O novo Capitólio apresenta-se com Sérgio Godinho, Marco Rodrigues, Cícero ou Beth Ditto

Música, cinema e humor serão as traves-mestras da programação, que pretende preencher a lacuna de salas de média dimensão em Lisboa. Godinho actua na sala renovada, inaugurada em 1931, esta sexta-feira, sábado e domingo.

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Vasco Sacramento, da Sons em Trânsito, e a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, apresentaram esta quarta-feira a programação do novo Capitólio Rui Gaudêncio

A reabertura oficial está então marcada para esta sexta-feira, quando Sérgio Godinho subir a palco para o primeiro de três concertos de apresentação de Nação Valente, o seu novo álbum, que dará no Capitólio. O arranque será feito com lotação esgotada (já não há bilhetes para os concertos de sexta-feira e sábado, às 21h30, restando a oportunidade de os adquirir para a matinée de domingo, às 17h). Bom prenúncio para as intenções partilhadas pela Sons em Trânsito, seleccionada em concurso pela EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa para a exploração do espaço, e pela Câmara Municipal de Lisboa.

Sérgio Godinho já esta sexta-feira, sábado e domingo, como referido, Marco Rodrigues (6 de Abril), Liniker e os Caramelows (7 de Abril), PAUS (13 de Abril), Rhys Lewis (14 de Abril), Héber Marques (28 de Abril), Elisa Rodrigues (24 de Maio), Beth Ditto (7 de Junho) e Cícero (20 de Junho). Foram estes os primeiros nomes anunciados para a programação dos próximos meses. Esta contará também, já a 8 de Março, com Style Out Loud, uma colaboração com a Moda Lisboa que combina músicos e designers de Lisboa, um St. Patrick’s Day que será celebrado, a 16 de Março, com actuações de Moullinex, Mirror People, Capicua, Sonja e Kid Franciscolli, a festa dos 11 anos da Bloop Recordings, editora de música electrónica lisboeta, dia 17 de Março, ou os festivais Clazz Jazz Festival, dedicado ao Jazz Latino (13 e 14 de Julho), The Famous Fest (28 e 29 de Setembro) e o Vodafone Mexefest (23 e 24 de Novembro), que já marcou presença no Capitólio nas suas duas últimas edições.

Assim se apresentou o renovado Capitólio, que pretende ocupar uma lacuna na oferta de salas em Lisboa: um espaço de média dimensão, centrado em espectáculos de música, no cinema e no humor, mas aberto a outras manifestações artísticas, que se relacione de forma “complementar e não concorrencial” com o restante tecido cultural da cidade. Assim o disseram em conferência de imprensa esta quarta-feira, Vasco Sacramento, da Sons em Trânsito, a promotora aveirense que será responsável, nos próximos cinco anos, pela programação da sala, e a vereadora da Cultura lisboeta, Catarina Vaz Pinto.

Inaugurado em 1931, o edifício projectado por Luís Cristino da Silva (a actual requalificação foi obra de Alberto de Souza Oliveira), destaca-se pela sua dimensão e arquitectura no coração do Parque Mayer e foi durante décadas um dos palcos privilegiados da animação cultural da zona, funcionando como espaço multidisciplinar em que conviviam as artes de palco e o cinema. Encerrado durante três décadas, tem como “patrono” Raul Solnado (foi rebaptizado com o nome do actor e humorista em 2009), como recordou Vasco Sacramento. O promotor fê-lo para, ao relembrar a história do sala (que terá agora uma lotação de cerca de 400 lugares, em plateia sentada, e 1000 lugares, com plateia em pé), dar conta da “enorme responsabilidade” e do “grande desafio” que a Sons em Trânsito tem pela frente nos próximos cinco anos.

“Lisboa tem muitas salas de espectáculos, mas o Capitólio vem preencher a lacuna de espaços de média dimensão”, explicou. A aposta será feita, primordialmente, em três vertentes, a música, o cinema, aproveitando o magnífico terraço, e o humor, mas a programação não é estanque. “Estamos abertos a propostas de todas as áreas de outros agentes, promotores e programadores”, referiu. No seu pensamento está o conceito de clube que vê Europa fora em espaços como o Paradiso, em Amesterdão, ou o Razzmatazz, em Barcelona, ou seja, espaços com versatilidade na programação, onde se pode “ouvir num dia um DJ, noutro um concerto, noutro um espectáculo”.

Vasco Sacramento vê o futuro da sala como palco para novos lançamentos discográficos, como acontecerá agora com Sérgio Godinho, e como antecâmara utilizada por músicos e bandas antes da chegada às salas de maior dimensão – aponta como possíveis exemplos disso os concertos programados de Beth Ditto, a ex vocalista dos Gossip, e do cantautor brasileiro Cícero. Nos planos está também a utilização do terraço como espaço para a organização de tertúlias e debates, e anuncia-se para breve a revelação de um serviço educativo dirigido ao público infanto-juvenil.

Acentuando que a Sons Em Trânsito "foi a proponente que se destacou desde logo", no concurso de concessão da sala, que a Câmara pretende "multidisciplinar", Catarina Vaz Pinto acentuou que será também fundamental a capacidade de “dialogar com a cidade e de se relacionar com a freguesia”, numa lógica de “complementaridade e não de concorrência” com as restantes estruturas culturais lisboetas. O Capitólio também programará tendo em conta acontecimentos como o Festival da Eurovisão, cuja próxima edição terá lugar em Lisboa, o Mundial de Futebol deste Verão, os Santos Populares ou o Websummit. E Vasco Sacramento vê além da cidade: quer ter o Capitólio integrado numa rede nacional, programando em articulação com outras estruturas espalhadas pelos país – Cícero será já exemplo disso: depois da actuação no Capitólio, dará concertos no Centro Cultural de Alcains, em Castelo Branco, no Teatro das Figuras, em Faro, e na Casa da Cultura de Ílhavo.

Questionada quanto à passagem a gestão privada de algumas estruturas culturais da cidade, como sucede agora com o Capitólio e como se anuncia para o Teatro Maria Matos, num processo que tem vindo a sofrer contestação, Catarina Vaz Pinto, escusando-se a comentar o processo relativo ao teatro nas Avenidas Novas, afirmou que a Câmara “não pode fazer tudo, e não quer fazer tudo” na programação cultural da capital portuguesa. “Partilhar a responsabilidade da programação desta sala tem a ver com isso”.

Quanto chegarem ao fim os cinco anos do contrato assinado entre a Sons em Trânsito e a EGEAC, Vasco Sacramento deseja que, “não perdendo o sentido comercial que uma sala como estas deve ter, porque temos compromissos financeiros a cumprir”, o Capitólio “tenha uma identidade definida”, algo que será construído ao longo do próximo par de anos, à medida que os programadores forem conhecendo verdadeiramente o público do Capitólio e o novo contexto em que, depois tantos anos encerrada, a sala se insere. O objectivo, diz Vasco Sacramento, é que os lisboetas ganhem uma sala com actividade regular ao longo da semana, com uma programação em que confiem. 

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