Esta Maria não é nenhuma Madalena

Voltar aos tempos da blaxploitation é uma ideia com graça, mas Proud Mary é um desastre absoluto.

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Num momento em que Hollywood está disposta a apostar em heroínas de acção (Charlize Theron no Atomic Blonde ou Alicia Vikander na Lara Croft que aí vem), usar a seu favor as boas memórias da blaxploitation dos anos 1970, e de divas de culto como Pam Grier ou Tamara Dobson, não é mal pensado.

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No papel, esta Proud Mary, a que Taraji P. Henson (a Cookie da série Empire) procura dar uma dimensão ao mesmo tempo maternal e gélida, cumpre o caderno de encargos: é uma temível assassina contratada de uma família mafiosa negra de Boston, que decide ajudar um puto órfão a fugir ao futuro de crime que lhe parece estar anunciado. Os problemas de Mary começam aí, mas o problema do filme é outro: estamos permanentemente a lembrar-nos da Gloria de John Cassavetes, onde a antiga amante de um mafioso decide proteger o filho de um casal de informadores.

A história de Proud Mary é a mesma — a mulher de armas que parte em guerra contra tudo e contra todos quando os seus instintos maternais se agigantam — mas o iraniano Babak Najafi (Assalto a Londres) não é Cassavetes nem nada que se aproxime. Passa dois terços do filme a construir um drama policial de mafiosos que multiplica personagens sem lhes dar sequer hipótese de existir. Nos últimos 20 minutos, decide dar a Henson a possibilidade de demonstrar os seus dotes mortíferos, numa sequência filmada e montada com os pés, sonorizada pela Proud Mary dos Creedence Clearwater Revival segundo Tina Turner metida a martelo só para justificar o título.

Os filmes de blaxploitation não eram obras-primas mas eram feitos com um bocadinho mais de cuidado do que esta oportunidade perdida por pura incompetência, que tem ainda por cima todo o ar de ter sido retalhada durante a montagem. A evitar.

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