Robôs que vão aonde ninguém quer ir
Antigas centrais nucleares, prédios em risco de ruir, incêndios e o fundo dos oceanos são o destino de máquinas que fazem os trabalhos demasiado arriscados para os humanos.
Em caso de perigo, o Anymal é sempre o primeiro a entrar. Apesar do aspecto desajeitado — com quatro patas metálicas, uma câmara, em vez de cabeça, e um andar que lembra um insecto —, o robô suíço é rápido a subir e descer escadas, a saltar e a percorrer corredores, enquanto procura sinais de vida. Foi criado em 2009 para funcionar em ambientes de perigo, como incêndios e edifícios prestes a desabar.
“A rapidez é o ponto forte do Anymal. Pode verificar se o risco é menor do que o previsto, ou se há vítimas entre os escombros e se vale a pena enviar uma equipa de salvamento”, explica ao PÚBLICO Marco Hutter, que lidera a equipa que desenvolve o Anymal no Instituto de Robótica e Sistemas Inteligentes de Zurique. O robô ainda não é muito forte e apenas consegue aguentar com dez quilos, mas isso é o suficiente para transportar caixas de primeiros socorros, câmaras e mantimentos básicos.
Parte da missão daquele instituto é desenvolver máquinas capazes de ajudar os humanos em missões de busca e salvamento e de mapeamento de espaços selvagens. “Ao copiar a locomoção de animais, os robôs conseguem navegar em superfícies complexas mais facilmente. Não fazem o trabalho dos humanos, trabalham com eles”, diz Hutter. Em 2016, por exemplo, os investigadores participaram num projecto para ajudar a limpar parte dos escombros do terramoto em Amatrice, na Itália.
Há casos, porém, em que as máquinas têm mesmo de ir sozinhas. O robô japonês Manbo desloca-se como um peixe e tem o tamanho de uma caixa de sapatos. Navega nas águas em redor da antiga central nuclear de Fukushima em busca de peças de reactores. Os níveis de radiação são superiores aos que qualquer humano pode suportar, por isso as imagens chegam através das câmaras dos robôs. Muitos não voltam ou têm de ser desligados.
Há outros robôs que passam informação háptica (associada ao tacto). O OceanOne faz parte de uma série de novas máquinas que mostram a conexão cada vez maior entre homens, máquinas e o planeta. É desenvolvido pela Universidade de Stanford, nos EUA, e trabalha debaixo de água. O robô mergulhador de aspecto humanóide tem dois metros, dois “olhos” equipados com câmaras de alta definição e duas mãos com três dedos e muitos sensores. “É uma espécie de mão virtual que detecta a informação da superfície de contacto e recria-a como forças através de sensores que são colocados nas mãos dos investigadores em terra”, explica Oussama Khatib, o director do laboratório de Robótica da Universidade de Stanford.
Em missões de salvamento, para ajudar o robô a abrir uma porta de um navio submerso é importante ter noção do estado de decomposição da fechadura. Já em missões de arqueologia, é importante perceber o peso e formato dos objectos encontrados. “Ainda não explorámos mais os oceanos porque não podemos”, diz Khatib. “Em norma um humano só consegue mergulhar até 40 metros. Os que vão aos três dígitos precisam de ser condicionados e treinados durante semanas. O OceanOne muda isto.”
A máquina já passa horas submersa a centenas de metros de profundidade (o máximo são 1000 metros), a explorar o desconhecido. As primeiras missões foram um sucesso: em 2016, recuperou um antigo vaso catalão de barro numa expedição ao Mediterrâneo e, em Julho de 2017, ajudou mergulhadores alemães a medir e avaliar o ambiente perto do vulcão de Kolumbo, na Grécia. No futuro, Khatib vê-o a trabalhar também na manutenção de plataformas petrolíferas e a fazer parte de equipas com outros robôs.
Formigas gigantes
O trabalho de grupo entre máquinas é outra área que tem motivado investigadores. Desde 2015 que a empresa alemã Festo, especializada em automação industrial, está a explorar a possibilidade de pôr formigas biónicas gigantes (do tamanho de uma mão humana) a colaborar em contextos industriais. Do tamanho de uma mão humana, cada BionicAnt vem equipada com um rádio, uma câmara e sensores que lhe dizem onde estão. Ao comunicar entre si via wi-fi mostram que componentes individuais autónomas podem empreender tarefas em conjunto e em rede.
Embora não sejam descritas como máquinas inteligentes, estas máquinas são controladas por inteligência artificial. “Muitas pessoas associam autonomia à inteligência artificial e põem-na ao mesmo nível das redes neuronais, mas isso é apenas uma pequena parte do que a inteligência artificial faz”, explica Marco Hutter, da equipa do Anymal. Nenhum destes robôs é capaz de falar ou dar respostas completas, mas todos têm de tomar decisões. A forma como andam, por exemplo, não é programada — é aprendida. “O OceanOne tem autonomia? Sim. Tem cognição? Não necessariamente. De certa forma, é um conjunto de peças de hardware controladas por computadores e algoritmos que são programados para o robô aprender a movimentar-se sem causar dano a si próprio, ao ambiente ou a outros.”
São habilidades que o robô vai aprendendo e que ficam sobrepostas em várias camadas de conhecimento. “O nosso robô precisa de se mexer como um humano, mas não estamos a trabalhar para criar um cérebro que possa substituir o conhecimento humano”, diz Khatib. “Tem de haver alguém para guiar o robô a fazer o trabalho que é fisicamente impossível para um humano.”