Mulheres artistas independentes (e não só), manifestem-se

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A Clara Não não é “feita de aço”, mas também não é “nenhuma bolinha de algodão”. E quando diz “não”, é mesmo não —  afinal, até incluiu a negação no nome que escolheu. Pronto. Outra coisa sobre a ilustradora: quando está chateada, a artista de 24 anos anda com os braços cruzados. Noutro dia, enquanto andava assim no Porto, Rua 31 de Janeiro acima, um homem passou por ela e sibilou: “Vai aí a segurar as mamas”. Clara Silva ia calar-se e seguir caminho, como já tinha feito muitas vezes, mas dessa vez só continuou depois de falar. E primeiro respondeu-lhe mesmo — “na terceira pessoa, para ter educação”, conta ao P3. “Mas o segundo sentimento foi de culpa” e, à medida que subia, só “conseguia pensar no que deveria ter dito ou feito” em vez do que realmente disse e fez. “A pôr o problema em mim e não nele”, resume. “A minha mãe costumava dizer-me para não dizer nada caso alguém falasse comigo na rua.” E a bisavó ia ainda mais longe: “Mulher séria não tem ouvidos”.

Não que Clara Não queira desafiar a sabedoria popular, mas falou a sério sobre algo que lhe enche os ouvidos no Manifesto de uma mulher artista independente. O desabafo estava “entalado há uns anos” e exprimiu-se em 24 declarações sobre “coisas que ficam presas na garganta”, como a situação descrita acima. E “é não só para quem as sente, mas também para quem acha que elas não acontecem”. Uma última curiosidade sobre a artista: apesar de ser destra, escreveu o documento com a mão esquerda. “No pensamento da ditadura, a mulher era para ficar em casa e a mão esquerda simbolizava a ligação com o diabo. Logo, ser esquerdino era proibido.” E Clara já tinha avisado: “Eu faço o que eu quiser”.