Aqueduto que forneceu água à cidade durante 500 anos volta a funcionar

Presidente da autarquia alentejana propõe um regresso a formas ancestrais de poupança de água para atenuar os efeitos da seca .

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miguel Manso

Armazenar a água da chuva e reactivar o aqueduto da Prata, concluído em 1537, são duas das várias medidas que o presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto Sá, irá pôr em prática para combater a escassez de água e fazer face às alterações climáticas. A ideia foi apresentada durante o debate sobre “A seca na região Alentejo: consequências e caminhos”, que o PCP realizou na semana passada na Universidade de Évora.

Há necessidade de uma “nova abordagem e um novo paradigma” sobre a gestão de água, advertiu o autarca, frisando que já há uma década que se alertou para o que aí vinha: subida da temperatura, maior regularidade na ocorrência de anos de seca, e de forma mais intensa, menos chuva que iria surgir mais concentrada em períodos críticos e frequência de temperaturas máximas acima dos 35 graus.

Atenuar os efeitos da escassez de água, apesar do Alqueva, requer a adopção de novas soluções para o uso da água e decisões que tenham em conta a nova realidade meteorológica, defende Pinto Sá, avançando com um exemplo: “Podemos ter nos espaços públicos do Alentejo grandes extensões de relva quando esta gasta água até dizer chega?” E salientou que as consequência das alterações climáticas impõem uma construção de espaços públicos que “não tenham a exigência de água que hoje têm”.

A experiência que já leva como autarca, primeiro no município de Montemor-o-Novo e agora em Évora, confirma que o maior uso da água para consumo público não é para beber nem sequer para a alimentação. É para gastos que não exigem água tratada.

A solução ideal seria ter duas redes de água em casa, uma com água para beber e cozinhar e outra para outro tipo de usos, sugere, embora reconhecendo que a proposta ainda não é exequível.  

Mas já encara como mais realista a recuperação de “práticas ancestrais” de gestão da água. “Nós podemos voltar a utilizar os poços e drenos que temos por aí” para determinados tipos de uso de água que não necessita de ser tratada, sublinha. “Não estamos a descobrir a pólvora. Os nossos antepassados já o faziam”, observa o autarca, lançando outra sugestão: Era uma ideia razoável guardar a água da chuva, como se fazia ainda no século XX na cidade de Évora.

Estas alternativas recordam-lhe o tempo em que a água para beber era distribuída em cântaros, nos anos 50 do século passado. Nessa altura, “o valor da água estava interiorizado, poupava-se”, assinala o autarca, para fazer um paralelismo com os dias de hoje, onde esta prática sustentável está arredada dos quotidianos.

O regresso a usos antigos é ponto assente para Pinto Sá. A Câmara de Évora já decidiu recuperar o aqueduto que forneceu água a Évora durante 500 anos para a função que desempenhou até meados do século XX: fornecer à cidade água que não exija tratamento. “Do ponto de vista patrimonial tem uma vantagem: obriga à sua manutenção regular”, sublinha ainda o autarca.

Neste debate sobre a seca, o desperdício de água nas redes públicas de abastecimento da região alentejana foi um tema central uma vez que os municípios alentejanos têm elevadas percentagens de água desperdiçada e não facturada.

Em Évora, a água não facturada “é de 15%, gasta na sua maioria na lavagem de espaços públicos e nos problemas com os contadores”, diz o presidente do município, discordando dos que dizem que são números elevados. Todavia, admite que a rede em baixa no seu concelho precisa de requalificação, esclarecendo que as câmaras da CDU instalaram as redes de água a seguir ao 25 de Abril. Mas estas “gora estão velhas e sujeitas a rupturas e perdas de água”, justifica Pinto Sá.

É um problema comum no distrito de Évora. “Não há nenhuma câmara que tenha condições para resolver os problemas nas redes de água sem a ajuda do Estado”, admite o autarca.

As deficiências da rede estendem-se aos contadores da água. No Alentejo, “existem 250 mil consumidores” servidos por contadores analógicos, referiu Manuel Branco, ex-vereador da CDU na Câmara de Évora na gestão de Abílio Fernandes. E, neste universo, é necessário substituir 100 mil aparelhos, tarefa que implica “um investimento nos próximos cinco anos que pode chegar aos 12 milhões de euros”, contabiliza o ex-autarca, criticando o facto dos fundos comunitários só se encontrarem disponíveis para a construção da rede de infra-estruturas quando “deviam abranger também a sua gestão”, propôs.

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