Testemunho de ex-aliado pode ser o fim de Netanyahu

Caso envolve suspeitas de favorecimento a empresa de comunicações do primeiro-ministro contra cobertura noticiosa favorável.

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O diário Ha'aretz garante que estes "são os últimos dias de Benjamin Netanyahu" RONEN ZVULUN/Reuters

O diário Ha’aretz não hesita em dizer que estes são “os últimos dias de Benjamin Netanyahu”, depois de duas revelações "bombásticas" que podem ter implicações para o primeiro-ministro israelita, entre elas o acordo entre as autoridades e um antigo aliado de Bibi antes conhecido como "a caixa negra", pela sua discrição.

A primeira revelação não implica directamente Netanyahu, que está a ser investigado por várias suspeitas de corrupção e tráfico de influências - a polícia já pediu ao procurador-geral duas acusações formais.

Uma antiga juíza, Hila Gerstl, revelou que um aliado de Netanyahu, Nir Hefetz, antigo porta-voz da família do primeiro-ministro e seu colaborador próximo, lhe tinha oferecido, através de um emissário, o cargo de procuradora-geral se encerasse uma investigação a Sara Netanyahu, a mulher do primeiro-ministro.

Gerstl comentou a questão com outros responsáveis, incluindo a actual presidente do Supremo Tribunal, mas não passou a informação à polícia. Também não fechou a investigação, nem foi nomeada procuradora-geral; o cargo é ocupado por Avichai Mandelbilt, nas mãos de quem está agora uma recomendação da polícia para acusar Netanyahu de corrupção e abuso de poder no âmbito de outros dois casos

Mas o caso com potencial mais perigoso para Netanyahu é outro, e a reviravolta determinante, para os media israelitas, é um acordo entre Shlomo Filber, responsável pela comunicação e que reportava directamente ao primeiro-ministro, e as autoridades.

Filber foi detido no domingo no âmbito de uma investigação a suspeitas de que Netanyahu deu vários passos para beneficiar o gigante de comunicações Bezeq, liderado por um amigo seu, Shaul Elovitch, em troca de cobertura favorável no site de notícias ligado ao grupo. 

Filber terá garantido que não é sujeito a uma pena de prisão em troca de provas incriminatórias contra o primeiro-ministro. 

A investigação começou após Netanyahu ter omitido, na sua declaração de potenciais conflitos de interesses, a sua amizade com o patrão da Bezeq - o que gerou suspeitas. Uma autoridade de supervisão encontrou posteriormente 12 decisões em que o primeiro-ministro agiu em benefício de Elovitch.

Elovitch, pelo seu lado, interferiu directamente nas notícias, com títulos alterados, notícias editadas, etc., segundo o diário Ha'aretz. Há correspondência entre membros da equipa de Netanyahu e de Elovitch relativos a essa cobertura. O CEO do site de notícias, Ilan Yeshua, é uma testemunha-chave e se Filber também tiver informação, o caso pode-se complicar para Netanyahu.

No âmbito deste caso foram também detidos no domingo, além de Filber, vários responsáveis do grupo Bezeq: Elovitch e a mulher, Irias; o filho Or e outros dois directores.

O campo político de Netanyahu tem-se mantido forte e os partidos da coligação no Governo têm continuado a apoiá-lo mesmo com todas as suspeitas anteriores. Mas face a estas novas alegações, surgiu a primeira nota de dissidência: Oren Hazan, do próprio partido de Netanyahu, o Likud, pediu a demissão, mas como comenta o diário norte-americano The New York Times, este é “mais conhecido por querer estar nos títulos de jornais do que por influenciar os outros deputados”.

A oposição já se prepara – até porque se Netanyahu decidisse convocar eleições agora, e apesar das revelações de potenciais casos de corrupção anteriores (quatro no total têm sido investigados), as sondagens dão-no com ligeira vantagem, apesar de a maioria dos inquiridos considerar que ele é, de facto, culpado de corrupção. Avi Gabbay, da União Sionista (que inclui o Partido Trabalhista), escreveu na terça-feira à noite uma mensagem aos seus apoiantes dizendo: “A era Netanyahu acabou. Temos de nos preparar para uma eleição em breve”.  

Os media israelitas vinham a tratar as acusações contra Netanyahu com cautela: ele é conhecido por ter já sobrevivido a várias situações que pareciam impossíveis, de problemas judiciais a eleições, incluindo as últimas, em 2015. Mas o acordo com Shlomo "Caixa Negra" Filber pode mudar tudo.

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