Com o S9, a Samsung quer copiar o olho humano
O foco dos dois novos smartphones está numa câmara inteligente, que tira fotografias no escuro, reconhece o dono e transforma-o num boneco.
Há dois novos telemóveis topos de gama no mercado: este Domingo, a Samsung apresentou, oficialmente, as suas mais recentes criações (o Galaxy S9 e o S9+) em Barcelona, a um dia da abertura do Mobile World Congress. Depois de lançar três smartphones de topo em 2017, a fabricante sul-coreana escolheu o palco da maior feira de tecnologia do mundo para convencer os consumidores das novidades. O Galaxy S9 vai custar 869,99 euros, e o S9+ custará 969,99 euros (são cerca de 50 euros a mais que o S8 e o S8+).
Visto de frente, o novo Galaxy S9 confunde-se com o seu antecessor: um visual minimalista, com um ecrã que ocupa toda a parte frontal do telemóvel de 5,8 polegadas. Acrescenta, porém, uma câmara com lentes que simulam o olho humano para fotografar ambientes mais escuros, permitem filmar em super slow motion, transformam o dono num boneco animado (a resposta aos Animoji da Apple), e ajudam a assistente virtual da marca a identificar um local, traduzir textos e até contar calorias. A tecnologia da Dolby Atmos permite ouvir sons a 360º.
"Reimaginámos a câmara do smartphone", frisou DJ Koh, presidente da secção de comunicação móvel da Samsung, ao subir em palco. "Hoje, nada é mais importante do que a forma como imagens podem exprimir palavras. O telemóvel já não é para fazer chamadas. É para captar momentos fugazes."
A versão S9+ (com 6.2 polegadas, mais bateria e memória do que o parceiro) traz ainda o sistema de duas câmaras traseiras apresentado com o Galaxy Note 8 em Agosto – o objectivo é tirar fotografias em andamento sem ficarem desfocadas. Ao entregar qualquer telemóvel antigo, recebe-se um desconto nos novos.
Palavra ao consumidor
A marca diz que foram os consumidores a ditar a aposta na câmara, com 1,2 biliões de fotografias tiradas em 2017. A inspiração veio do olho humano, com uma lente que expande e contrai automaticamente a sua abertura consoante a luz, adaptando-se de forma natural ao ambiente como a iris. Tudo sem alterar os 8 megapixéis na câmara frontal, e 12 megapixéis na traseira. A empresa diz que o resultado são fotografias 28% melhores que as do antecessor, S8, em ambientes mais escuros e mais segurança a reconhecer a cara e iris de alguém (para desbloquear o telemóvel) independentemente da luz.
O uso social do telemóvel – ao criar versões animadas da cara do dono – também foi destacado. “A Samsung quer que as pessoas tenham um telemóvel mais pessoal e adaptado a elas. Agora, a câmara utiliza reconhecimento facial e realidade aumentada para criar um boneco que copia a aparência, emoções e as expressões do utilizador a falar”, disse ao PÚBLICO Nadya Ruseva, a gestora de produtos da Samsung para a Europa, durante uma pré-apresentação do telemóvel para jornalistas em Londres. Lembra o conceito de Animoji da Apple, apresentado com o iPhoneX em Setembro, mas a versão da Samsung, o AR Emoji, pode ser personalizada e funciona em aplicações de mensagens de terceiros como o Facebook Messenger e o WhatsApp.
Contrariamente a outros topos de gama no mercado, o S9 mantém a entrada para auriculares. Já o sensor de impressões digitais passa a estar na vertical (por baixo da lente da câmara traseira), para ser mais confortável de utilizar (a posição no S8 era das maiores críticas). Cada vez mais, o valor acrescentado está nos detalhes.
Só topos de gama
As vendas de smartphones estão a diminuir globalmente. Segundo a IDC, no último trimestre de 2017, foram vendidos menos 6,3% de unidades do que no período homólogo. “O mercado vai continuar a cair nos próximos dois a três anos”, diz ao PÚBLICO Francisco Jerónimo, analista da IDC em Londres. “Em geral, a indústria dos smartphones está a passar por uma transformação. Muitas pessoas já têm estes telemóveis e a maioria não vai mudar a cada três ou quatro meses.”
É a razão das marcas apostarem em modelos de topo. “Se os fabricantes não conseguem manter a receita com o volume, têm de o fazer através do preço dos aparelhos e isso obriga-os a ter funcionalidades inovadoras que justifiquem um investimento”, diz Francisco Jerónimo. O desafio é manter o nível de compra com preços altos. Apesar de se continuar a liderar nas vendas anuais de smartphone (depois da Apple e da chinesa Huawei), as vendas da Samsung desceram 4,4% no último trimestre de 2017 face ao período homólogo.
Uma das tendências é motivar as pessoas a investir em novos aparelhos com o chamado “modelo de substituição”. Por exemplo, em 2017, os antigos donos do fracassado Samsung Note 7 (que teve de ser recolhido do mercado devido a um defeito que levava algumas baterias a explodir), receberam um desconto até 400 euros ao trocarem o telemóvel pelo Note 8. Desta vez, qualquer telemóvel pode ser trocado por um desconto no S9 (o valor, até 400 euros, vai depender do modelo e da marca).
A partir de 2021, porém, com a popularização da tecnologia 5G e assistentes digitais inteligentes, a IDC prevê que o mercado volte a subir ligeiramente. E apesar de se ter atrasado face à competição, a Samsung também continua a investir na sua assistente. No S9 e S9+, a Bixby já traduz textos (como menus de restaurantes) directamente da câmara, e indica a quantidade de calorias num prato. “Os dados vão automaticamente para a aplicação de saúde da Samsung. Facilita a vida das pessoas que estão cada vez mais conscientes sobre a saúde”, diz ao PÚBLICO Morgan Evans, director da comunicação da empresa na Europa. A funcionalidade resulta de uma parceria com a Azumio que utiliza algoritmos para registar a nutrição de alimentos com base em imagens.
Resistente a pó e a água, e equipados com o Android Oreo 8.0, ambos os telemóveis vão estar disponíveis em lilás, preto, cinzento e azul. As pré-vendas já começaram, com o lançamento previsto para dia 16 de Março.
Até quinta-feira, dia 1 de Março, devem também surgir novos competidores no Mobile World Congress. A HMD Mobile, casa dos telemóveis Nokia, anunciou hoje quatro novos smartphones: o destaque vai para o Nokia 8 Sirocco (749 euros) que promete captar todos os detalhes graças aos sensores duplos traseiros. A Alcatel também apresentou novos aparelhos. Entre as características do modelo mais avançado, o Alcatel 5 (229,99 euros), está um leitor de impressões digitais que se transforma em botão para tirar selfies, e pode ser programado para abrir diferentes aplicações (em segurança) consoante o dedo utilizado.
O PÚBLICO esteve numa pré-apresentação do Galaxy S9, em Londres, a convite da Samsung.