Contagem decrescente para lançar o foguetão mais potente que temos
O lançamento que envolve um carro desportivo vermelho, uma música de David Bowie, e outros efeitos especiais, está marcado para esta terça-feira, no complexo do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, na Florida. Se tudo correr bem, o foguetão da SpaceX será o mais potente a operar no espaço.
Não é só um foguetão. São, na verdade, três foguetões ligados entre si que formam o Falcon Heavy, um dos mais potentes foguetões lançados até hoje (só ultrapassado pelo histórico Saturno V da NASA) e que será o mais potente actualmente “em funções” no espaço. Se o teste de lançamento agendado para esta terça-feira correr bem, o Falcon Heavy levará um carro, mais precisamente um Tesla Roadster vermelho, para o espaço. E, a bordo, a banda sonora será da responsabilidade de David Bowie com Space Oddity. É uma das mais aguardadas produções espaciais de Elon Musk, o empresário norte-americano e sul-africano que é dono da empresa SpaceX.
De acordo com o plano original de Elon Musk, o Falcon Heavy devia ter feito o voo inaugural em 2013. Porém, alguns incidentes e acidentes adiaram este momento. O design do foguetão revelou-se mais complexo do que se previa e em 2016, por exemplo, a SpaceX perdeu um outro foguetão, o Falcon 9, que explodiu durante testes de rotina.
Estes e outros imprevistos fizeram com que a contagem decrescente para o teste de lançamento do potente veículo reutilizável que junta três Falcon 9 e que poderá servir para transportar vários tipos de carga, desde pessoas a satélites, fosse agendada para esta terça-feira, entre as 18h30 e as 21h de Portugal Continental. A 28 de Dezembro de 2017, o foguetão foi posicionado na plataforma 39A no Centro Espacial Kennedy – a mesma plataforma usada pelo Saturno V que podia carregar cerca de 118 toneladas e que, em 1969, levou a tripulação de três homens da missão Apolo 11 até aos primeiros passos na superfície lunar de Neil Armstrong e Buzz Aldrin.
No teste de estreia desta terça-feira, Elon Musk terá o seu foguetão carregado com um carro desportivo vermelho produzido numa das suas outras empresas. “Adoro imaginar um carro à deriva pelo espaço e talvez a ser descoberto por extraterrestres daqui a milhões de anos”, justificou o empresário numa publicação no Twitter. Mas, a carga do Falcon Heavy ou a música de David Bowie que Elon Musk quer fazer tocar a bordo do foguetão são apenas alguns adereços deste projecto. Ontem, ao final da tarde de segunda-feira, Elon Musk ainda acrescentou ao "espectáculo" um vídeo de animação que publicou na sua conta de Twitter com a mensagem "Falcon Heavy envia um carro para Marte". No vídeo de três minutos e vinte seis segundos vemos o Tesla descapotável vermelho à deriva no espaço, rumo ao planeta vermelho, ao som de David Bowie com "Life On Mars?" .
As contas oficiais sobre o Falcon Heavy apontam para um custo de cerca de 90 milhões de dólares (72,5 milhões de euros), embora muitos especialistas acreditem que este orçamento fica muito aquém da realidade. A propósito de números, este veículo “três em um” é impulsionado por um total de 27 motores (nove em cada foguetão) que têm de funcionar em total sintonia. Mas o trunfo está na anunciada capacidade que terá para transportar carga para longe do planeta Terra. Segundo o site oficial do projecto, este é o foguetão mais potente do mundo. “O impulso de elevação do Falcon Heavy equivale aproximadamente a 18 aviões 747 a plena potência”, referem, acrescentando que este veículo “pode levantar o equivalente a um avião 737 totalmente carregado – completo com passageiros, bagagem e combustível – para a órbita”.
Elon Musk preparou o sacrifício de um carro desportivo naquela que se espera ser a primeira viagem de sucesso de Falcon Heavy, mas o foguetão é capaz de carregar cargas muito mais pesadas e que, segundo a empresa, podem chegar a cerca de 70 toneladas. O que representa o dobro da capacidade de elevação do maior foguetão existente na frota espacial dos EUA – o Delta 4 Heavy da rival United Launch Alliance (ULA).
O futuro da humanidade não depende obviamente do sucesso desta missão da SpaceX, mas se as coisas correrem bem no teste de lançamento podem abrir-se algumas portas para novas e mais ambiciosas missões orbitais geoestacionárias para levar satélites e mesmo para operações para lá da órbita com carga e tripulantes para explorar o espaço vizinho.
Enquanto a SpaceX experimenta o seu megafoguetão, a NASA tem vindo a apostar no desenvolvimento de um foguetão pesado (SLS, na sigla em inglês) que será mais potente que o Falcon Heavy mas também muito mais caro. Segundo a agência Reuters, a Administração de Donald Trump terá recentemente sugerido que a NASA poderá contratar um fornecedor comercial para lançar o primeiro componente da estação Deep Space Gateway, um posto avançado de investigação em órbita lunar, que será o sucessor da Estação Espacial Internacional na próxima década e um ponto de partida para missões dirigidas a Marte.
Independentemente do desfecho do teste de lançamento, a SpaceX já terá “clientes” para, pelo menos, três viagens no Falcon Heavy, uma delas será uma espécie de viagem turística à volta da Lua reservada por duas pessoas (cuja identidade não foi divulgada). Tal como o seu antecessor (e parte integrante) Falcon 9, o Falcon Heavy foi construído para ser reutilizável, ou seja, cada um dos seus três foguetões deverá voltar à Terra após o lançamento. O plano é que os dois Falcon 9 laterais regressem ao centro espacial de Cabo Canaveral e, mais tarde, o foguetão central, deverá aterrar num navio-drone que se encontra nas águas do Atlântico (onde já pousaram com sucesso outros Falcon 9 intactos) e que (mais um detalhe curioso da produção de Elon Musk) se chama “Of Course I Still Love You”.
Notícia corrigida às 18h30: para referir que houve mais do que um Falcon 9 a aterrar intacto no navio-drone “Of Course I Still Love You”.