Modernização da linha do Oeste encurta pouco as distâncias entre Caldas e Lisboa

Projecto de 107 milhões de euros aponta para 90 minutos o tempo de percurso entre as duas cidades quando há trinta anos a viagem se fazia em 98 minutos.

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rui Gaudencio

O Estudo de Impacte Ambiental da modernização da linha do Oeste prevê um investimento de 107 milhões de euros para electrificar os 88 quilómetros de via entre Meleças e Caldas da Rainha, duplicar 16 quilómetros, desnivelar passagens de nível e instalar sistemas de sinalização e comunicações modernos.

Mas após estas melhorias, os tempos de percurso referidos no projecto desiludem: a viagem entre Caldas e Lisboa demorará 1 hora e 30 minutos, o que significa menos oito minutos em relação aos tempos de trajecto que já se faziam nos anos oitenta.

O estudo, porém, refere uma redução de 40 minutos porque compara com os tempos actuais, em que os comboios demoram 2 horas e 10 minutos entre as duas cidades porque páram em todas as estações e apeadeiros.

Como se explica que, após um investimento de 107 milhões, a velocidade dos comboios não aumente significativamente? Carlos Fernandes, vice-presidente da Refer, reconhece que as simulações de velocidade não tiveram em conta comboios modernos, mas sim automotoras eléctricas da CP dos anos setenta. Se se tivessem em conta comboios do século XXI os tempos de percurso reduzir-se-iam significativamente, talvez para 1 hora e 20 minutos entre Caldas e Lisboa, de acordo com Carlos Fernandes.

A CP, porém, contactada pelo PÚBLICO, diz que não foi ouvida neste processo. Fonte oficial da transportadora diz que “não existe registo de a CP ter sido abordada sobre horários na Linha do Oeste após intervenção da Infraestruturas de Portugal nessa linha no âmbito deste Estudo de Impacte Ambiental”.

Com os autocarros da Rede de Expressos a fazerem a mesma viagem pela A8 em 1 hora e 10 minutos, a competitividade do comboio fica muito aquém do que seria de esperar após a modernização da linha. O responsável da Refer salienta que o investimento não se justifica só pelo aumento da velocidade, mas também pela segurança (eliminação de 14 passagens de nível, substituídas por atravessamentos aéreos ou subterrâneos) e pela componente ambiental. Esta última, aliás, foi decisiva para a obtenção de financiamento comunitário pois a electrificação da linha reduz custos energéticos, contribui para a descarbonização da economia e diminui o nível de ruído.

O projecto prevê a duplicação da linha entre Meleças e Pedra Furada numa extensão de dez quilómetros e de um troço de seis quilómetros entre Malveira e Sapataria. Ambos vão permitir maior fluidez do tráfego ferroviário ao permitir cruzamentos que serão comandados à distância através de um sistema de sinalização electrónico.

O documento, que este em consulta pública no site www.participa.pt refere que vai ser possível realizar famílias de comboios entre Torres Vedras e Lisboa e outras, com menos paragens, entre Caldas e Lisboa. A velocidade máxima permitida será de 140 Km/hora, apenas ligeiramente superior aos 120 Km/hora actuais.

Segundo a Infraestruturas de Portugal, quase 20% dos 107 milhões de euros de investimento serão alocados à catenária e subestação eléctrica (a construir em Runa, no concelho de Torres Vedras), 37% à infraestrutura e superestrutura de via (novos carris, travessas e balastro) e 22% à sinalização e telecomunicações.

As obras de modernização de metade da linha do Oeste (a outra metade de Caldas da Rainha a Louriçal não está contemplada) deveriam ter tido início no último trimestre de 2017 para estarem concluídas em 2020, mas o atraso já soma dois anos.

CP vai reduzir horários

A Câmara das Caldas tentou alugar um comboio para transportar os adeptos que na próxima quarta-feira vão assistir ao jogo das meias finais da Taça de Portugal entre o clube caldense e o Vila das Aves. Mas a CP não conseguiu responder ao pedido alegando que não dispõe de material circulante. Resultado: vão 17 autocarros fretados pelo município que transportarão grande parte dos 1700 adeptos para Vila das Aves.

Este episódio é emblemático do estado a que chegou a frota da CP. A empresa, simplesmente, não tem comboios a diesel para linhas não electrificadas e as velhas automotoras vão soçobrando uma a uma e enviadas para as oficinas onde ficam encostadas porque não há capacidade para as reparar. A EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) não tem sido autorizado pela tutela a contratar pessoal.

Em 2017 a CP suprimiu 623 comboios na linha do Oeste, dos quais 428 foram suprimidos em todo o seu percurso e 195 numa parte do seu trajecto. Mas a supressão de quase dois comboios por dia não foi o suficiente para que o regulador – a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes – reagisse. Fonte oficial da AMT diz que “não estão fixadas obrigações de serviço público concretas e mensuráveis, a observar pela CP, o que dificulta, em algumas situações, uma atuação mais imediata por parte das autoridades de transportes”.

A solução para a transportadora pública passa, assim, por diminuir a oferta na linha do Oeste, reduzindo o número de comboios previstos. Os novos horários deverão entrar em vigor a partir de Março, mas a CP não disse quantos comboios vai cortar.

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