Uma universidade familiar que ganhou a aposta na Saúde
Administração da fundação que detém universidade é composta por três elementos da família Trigo. Salvato é o presidente, a mulher a vice-presidente e a filha vogal.
Quando, em 1994, Salvato Trigo, o futuro reitor, anunciava o lançamento da Universidade Fernando Pessoa, destacava com orgulho “as instalações de primeiro mundo”, onde nem sequer faltava sauna para os alunos. Junto a um antigo palacete do Jardim de Arca d’Água, no Porto, tinha crescido um edifício de seis andares que oferecia cursos essencialmente na área das ciências sociais, num investimento que Salvato Trigo estimava então em cinco milhões de euros.
A universidade abriu as portas quando ainda aguardava o reconhecimento do Ministério da Educação, mas sobreviveu graças à sua legalização retroactiva, o que aconteceu igualmente com muitos dos seus cursos. Passados quase 24 anos, quem visita a Fernando Pessoa percebe rapidamente quanto cresceu. Dividida hoje em três faculdades (Ciências Humanas e Sociais, Ciências e Tecnologia e Ciências da Saúde), conta actualmente com mais três edifícios construídos de raiz, um deles com cinco pisos (o pólo de Ciências da Saúde) e outro com quatro (as chamadas Clínicas Pedagógicas), todos perto do Jardim de Arca d’Água. Só a Associação de Estudantes tem direito a uma moradia restaurada e num palacete contíguo à reitoria nasceu uma Escola de Pós-Graduações. Em Gondomar foi inaugurada em Janeiro de 2013 a jóia da coroa: o Hospital-Escola. No ano seguinte, segundo o último relatório de gestão publicado pela fundação que detém a universidade, já se realizavam 682 internamentos, quase 28 mil consultas e 10.600 atendimentos na urgência.
O projecto tinha sido anunciado uns anos antes pelo então presidente da câmara, Valentim Loureiro, e por Salvato Trigo, que assinaram um protocolo a formalizar a construção do hospital — um investimento de 50 milhões de euros — nos terrenos de uma antiga fábrica.
Salvato Trigo foi desde o início o rosto da Fundação Ensino e Cultura Fernando Pessoa, uma instituição familiar, onde a sua mulher ocupa o cargo de vice-presidente do conselho de administração e a filha é a outra vogal do organismo. O filho também trabalha na universidade, onde têm igualmente lugar outros familiares.
A Fernando Pessoa, que já nascera da fusão de duas instituições já controladas pela família Trigo — os institutos superiores Erasmus e o de Ciências da Informação e da Empresa —, apostou forte na Saúde e parece não se ter dado mal. A Medicina Dentária, o curso mais caro da universidade, que chega a custar mais de 7000 euros por ano só em propinas, contava no ano lectivo 2016/2017 com mais de 500 alunos inscritos, segundo dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). E no curso de Fisioterapia, que obriga os alunos a desembolsar mais de 5000 euros por ano, havia 480 inscritos. Farmácia, cujas propinas chegam perto dos 6000 euros, contava com perto de 200 alunos e Enfermagem com cerca de 150, incluindo 35 no pólo que a universidade possui em Ponte de Lima, o concelho natal de Salvato Trigo.
Os dados da DGEEC apontam para um total de 2650 alunos no ano lectivo 2016/2017, um número que contrasta com os mais de 4000 alunos que chegou a ter no início da década passada. A diminuição não destoa, no entanto, da tendência do ensino em Portugal, justificada em grande parte pela insistente quebra da natalidade. Mesmo assim, estas estatísticas pecam por defeito quando comparadas com as que a própria universidade apresenta no seu relatório anual. O último disponível diz respeito ao ano lectivo 2014/2015, quando o país vivia uma crise profunda. A Fernando Pessoa contabilizava então 3103 alunos (a DGEEC registava nesse ano 2829), menos 405 que no ano lectivo anterior. A maior parte eram alunos de licenciatura e mestrado integrado, mas os dados contabilizavam 51 pessoas a fazer doutoramento e 183 em pós-graduações. Nessa altura, a universidade contava com 192 professores, 84% dos quais com doutoramento, e com 115 funcionários.
Surpreendente é a lista de mais de 100 universidades parceiras da Fernando Pessoa, que incluem, por exemplo, a prestigiada Universidade Complutense de Madrid. A internacionalização é uma aposta assumida por Salvato Trigo e, a avaliar pelos números, também parece ganha. O último relatório anual contabiliza 216 alunos estrangeiros no ano lectivo 2013/2014, 118 dos quais regulares e 98 incluídos em programas de intercâmbio, como o Erasmus.
Em 2014, os últimos dados disponíveis, a universidade já movimentava um volume de negócios perto dos 23 milhões de euros. Um número bem distante dos cinco milhões inicialmente investidos na sua criação.