Londres suspeita que Moscovo tentou matar ex-espião com gás de nervos

Autoridades confirmam que o caso de Skripal está a ser tratado como "tentativa de homicídio”. Pai e filha estão em estado considerado crítico.

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Skripal foi condenado em 2006 a 13 anos de prisão na Rússia por passar informações aos serviços secretos britânicos LUSA/YURY SENATOROV

O departamento de contraterrorismo britânico confirmou na tarde desta quarta-feira que o incidente que levou a que o antigo espião russo, Sergei Skripal, e a sua filha, Yulia, ficassem em estado crítico está a ser tratado com um caso de tentativa de homicídio através de um gás de nervos. A comunicação social britânica diz ainda que as autoridades suspeitam que Moscovo está por detrás do crime.

O líder do departamento de contraterrorismo britânico, Mark Rowley, revelou, numa conferência de imprensa, que as autoridades acreditam que as duas vítimas foram atingidas de forma específica.

“Posso confirmar que acreditamos que as duas pessoas que ficaram mal [de saúde] foram especificamente atingidas”, afirmou, acrescentando que um polícia, que foi o primeiro a chegar ao local onde estavam Sergei e Yulia, está também internado em estado grave.

No domingo, Sergei, de 66 anos, e a filha Yulia, de 33, foram encontrados inconscientes num centro comercial na cidade britânica de Salisbury, onde o russo reside desde 2011. Estão ambos em estado crítico por aquilo que a polícia começou por descrever como “exposição a substância desconhecida”.

“Em resumo, isto está a ser tratado como um incidente envolvendo uma tentativa de homicídio através da administração de um agente nervoso”, revelou agora Rowley, sem avançar com pormenores sobre a substância em causa.

Estas revelações confirmam notícias anteriores do Guardian e do Sun que avançaram, citando fontes não identificadas, que ambos tinham sido envenenados. Além disso, o Sun deu conta de que a substância em questão era muito rara e que poucos laboratórios no mundo têm capacidade de a produzir. Na base desta convicção estão provas médicas e químicas e os sintomas nas vítimas. 

Também a Reuters e o The Times noticiam que as autoridades, nomeadamente a polícia britânica e o MI5 (os serviços de informação internos do Reino Unido), suspeitam que a Rússia tentou assassinar o antigo agente.

Skripal é um antigo espião que foi condenado na Rússia, em 2006, a 13 anos de prisão por passar informações aos serviços secretos britânicos. Em 2010, o Reino Unido concedeu-lhe asilo depois de ter sido perdoado pelo então Presidente russo, Dmitri Medvedev, e de uma “troca de espiões” entre Moscovo e Washington. Foi um dos quatro prisioneiros libertados em troca da libertação de dez outros espiões então detidos nos Estados Unidos.

A confirmar-se a responsabilidade da Rússia, seria, pelo que se sabe, a primeira vez que o Kremlin tentaria matar um espião libertado depois de uma troca. Além disso, também de acordo com as informações disponíveis, seria a primeira vez que o filho de um alvo seria atingido desde o assassinato do filho de Leon Trotski em 1937, durante o domínio de Estaline.

As suspeitas que começam a pairar sobre o estado de saúde de Skripal são as mesmas que ainda hoje rodeiam as circunstâncias da morte de Alexander Litvinenko. Este antigo agente do KGB chegou ao Reino Unido em 2000 e, seis anos mais tarde, foi hospitalizado depois de beber um chá que continha polónio- 210 (um elemento radioactivo raro e cujo acesso normalmente é apenas reservado a entidades estatais). Litvinenko acabaria por morrer em Novembro de 2006.

Apesar de a investigação à sua morte nunca ter sido concluída, um inquérito público concluiu com algum grau de certeza que Moscovo esteve por detrás do homicídio de Litvinenko e que, “provavelmente”, foi o Presidente russo, Vladimir Putin, quem o aprovou.

 

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