Refugiados nas cidades italianas estão “longe da vista e excluídos do direito”
Médicos Sem Fronteiras denunciam as condições de vida desumanas em que se encontram milhares de pessoas.
A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) calcula que actualmente sejam dez mil os refugiados e requerentes de asilo a sobreviverem em Itália, “totalmente excluídos dos dispositivos de direito comum”. Face a um “sistema de acolhimento saturado e na ausência de solidariedade de outros Estados europeus, Itália conhece hoje uma situação inédita onde estas pessoas não podem ver assegurados os seus direitos nem conseguem viver dignamente”, escreve a associação num relatório com muitos testemunhos intitulado Longe da Vista.
Turim, Milão, Florença, Roma, Foggia, ou nas cidades de fronteira como Bolzano, em todo o lado os MSF encontrarem pessoas que descrevem como “invisíveis”. Vivem em casas ocupadas ou em campos improvisados de tendas; metade dos visitados pela organização não tem acesso a água ou electricidade. Há “lugares improváveis” ocupados só por homens, enquanto noutros sítios sobrevivem “mulheres sozinhas ou mesmo famílias com crianças pequenas”.
A MSF explica que esta situação é o resultado dos inúmeros despejos forçados que se multiplicaram nos últimos meses, forçando estas pessoas a juntarem-se em grupos dispersos e a “viver em condições extremas sem acesso a cuidados médicos ou serviços sociais”.
Os investigadores dos MSF encontraram principalmente somalis, sírios, iraquianos, paquistaneses e afegãos, ou seja, pessoas “que possuem um estatuto de protecção mas não conseguem encontrar alojamento ou emprego estável”. O relatório vem confirmar os testemunhos recolhidos por várias associações suíças que se opõem aos reenvios de pessoas para Itália – se este tiver sido o país de entrada de um requerente de asilo, a lei europeia dita que é nele que tem de se fazer o pedido.
Para Gabriele Eminente, director-geral dos Médicos Sem Fronteiras e italiano, o sistema de acolhimento em Itália “deve ser completamente reformado”. O sistema actual “apoia-se quase exclusivamente nos centros de acolhimento extraordinários improvisados para urgências e preparados para funcionarem durante curtos períodos”, descreve. Para piorar a situação, “estes centros são geridos por pessoas sem experiência, o que também tem de mudar”.