Morreu Artur Costa Correia, pioneiro do cinema de animação português
Com um percurso que também passou pela banda desenhada, a obra do primeiro cineasta português premiado em Annecy marca de forma indelével vários momentos da história do cinema de animação nacional.
O cineasta Artur Costa Correia, pioneiro do cinema de animação português, distinguido este ano pela Academia Portuguesa de Cinema com o Prémio Carreira Sophia 2018, morreu na quinta-feira, aos 85 anos. Foi o primeiro cineasta português a ser distinguido no maior festival de cinema de animação do mundo em Annecy, França.
Segundo a informação divulgada pelo Cine Clube de Avanca, em cujos estúdios de animação foi produzida a série História a Passo de Cágado, a obra de Artur Costa Correia "marca de forma indelével vários momentos da história do cinema de animação português".
Artur Costa Correia iniciou-se na animação, nos anos 60, e logo em 1967 foi distinguido no Festival de Annecy, onde o seu filme O Melhor da Rua ganhou o Prémio Melhor Filme Publicitário. Quatro anos depois, entrava diariamente em casa de todos portugueses: era ele que dava forma à Família Pituxa, que na RTP cantava as boas noites às crianças do país.
Os filmes de Artur Costa Correia receberam várias distinções, nomeadamente no campo do cinema de animação publicitário, tendo sido laureados com prémios em Veneza, Cannes, Hollywood, Bilbau, Nova Iorque (1968 e 1969), Argentina (1970), Tomar (1981) e Lugano (1983). Em 1970 realizou Eu Quero a Lua, que, segundo o Cine Clube de Avanca, "parece ser o primeiro filme português de desenho animado destinado ao grande público".
Marcante no seu percurso seria O Romance da Raposa, adaptação da obra homónima de Aquilino Ribeiro, criada com Ricardo Neto. Grande sucesso junto do público, a primeira série de animação portuguesa deixou a Salta-Pocinhas gravada na memória da geração que a acompanhou desde a estreia em 1988. A série foi criada no seio da Topefilme, o estúdio de animação que co-fundara com Ricardo Neto, entre outros, na década de 1970, e através da qual dirigiu um episódio de Jackson Five, série de animação produzida entre 1971 e 1972 por Robert Balser (responsável pela animação de Yellow Submarine, dos Beatles) e que tinha como protagonistas os membros da banda que revelou o então muito jovem Michael Jackson.
Atraído para o desenho pela banda-desenhada, levado para o cinema de animação por influência, muito jovem, do cinema clássico da Disney, tinha no humor, na História e nos contos tradicionais portugueses as suas grandes motivações criativas. Disso são exemplo, na banda desenhada, História Alegre de Portugal e Super-Heróis da História de Portugal, este premiado como Melhor Álbum no Amadora BD 2005, ou, no cinema de animação, o supracitado O Romance da Raposa e A Nau Catrineta (2012), o seu último filme, baseado no álbum também por si assinado e adaptado do Romanceiro de Almeida Garrett.