O Jardim do Arco do Cego fechou para obras e já reabriu. Para tudo ficar na mesma
Após sete meses de requalificação, moradores e proprietários mostram-se descontentes com a ausência de grandes mudanças no jardim. Nem a construção de um parque canino parece ter sido notado pelos donos de cães que frequentam o parque.
Foram sete meses em que esteve vedado para obras e o mesmo número de longos meses de espera até que os moradores de Avenidas Novas (e não só) pudessem voltar a usufruir do Jardim do Arco do Cego, perto do Saldanha, em Lisboa. A intervenção no espaço verde, aberto desde a última sexta-feira, deixou, no entanto, todos perplexos: Onde estão as melhorias, perguntam todo, que criticam a “má alocação de verbas por parte da câmara”.
No grupo do Facebook de Vizinhos das Avenidas Novas o cenário é descrito como “deprimente”, criticando-se os 77 mil euros gastos numa obra - segundo a informação que consta no portal dos contratos públicos - que teve início em Junho de 2017 e que agora termina sem que se vislumbrem grandes alterações.
Alguns dos problemas neste espaço público que lhe davam um ar degradado por ali continuam e são evidentes a olho nu: o relvado continua com muitas falhas e há grafittis nas paredes circundantes e caixotes do lixo que não foram limpos durante as obras.
“As pessoas vêm muito passear os cães para aqui e não têm preocupação em apanhar os dejectos ou com a maneira como os animais escavam os relvados”, comenta Maria, de 70 anos, e que frequenta o jardim. “Já vi o conceito de parques para cães ser bem aplicado no estrangeiro mas o novo parque é tão pequeno que não vejo quem possa usar”, conclui, apontando para o canto do jardim onde surgiu uma estrutura de que poucos dão conta.
A criação de um parque canino no jardim do Arco do Cego será uma das poucas adições pós-obras ao jardim ou, segundo a ex-advogada, a “única diferença” que verificou. Ladeado por vedações verdes e com uma porta a meio, as únicas evidências de que se destina a cães são dois sinais de tamanho A4, presos à vedação, que anunciam as suas regras de utilização.
O certo é que os donos dos cães passam-lhe ao lado e nem sequer o detectam. Carolina e Pedro, que descansavam num banco junto ao parque, concluem que é uma falha de divulgação. “Nem sabíamos que existia e estávamos aqui sentados ao pé. Está mal sinalizado,” reforçam os jovens. “De resto não notámos qualquer diferença depois das obras. Os bancos continuam iguais, o relvado também e deixaram ali os grafittis,” concluem, referindo-se às paredes do antigo parque da Carris, adjacente ao jardim.
As opiniões dos proprietários dos cafés nas redondezas variam de ter sido “um desperdício de dinheiro” até algo que “piorou o espaço e muito” e o descontentamento relativo à diminuição de negócio nos últimos sete meses é geral.
A degradação a que chegou o jardim há sete meses é também fruto do enorme fluxo de estudantes que ali se juntavam. O que gerou acessas críticas por parte dos moradores, que exigiam uma intervenção da câmara para combater o ruído, incentivado pelo consumo de álcool, e o lixo. Os residentes queixavam-se de ter um cervejódromo à porta de casa e a autarquia acabou por restringir o horário de funcionamento dos três estabelecimentos próximos, antecipando o seu fecho da meia-noite para as 21h. Mas os problemas persistiram.
Diogo e Henrique, de 21 e 22 anos, conhecem bem essa realidade e admitem que o agravamento da situação foi uma razões pelas quais deixaram de frequentar o espaço com regularidade. “O ambiente do jardim à noite tornou-se mais pesado. Tive duas ou três situações de conflito com outros grupos que poderiam ter acabado mal e achei por bem deixar de vir tão regularmente”, afirma Henrique.
Entretanto, o espaço é vedado e têm início as obras, a cargo da Câmara Municipal de Lisboa, que tinham como intuito “a reabilitação de todo o espaço”, diz ao PÚBLICO Ana Maria Gaspar Marques, presidente da Junta de Freguesia das Avenidas Novas. Entre as melhorias que pretendiam colmatar a degradação do espaço incluía-se “mais iluminação e uma mudança de layout”, acrescentou. No entanto, também esta autarca questionou a falta de melhorias visíveis em alguns aspectos do jardim.
“A câmara tratou da requalificação e a junta tratará da manutenção do espaço”, clarifica a autarca. “Mas face aos aspectos que ficaram por resolver, foram enviadas questões para a câmara. Estamos ainda a falar com grupos de estudantes para desenvolver projectos que resolvam a situação em que a bebida excessiva coloca os moradores. Queremos que o jardim volte a ser dos cidadãos”, conclui ainda Ana Marques.
As mesmas perguntas foram colocadas à Câmara de Lisboa pelo PÚBLICO mas até ao momento não foi obtida resposta.
Texto editado por Ana Fernandes