Governo britânico ameaça cortar financiamento a ONG após escândalo na Oxfam
Ministra reage a alegações de que funcionários da Oxfam pagaram por sexo no Haiti pedindo investigação "com urgência".
A ministra britânica responsável pelo Desenvolvimento Internacional, Penny Mordaunt, descreveu como “totalmente desprezíveis” os comportamentos denunciados pelo jornal britânico The Times, segundo o qual trabalhadores humanitários da Oxfam, uma das maiores organizações de ajuda do Reino Unido, pagaram a prostitutas durante a sua missão no Haiti após o terramoto de 2010.
A ministra disse aguardar que a Oxfam “entregue toda a informação sobre o aparente uso de prostitutas pelos seus trabalhadores humanitários”, acrescentando que o Governo irá cortar o financiamento a qualquer organização que não cumpra novas regras sobre o funcionamento das agências a prestar ajuda no estrangeiro.
Penny Mordaunt disse que irá agora escrever a organizações britânicas com acção no estrangeiro pedindo que declarem quaisquer problemas em relação ao dever que têm de proteger de abusos quer o seu staff quer as pessoas com quem trabalham ou que ajudam. A governante quer também que as organizações assegurem que casos passados sejam objecto de investigação e medidas adequadas, e que explicitem as suas políticas para lidar com problemas deste género.
A Oxfam não confirmou nem desmentiu a notícia de sexta-feira no diário britânico The Times que descrevia que elementos da missão para ajudar os afectados pelo terramoto no Haiti pagaram para ter sexo com prostitutas, mas revelou ter lançado uma investigação que levou ao afastamento de quatro funcionários e a três demissões (anteriores à conclusão da investigação). Considerando o comportamento descrito como “inaceitável”, a organização disse ter criado uma linha anónima para permitir denúncias e melhorar a resposta a alegações.
Ainda este domingo, o Observer noticiava mais suspeitas de elementos do staff da Oxfam contratarem prostitutas noutra missão, desta vez no Chade, com um trabalhador da missão que falou sob anonimato a comentar que mulheres que ele acredita que trabalhassem como prostitutas eram frequentemente convidadas para a casa onde estava a equipa da Oxfam em 2006. O chefe da missão da organização no Chade da altura era Roland van Hauwermeiren, que se demitiu da organização em 2011, depois de admitir que tinha recebido prostitutas na sua casa no Haiti.
O director executivo da Oxfam, Mark Goldring, negou sugestões de que possa ter havido encobrimento de casos de má conduta durante as operações no Haiti. A entidade que regula as ONG disse que a Oxfam não mencionou alegações de abuso de beneficiários de ajuda e potenciais crimes sexuais envolvendo menores no relatório de 2011, e apenas referiu uma vaga “má conduta”.
“A nossa abordagem a esta questão teria sido muito diferente caso tivéssemos tido acesso aos detalhes completos”, disse a comissão reguladora em comunicado. O Governo pediu agora à comissão que faça com urgência uma avaliação completa da Oxfam.
O Times mencionava um relatório confidencial da Oxfam referindo uma “cultura de impunidade” entre os trabalhadores humanitários no Haiti, e sublinhava que a organização não partilhou informação relevante com outras agências de ajuda que contrataram os seus antigos funcionários. Num outro comunicado, a organização justificava-se: “Com até 10 mil ONG a trabalhar no Haiti em 2011, e centenas de milhares de trabalhadores humanitários em países de todo o mundo, infelizmente não era possível para a Oxfam assegurar que os culpados de má conduta sexual não voltassem a encontrar emprego no sector.”
“O que é tão perturbador neste caso da Oxfam é que, quando a informação lhes chegou, não foram capaz de fazer o que seria correcto”, disse a ministra. “Deixaram ir os indivíduos que tinham levado a cabo a actividade criminosa, não passaram a informação às autoridades, não disseram ao seu regulador, não disseram aos seus dadores.”