“É incrível que um curador jovem seja director de Serralves”
Três gerações de curadores comentam a escolha de João Ribas para dirigir o museu.
O actual subdirector do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, João Fernandes, diz que o novo director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, tem “uma biografia impressionante para a sua idade”. Fernandes, que foi director daquele museu antes de aceitar o cargo em Madrid, diz que aos 38 anos Ribas já desenvolveu projectos de curadoria que mostram grande maturidade.
E como João Ribas já conhece o Museu de Serralves, uma vez que até agora foi o seu director-adjunto, “tem a facilidade de poder cruzar o contexto artístico português e internacional”, numa instituição que lhe permite “construir um percurso artístico e curatorial bastante interessante por aquilo que é no contexto da arte contemporânea”.
Quanto aos desafios do novo director, João Fernandes chama a atenção, em primeiro lugar, para a necessidade “de continuar a desenvolver a colecção como um projecto de internacionalização do museu”. Dentro dessa ambição, a nova direcção deve também “continuar a investigação histórica sobre o núcleo fundador da colecção, os anos 60 e 70, e saber actualizá-lo em relação ao que se passa na arte contemporânea”.
No contexto das instituições de referência, entre as quais João Fernandes coloca o museu do Porto, o novo director tem de “manter a singularidade de Serralves”. Ribas deve igualmente contribuir, defende João Fernandes, “para que o meio artístico português encontre em Serralves uma possibilidade de expressão do que melhor acontece”, procurando mostrar “nomes que acrescentem uma visão diferente da dos museus dominantes, claramente influenciados pelo mercado”.
A curadora independente Luiza Teixeira de Freitas, de 33 anos, que trabalha regularmente no Brasil, confessa que estava à espera de um nome brasileiro, uma vez que muitos colegas lhe disseram que tinham concorrido a Serralves. "Acho incrível que um curador jovem seja director de Serralves. É de se lhe tirar o chapéu não ser preciso esperar pelos 60 anos para mudar as coisas. Conheço o trabalho do João desde que estava no Drawing Center em Nova Iorque e é poderosíssimo.”
Para Luiza Teixeira de Freitas, que tem as nacionalidades brasileira e portuguesa, a escolha de João Ribas vem validar a importância de as pessoas terem mundo: “É uma pessoa que esteve em Boston, que esteve em Nova Iorque, que foi, viu e voltou.”
O grande desafio, uma vez que a escolha recaiu sobre um português, “é manter a internacionalidade do museu”: “É um museu extremamente internacional. É preciso que não se torne uma coisa local. Nunca o foi com o João Fernandes, portanto também não acho que vá ser com o João Ribas.”
Também João Mourão, do Kunsthalle Lissabon, um espaço independente que expõe arte contemporânea em Lisboa, diz que é uma escolha “bastante simpática e importante”. Este curador da geração de João Ribas acrescenta que todas as pessoas do meio com quem falou desde o anúncio se têm mostrado contentes: “É uma escolha com que toda a gente estava a contar. Parece-me uma escolha mais segura, porque conhece o modus operandi. É boa para o meio das artes plásticas portuguesas.” Na sua opinião, João Ribas “tem feito um esforço assinalável no sentido da internacionalização dos artistas portugueses”, por exemplo com a exposição de Helena Almeida, que circulou internacionalmente a partir de Serralves, de Paris a Bruxelas, mas também com o seu trabalho independente, como na quarta Bienal dos Urais em 2017, onde comissariou o projecto principal.