apresentação de resultados – da desvalorização do petróleo e da indexação da economia colombiana [ao petróleo] – preocupa-vos?
Nesta fase que temos prejuízos, a indexação só ajuda, sob o ponto de vista de investimento e de redução de prejuízos. Agora, é um país que vai ter de encontrar uma alternativa de crescimento e de construção de uma base sólida de emprego e de economia já não tão assente no petróleo ou no carvão, mas sim noutras áreas. Isso é muito bom para um país.

Diversificar?
Sim. Estas crises, para os países que sabem aproveitar as oportunidades vai ser muito bom.

E acha que a Colômbia está apta a aproveitar?
Acho que a Colômbia percebeu isso. Percebeu a importância do processo de paz, e o que podia fazer, percebeu que pode ser um grande país agrícola, exportador, e percebeu que realmente vale a pena criar um novo mundo para ter um equilíbrio com o petróleo para não ter estas oscilações, que no final não são eles que comandam, são comandados.

A Venezuela, que efeito poderá ter na economia colombiana e eventualmente colateral na vossa actividade?
Na nossa actividade não tem muito efeito colateral. Mas na economia colombiana tem, porque há mais de 1,5 milhões de venezuelanos que atravessaram a fronteira e que neste momento trabalham na Colômbia. E isto cria uma instabilidade imensa para os sistemas de Segurança Social e no mercado da lei da oferta e da procura e na parte habitacional.

Têm uma loja perto [da Venezuela], não têm?
Mesmo na fronteira. Em Cúcuta.

Que percepção têm do que está a acontecer?
Que é uma miséria o que se passa na Venezuela. Como é que se pode deixar um povo à fome, com falta de medicamentos, necessidades básicas, e que têm de atravessar a fronteira para os ir buscar? Um país que podia ter tudo.

O que vendem nessa loja?
Vendemos os produtos básicos: arroz, farinha, fraldas. Coisas muito básicas. Vê-se que as pessoas atravessam a fronteira à procura de coisas muito básicas. É horrível. Vê-se que é gente com fome.

Nessas zonas não têm mais nenhuma unidade. Abriram só para dar apoio?
Nós abrimos aquela unidade a pedido do Governo colombiano, há mais de um ano. Mas claro, quando o Governo da Venezuela decide fechar a fronteira, a loja fecha.

Do ponto de vista de rentabilidade não abririam uma loja ali?
Não. Não teria sido a nossa prioridade, se não fosse um pedido da ministra dos Negócios Estrangeiros da Colômbia, que pediu a todos os retalhistas que ajudassem a combater a fome do lado de lá, para apoiar esta gente que tem grandes necessidades. Nós nunca teríamos ido para lá. Até porque de carro de Bogotá a Cúcuta são 14 horas. E está longe da operação. O armazém mais perto está a 18 horas. Não há sinergias, não há nada.

Das 19 localizações [adquiridas à cadeia Tía, em 2017] vão ficar com todas?
Vamos manter todas.

Voltando à Polónia: o que é que vão fazer com a Hebe?
Ah, vamos expandi-la. Para onde houver oportunidades.

E quando é que vão “exportá-la”?
Agora estamos a desenvolver um trabalho nessa área, de crescimento. De tornar a Hebe numa grande companhia, em termos de facturação, especializado nesta área [health & beaty, em formato de parafarmácias].

Não está a pensar em alianças nem em sinergias com outros grupos?
Não. Até agora não.

Mas para exportar a Hebe, será já este ano?
Não, o modelo da Hebe ainda não está decidido se exporto ou não. Está decidido crescer. O país [Polónia] é muito grande, podemos acelerar a expansão.

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