Trabalho ao sábado entra em vigor. Arménio Carlos diz que a empresa “não precisa”
O horário transitório imposto pela empresa aplica-se a partir desta segunda-feira. Líder da CGTP critica forma como a luta foi tratada na opinião pública.
Os trabalhadores da Autoeuropa começam nesta segunda-feira a cumprir o novo horário transitório que prevê a obrigatoriedade do trabalho ao sábado. Numa entrevista ao Jornal de Negócios, nesta segunda-feira, o líder da CGTP afirma que a empresa de Palmela "não precisa de trabalhar ao sábado", um regime que foi imposto administrativamente pela empresa após a rejeição dos acordos negociados previamente com a Comissão de Trabalhadores.
Para Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, a empresa não precisa de trabalhar ao sábado para conseguir produzir. “É uma questão de planificação, de fazer investimento naquilo que é o seu projecto de produção. A Autoeuropa, sempre que trabalhou ao sábado, foi por proposta aos trabalhadores e não por imposição. E aquilo que os trabalhadores dizem, mesmo hoje, é que não põem em causa a possibilidade de trabalhar ao sábado, mas que o querem fazer por opção e não por imposição. E como é que se encontra solução? Neste caso em concreto é a Autoeuropa a dizer, sim, senhor, se trabalharem ao sábado eu compenso-vos com “x”, que era aquilo que se fazia até agora”, diz ao Jornal de Negócios.
A Autoeuropa promete pagar os sábados ao valor normal de um dia de trabalho acrescido de 100%. A este valor pago pelo trabalho ao sábado a empresa admite juntar ainda mais 25%, caso sejam cumpridos os objectivos de produção trimestrais.
Os novos horários prevêem quatro fins-de-semana completos e mais um período de dois dias consecutivos de folga em cada dois meses para cada trabalhador. O primeiro sábado de trabalho obrigatório na Autoeuropa será no próximo dia 3 de Fevereiro.
Apesar das garantias dadas pela empresa de vai pagar os sábados com um acréscimo de 100% em relação ao que paga por um dia normal de trabalho, a Comissão de Trabalhadores e o sindicato mais representativo na empresa, o SITESUL - Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul, alegam que a Autoeuropa pretende pagar os sábados como um dia normal de trabalho e que isso será demonstrado nos recibos de vencimento de Fevereiro.
Esta semana também poderá ser importante no que respeita ao caderno reivindicativo, estando já marcadas para dia 1 de Fevereiro várias reuniões plenárias em que a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa deverá fazer um ponto de situação das negociações com a administração da empresa, ou comunicar um eventual pré-acordo que possa vir a ser conseguido nos próximos dias. Para mais tarde, Abril ou Maio, fica a discussão sobre o horário que será implementado na Autoeuropa a partir do mês de Agosto.
"Luta foi introduzida na opinião pública de forma inadequada"
Para o líder da CGTP, a discussão do horário da Autoeuropa, “é uma luta que foi introduzida na opinião pública de forma inadequada, e sobretudo, foi manipulada”. “Foi um conflito que imediatamente se tornou viral do ponto de vista das interpretações políticas e da oportunidade para que uns pudessem ganhar aqui algum espaço de manobra para desenvolver uma outra lógica de pensamento, a de que se mexem com a legislação do trabalho então é que estes e outros se vão embora. E isso não é assim”, acrescenta.
“Se partirmos do princípio que os trabalhadores de uma multinacional têm de fazer aquilo que ela quer e não podem manifestar a sua oposição, então não estamos num processo negocial, de diálogo, mas sim num processo em que os trabalhadores estão sistematicamente a serem chantageados: ou acatas ou ficas sem emprego. Isto não pode funcionar assim”, avalia Arménio Carlos, pedindo “estabilidade” numa “conversa à mesa”.
Sobre a possibilidade de uma nova greve, Arménio Carlos diz que “serão sempre os trabalhadores a decidir”. “A CGTP tem uma opinião e já a expressou: é necessário continuar o diálogo e a negociação, sem excluir qualquer forma de luta. Agora, também já dissemos, como é que o problema se pode resolver. Não coloquem todo o peso em cima dos trabalhadores porque a responsabilidade também está na Autoeuropa e na sua administração”, sublinha