Os plásticos estão a fazer com que os corais adoeçam (ainda mais)
Não são uma boa companhia para os corais. E os cientistas prevêem que a presença de plásticos nos recifes aumente as doenças nos corais entre 4% e 89%.
Já se sabia que os corais andam doentes. Afinal, estão a enfrentar branqueamentos que podem levar à sua morte. Também já se sabia que os plásticos estão a poluir os oceanos e a afectar os ecossistemas. Agora, os cientistas quiseram saber quantos plásticos estão nos recifes de coral do Pacífico nas regiões asiáticas e como isso afecta este ecossistema. Estima-se num artigo científico na revista Science desta sexta-feira que haja cerca de 11.000 milhões de objectos de plásticos nesses recifes de coral. Além disso, percebeu-se que a presença de plásticos aumenta o risco de doenças nos corais entre 4% e 89%, dependendo dos corais.
Estudos anteriores já tinham mostrado que os restos de plástico podiam prejudicar os corais. Porque podem “roubar-lhes” luz e oxigénio, essenciais para processos como a fotossíntese, e podem ainda abrir caminho para uma invasão de agentes patogénicos, que podem provocar doenças.
Agora uma equipa de cientistas liderada por Joleah Lamb, da Universidade de Cornell (Estados Unidos), fez um levantamento da presença de plásticos em 124 mil corais de mais de 150 recifes do Pacífico na parte asiática entre 2011 e 2014. Afinal, esta zona do planeta tem cerca de 55% dos recifes de coral existentes.
A equipa detectou plástico num terço de todos os corais analisados. Os recifes perto da Indonésia eram os que tinham mais plástico e os da Austrália os que tinham menos. Ao todo, encontraram os cerca de 11.000 milhões de objectos de plástico. Concluiu-se ainda que é oito vezes mais provável encontrar restos de plástico nos recifes de coral com grande complexidade estrutural, como os que têm uma estrutura ramificada.
No geral, verificou-se que a presença de plásticos aumenta 20 vezes o risco de doenças nos corais. “Os corais que formam os recifes em contacto com os restos de plástico foram afectados, entre seis doenças comuns, por quatro dessas doenças a nível global. Por outro lado, os corais sem os restos de plástico foram afectados por essas seis doenças, mas com níveis de prevalência muito mais baixos”, lê-se no artigo científico.
E que doenças são essas? Por exemplo, são a banda-de-erosão-do-esqueleto, associada à perda de tecidos nos corais; ou a doença da banda-preta, em que os tecidos se degradam e forma-se uma banda negra. “Os restos de plástico podem causar lesões físicas e abrasão nos tecidos dos corais, ao facilitar a invasão de agentes patogénicos”, refere ainda o artigo.
Mas, os cientistas ainda nos trazem outra má notícia: o número de objectos de plástico pode crescer para cerca de 15.000 milhões em 2025 (um aumento de cerca de 40% face a 2014). Algo que pode ser um problema também para as pessoas que vivem do turismo e dos recursos destes ecossistemas. “Com mais de 275 milhões de pessoas dependentes da comida, protecção costeira, receitas do turismo e da importância cultural dos recifes de coral, moderar a explosão do risco de doenças nos oceanos deverá ser vital para melhorar a saúde humana e a destes ecossistemas”, alertam os cientistas no artigo.
E relembremos ainda (outra vez) que os corais estão a passar por branqueamentos em massa e pelo ataque de um surto da estrela-do-mar Acanthaster planci (também conhecida como “coroa-de-espinhos”), que usa as suas enzimas digestivas para desfazer os tecidos dos corais.