Venda da Weinstein Company falha e produtora opta por declarar falência
Harvey Weinstein, fundador da produtora de filmes como Pulp Fiction ou O Discurso do Rei, é acusado de abuso sexual por mais de 80 mulheres.
O conselho de administração da Weinstein Company anunciou este domingo que o estúdio de cinema sediado em Nova Iorque vai declarar falência. A empresa de produção e distribuição cinematográfica vai apresentar um pedido de insolvência depois de um acordo de compra da produtora no valor de 500 milhões de dólares (406,6 milhões de euros ao câmbio actual) com um grupo de investimento não se ter realizado.
Harvey Weinstein, co-fundador da empresa e outrora um dos homens mais influentes de Hollywood, é o centro de escândalo desencadeado por investigações do New York Times e da New Yorker, que denunciaram os primeiros casos de mais de 80 mulheres que alegam terem sido assediadas ou violadas pelo produtor. Weinstein foi despedido em Outubro, negando contudo todas as acusações.
O grupo de investimento — liderado por Maria Contreras-Sweet, que trabalhou junto da Administração de Barack Obama — viria a ter o controlo total da Weinstein Company e pretendia renovar o conselho de administração, para o qual previa um maior número de mulheres. Para além disso, o acordo incluiria a criação de um fundo de 40 milhões de dólares para compensar as vítimas que acusaram Harvey Weinstein de assédio e abuso sexual. A oferta era também apoiada pelo milionário Ronald Burkle e pela empresa de capital privado de Dallas Lantern Asset Management.
Numa carta enviada a Contreras-Sweet e Burkle, a administração da produtora cinematográfica acusa o grupo de investimento de falhar inviabilizar um acordo que incluísse um resgate financeiro, pelo que a única opção viável que entendem existir para maximizar o valor remanescente da empresa será prosseguir com um processo de falência. "A Weinstein Company tem estado envolvida num processo de venda activa com a esperança de preservar activos e postos de trabalho. Hoje, essas discussões terminaram sem um acordo assinado", informou a administração num comunicado divulgado por jornais como o San Francisco Chronicle e o Los Angeles Times.
As negociações falharam depois de o procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman, ter apresentado uma acção judicial contra a Weinstein Company e os seus fundadores por sérias violações dos direitos civis, humanos e das leis empresariais. O estado de Nova Iorque instaurou o processo no seguimento de uma investigação de quatro meses devido às denúncias de assédio sexual contra Weinstein feitas por funcionárias da empresa e actrizes de Hollywood, incluindo Salma Hayek e Uma Thurman. A procuradoria acusa a administração da empresa de ter sido incapaz de proteger as funcionárias. Eric Schneiderman anunciou ainda que a potencial venda da empresa poderia acabar por beneficiar os perpetradores dos alegados crimes.
No processo, que foi arquivado já este mês pelo Tribunal Supremo do condado de Nova Iorque, lê-se que a Weinstein Company criou "um ambiente de trabalho hostil baseado no género durante anos, um padrão de assédio sexual e uso indevido de recursos corporativos para fins ilegais que se estendeu desde 2005, pelo menos até cerca de Outubro de 2017".
O advogado de defesa de Harvey Weinstein, Benjamin Brafman, disse então que uma investigação justa por parte do procurador-geral demonstrará que muitas das alegações são infundadas, acrescentando que, “embora o comportamento do sr. Weinstein não fosse livre de culpa, certamente não havia natureza criminal e, no final do inquérito, será claro que Harvey Weinstein promoveu mais mulheres para cargos executivos importantes do que qualquer outro líder da indústria e não houve discriminação nem nos estúdios Miramax ou The Weinstein Company”.
A empresa Weinstein Company foi fundada em 2005 pelos irmãos Harvey e Robert Weinstein, que em 1979 tinham já fundado os estúdios Miramax. As acusações contra Weinstein ajudaram a levantar a questão do abuso sexual na indústria cinematográfica americana, tendo este escândalo desencadeado os movimentos Time’s Up e #MeToo contra o assédio sexual.
Alguns dos filmes de sucesso produzidos por Harvey Weinstein incluem Pulp Fiction (1994), Os Oito Odiados (2015), Sacanas Sem Lei (2009), e Django Libertado (2012), filmes realizados por Quentin Tarantino. Para além disso, também os filmes A Paixão de Shakespeare (1998), O Discurso do Rei (2010) e Guia Para Um Final Feliz (2012) figuram na sua filmografia.