Pedro Sobrado promete “continuar” missão do Teatro Nacional São João
Novo presidente diz que é premente ter um núcleo de actores contratado à temporada. Secretário de Estado da Cultura anunciou contratos-programa para os teatros nacionais para a próxima semana.
Pedro Sobrado, o novo presidente do conselho de administração do Teatro São João (TNSJ), prometeu continuidade para o seu mandato à frente do teatro nacional portuense. “Porque hoje não começamos coisa nenhuma: hoje continuamos”, disse o editor, dramaturgista e professor, que, no final do ano passado, foi anunciado como sucessor de Francisca Carneiro Fernandes à frente da instituição.
O TNSJ teve casa cheia – leia-se: salão nobre – na tarde deste sábado, para a cerimónia de tomada de posse da nova administração, na qual Sobrado está acompanhado pela advogada Sandra Martins e pela gestora Susana Marques.
O Porto teatral (e não só) deslocou-se em peso até ao edifício quase centenário na Praça da Batalha para acompanhar a passagem de testemunho, numa sessão que contou com as presenças do secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, e de Rui Moreira, presidente da autarquia. E em que se ouviram vários recados, endereçados aos responsáveis políticos e a outras instituições.
“A História deste Teatro Nacional São João não começa connosco – e estamos gratos por isso. Continuamos essa História, libertos da risível pretensão de ‘fazer’ História”, disse Sobrado numa cerimónia também marcada por muitos elogios – com o encenador Ricardo Pais e o director de produção Salvador Santos sendo os mais lembrados – e alguma emoção.
Dados positivos e sacrifícios
A abrir, Francisca Carneiro Fernandes fez o balanço de 15 anos de trabalho, os últimos nove dos quais à frente da administração. Apresentou números, que testemunham os momentos de crise por que passou o TNSJ nos anos da ‘troika’: diminuição da subvenção estatal, cortes na equipa de trabalhadores do teatro; a que contrapôs resultados positivos, como o aumento de récitas, de espectadores e de taxa de ocupação dos três palcos que actualmente são geridos pelo teatro nacional.
Mas a ex-presidente lembrou também, e lamentou, “o sacrifício da produção própria”. E deixou o repto de que ela “volte a ser o coração desta casa de espectáculos”, mesmo que isso signifique a diminuição das récitas anuais. Voltou também a defender a constituição, se não de um elenco próprio, a “contratação de actores por uma temporada”.
Já Pedro Sobrado, no horizonte do seu mandato, disse que bem gostaria de poder garantir a reconstituição daquilo a que, há uns anos, humoradamente chamavam o “elenco ‘quase’ residente, e que conhecidos cortes orçamentais vieram desagregar”. E referiu também a "premência" de um teatro de arte, como o São João, "dispor de um núcleo de actores contratado à temporada".
Olhando para o futuro, o novo responsável alinhou algumas prioridades da sua equipa: celebrar, em 2020, o centenário do teatro projectado por José Marques da Silva reavaliando o estado do edifício; concluir o restauro do Mosteiro de São Bento da Vitória e redefinir a estratégia da sua missão; repensar a internacionalização do teatro; e dar novo fôlego às edições, ao Centro de Documentação e ao Serviço Educativo.
Financiamentos a anunciar
Rui Moreira disse ver em Pedro Sobrado a pessoa “talhada” para a missão do TNSJ. Também elogiou “a capacidade de ouvir e de procurar entender” do actual Governo” relativa às questões da cultura, mas não desperdiçou a oportunidade de lançar alguns recados – “Temos de estar atentos aos lobos com pele de cordeiro” – ao Tribunal de Contas, que recentemente chumbou a pretensão da Câmara do Porto de criar uma empresa municipal de gestão cultural – para a direcção da qual, de resto, Rui Moreira já convidara Francisca Carneiro Fernandes.
A concluir a sessão, o secretário de Estado da Cultura lembrou que “o TNSJ fez sempre do futuro a sua matriz e o seu património”, e elogiou “a criatividade e capacidade de resiliência” da sua equipa.
Sobre a possibilidade de o teatro nacional portuense reconstituir o seu “elenco ‘quase’ residente”, Miguel Honrado lembrou que o seu Governo está a “reconduzir o financiamento do teatro a níveis de 2009”. E anunciou, já para a próxima semana – “ultrapassada que está uma questão fiscal”, notou – a apresentação dos contratos-programa para os teatros nacionais e para o Opart (que gere o São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado). Uma medida que considera “fundamental para a planificação da actividade destas instituições”.