Juan Gabriel Vásquez é o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa

Entre as 14 obras de ficção a concurso, o júri escolheu, por maioria, A Forma das Ruínas, o mais recente romance do escritor colombiano. Escola de Náufragos, do português Jaime Rocha, ficou em segundo lugar.

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DANIEL ROCHA

O escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez é o vencedor da edição 2018 do Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, anunciou esta manhã o júri composto por Fernando Pinto do Amaral, José Mário Silva, Maria de Lurdes Sampaio, Teresa Martins Marques e Javier Rioyo, na sessão formal de abertura da 19.ª edição do festival Correntes d'Escritas. O escritor colombiano era um dos 14 finalistas ao prémio, com o romance A Forma das Ruínas, editado em Portugal pela Alfaguara, numa tradução de Vasco Gato. Um dos escritores mais celebrados da América Latina, chamou a atenção da crítica com O Barulho das Coisas ao Cair (2011); sucederam-lhe Os Informantes (2004) e As Reputações (2015), que em 2016 venceu em Portugal o Prémio Literário da Casa da América Latina

“Após laboriosa discussão”, esclarece a acta, o júri decidiu premiar a obra de Juan Gabriel Vásquez por maioria de três votos contra dois, tendo ficado em segundo lugar o romance Escola de Náufragos, do português Jaime Rocha.

Numa declaração de voto, os jurados Javier Rioyo (director do Instituto Cervantes em Portugal), José Mário Silva e Maria de Lurdes Sampaio justificaram a escolha de A Forma das Ruínas “pelo extraordinário fôlego narrativo e pelo notável retrato da história da Colômbia do século XX, fruto de uma vasta investigação pessoal e literária”.

Fernando Pinto do Amaral e Teresa Martins Marques justificaram também os seus votos em Escola de Náufragos, mas separadamente. Pinto de Amaral elogiou “a depuração estilística e a qualidade poética” da escrita de Jaime Rocha, mas “congratulou-se” também com a atribuição do prémio a Juan Gabriel Vásquez, por um livro que considera detentor de uma admirável arquitectura narrativa, inserida na atmosfera da história colombiana”. Já Teresa Martins Marques votou no livro de Jaime Rocha por ver nele uma “obra reveladora de uma dinâmica fragmentária e de um lirismo de excelência, criando uma poderosa alegoria da vida através de uma nebulosa onírica filiada na tradição literária do Raul Brandão de Húmus e de Os Pescadores”.

A Forma das Ruínas e Escola de Náufragos eram dois dos 14 romances que integravam a extensa short list do principal prémio do festival Correntes d’Escritas, que este ano, cumprindo a tradicional regra de alternância entre géneros, distingue uma obra de ficção. Na edição do ano passado, dedicada à poesia, o júri distinguiu Armando Silva Carvalho, que recebeu o prémio, poucos meses antes de morrer, pelo volume de poemas A Sombra do Mar. Os restantes finalistas desta edição eram José Rentes de Carvalho, com O Meças, Ana Teresa Pereira (Karen, vencedor do prémio Oceanos), Isabela de Figueiredo (A Gorda), Bruno Vieira Amaral (Hoje Estarás Comigo no Paraíso), Ana Margarida de Carvalho (Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato, vencedor do Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores), João Ricardo Pedro (Um Postal de Detroit), Djaimilia Pereira de Almeida (Esse Cabelo), João Pedro Porto (A Brecha), o moçambicano João Paulo Borges Coelho (Água), o brasileiro Julián Fuks (A Resistência) e os espanhóis Enrique Vila-Matas (Marienbad Eléctrico) e Juan Marsé (Essa Puta tão Distinta).

"Uma obra séria e consolidada"

Na sessão oficial de abertura do Correntes d’Escritas, que contou com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, foi ainda anunciado o Prémio Papelaria Locus, que recaiu no conto Balaton, de Ana Beatriz Correia de Sousa, que concorreu sob o pseudónimo Anita Guimarães. Já o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora foi distribuído por três obras: O Advento na Achada, A Mochila Esquecida e Terceiro, respectivamente de alunos do quarto ano de escolas da Madeira e de Armamar (os dois últimos). O Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha não foi atribuído, uma vez que o júri considerou que os trabalhos apresentados “não corresponderam à exigência literária necessária” para o efeito.

No decorrer da cerimónia, apresentada pelo vereador da Cultura da autarquia Luís Diamantino, Inês Pedrosa falou em nome dos escritores presentes, e destacou a projecção nacional e internacional de um festival que tem dado lugar e expressão “às línguas ibéricas, que sempre deram boa literatura”. O presidente da Câmara da Póvoa, Aires Pereira, deixou o repto aos responsáveis pela organização do festival para que, na 20.ª edição, no próximo ano, tenham a capacidade de “reinventar o festival e apresentar novos desafios” para uma nova década, numa localidade que quer candidatar-se a Cidade Criativa.

Castro Mendes elogiou a escolha, como vencedor do Grande Prémio, de Juan Gabriel Vásquez, um escritor que conhece pessoalmente, em quem reconhece já “uma obra séria e consolidada” e que diz representar bem “uma nova geração da ficção latino-americana” que se vem demarcando do realismo mágico de Gabriel García Márquez, através de “um registo diferente, mais irónico”.

No final da cerimónia, aos jornalistas, o ministro da Cultura realçou medidas governamentais de apoio ao sector do livro e da educação nomeadamente o programa que o Ministério da Educação está a lançar de incentivo à venda de livros escolares nas livrarias tradicionais, bem como o lançamento de bolsas literárias e a criação do Prémio Design do Livro, que estão a ser levados a cabo pelo seu ministério.

Em resposta ao pedido de audição parlamentar do Bloco de Esquerda para esclarecer na Assembleia da República as razões dos atrasos na atribuição dos apoios às artes, Castro Mendes justificou-os com a auscultação e a discussão do novo modelo dos subsídios. “O Ministério da Cultura está a estudar formas de resolver o problema do intervalo entre o anúncio dos resultados dos concursos” – cujo processo disse esperar que fique concluído no próximo mês de Março – “e o acesso às verbas”, acrescentou o ministro, sem mais detalhes.

O Correntes d'Escritas deste ano presta homenagem na sua revista cultural – que vai já na 17.ª edição – ao escritor brasileiro Luis Fernando Veríssimo, cuja deslocação à Póvoa de Varzim estava prevista mas foi adiada à última hora por razões de saúde. No final, Luís Diamantino leu uma pequena mensagem do autor de As Mentiras que as Mulheres Contam, em que o escritor pedia desculpa "por não estar aí". "O espírito quis, mas o corpo não", justificou.

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