Submarinos e satélites, do céu ao fundo do mar
O trabalho do grupo da área de mar e espaço do CeiiA (Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel), liderado por Tiago Rebelo, vai muito além do desenvolvimento de câmaras subaquáticas que servem para documentários de televisão. Vai do fundo do mar até ao espaço. Entre outros planos, os cerca de 30 engenheiros também estão envolvidos na construção do primeiro microssatélite “100% português” baptizado de Infante e num projecto chamado OceanTech que visa a produção de veículos e sistemas de gestão para a exploração do mar profundo.
Os dois alvos têm alguns pontos comuns, apesar dos destinos opostos. São projectos que resultam de consórcios apoiados em colaborações entre empresas, institutos de investigação, universidades e entidades públicas como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Nos dois casos, estamos a falar de planos com um investimento estimado de dez milhões de euros (cada), ambos contam com financiamento do programa Portugal 2020 e também têm o mesmo “prazo de execução”, entre 2017 e 2020. Nos dois casos, as equipas são compostas por cerca de 150 investigadores.
O trabalho do grupo de mar e espaço do CeiiA atinge várias camadas com instrumentos diferentes e complementares, explica Tiago Rebelo. Há a camada do mar profundo, com a criação de robôs e outros veículos e dispositivos. Há ainda a componente aérea onde investem em veículos (drones) remotamente operados e autónomos que permitem recolher informação à superfície do oceano. “Temos duas aeronaves destas a ser operadas com a Força Aérea Portuguesa”, adianta, explicando que são “um par de olhos que está por cima” dos oceanos.
Depois há ainda a camada espacial. Entre outros projectos nesta área, o mais conhecido será o Infante que começou recentemente tendo como objectivo a construção de um microssatélite português de raiz, do princípio ao fim. “Estamos a falar de um satélite com cerca de 40 centímetros que deverá servir de ponto de comunicação entre os veículos robóticos com a Terra e, por outro lado, o próprio satélite terá câmaras que vão permitir a observação oceânica.” Segundo o investigador, este microssatélite deve ser lançado em 2020 mas o objectivo é que seja apenas o primeiro de uma constelação que vai povoar o céu com 12 a 16 satélites numa orbita baixa, a cerca de 300 a 500 quilómetros de altitude. “Todos na mesma órbita mas em pontos diferentes. O objectivo é que com essa constelação seja possível mapear quase toda a superfície terrestre.”
Todos estes instrumentos que estão a ser construídos vão gerar dados que depois podem ser usados para fins científicos ou comerciais, sublinha ainda Tiago Rebelo. O investigador admite que estes projectos podem ser “aproveitados” pelo Centro Internacional de Investigação do Atlântico (AIR Centre), que foi lançado pelo ministro da Ciência e Tecnologia português, Manuel Heitor, e que pretende unir forças a nível internacional para explorar e investigar o Atlântico, através dos oceanos, atmosfera, clima, energias renováveis e espaço. “O AIR Centre é um desígnio para o conhecimento do Atlântico e estes programas podem ser importantes”, refere.
O primeiro microssatélite Infante, por exemplo, vai precisamente cobrir parte da área do Atlântico. E, quem sabe, admite Tiago Rebelo, poderá até ser lançado dos Açores se o projecto de criação de uma base de lançamentos para pequenos e microssatélites for em frente.
Tudo isto sem esquecer que o CeiiA começou há dez anos em terra, com uma série de projectos direccionados para a mobilidade urbana, desenvolvimento de veículos eléctricos, entre outros. Depois veio a aeronáutica, depois o mar e o espaço.