Em situações de emergência médica, as pessoas surdas têm “imensa dificuldade em comunicar com os profissionais de saúde”. É isto que diz a petição pública, online, lançada pelo partido Pessoas Natureza Animais (PAN), em conjunto com a Associação Nacional e Profissional da Interpretação – Língua Gestual (ANAPI-LG) e a Comissão para a Defesa da Língua Gestual Portuguesa que solicita “a contratação de intérpretes de língua gestual portuguesa para o Serviço Nacional de Saúde”.
A inclusão de intérpretes desta língua oficial nos hospitais já era uma das 60 medidas de alteração ao Orçamento do Estado de 2018 apresentadas pelo PAN (Pessoas-Animais-Natueeza), em Novembro último. Na altura, conta ao P3 Cristina Rodrigues, da Comissão Política Nacional do PAN, o partido achava que a proposta iria ser aprovada, mas, no momento da votação, houve partidos que “alteraram o sentido de voto”.
Na petição, lançada no final da semana passada, lê-se que o Estado deve “providenciar formas de assistência humana e ou animal à vida e intermediários, incluindo guias, leitores ou intérpretes profissionais de língua gestual, para facilitar a acessibilidade aos edifícios e outras instalações abertas ao público”.
Cristina Rodrigues considera que, em Portugal, principalmente devido a “dificuldades orçamentais”, ainda “não estão asseguradas as acessibilidades das pessoas surdas aos serviços públicos”. O ideal, acrescenta, é colmatar esta falha em todos os serviços hospitalares, mas a situação mais urgente, para já, é a inclusão destes profissionais em todos os hospitais portugueses.
“Não é justo, mas o cidadão surdo que vá ao médico de família no centro de saúde pode planear a consulta com antecedência e ser acompanhado por um familiar ou um intérprete”, explica, acrescentando que “o mesmo não se passará em situações de emergência, em que a pessoa surda não tem a possibilidade de organizar uma ida ao hospital acompanhada de um intérprete”.
Quanto às alternativas existentes à contratação de intérpretes, como os projectos-piloto que possibilitam a comunicação através dos computadores, os criadores da petição assumem que a dependência a uma “ligação à Internet” e as “variações existentes na língua gestual portuguesa” não permitem que o seu uso substitua a comunicação presencial entre a pessoa surda e o intérprete, de modo a prevenir erros na interpretação.
Os criadores da petição consideram que a contratação de intérpretes para o Serviço Nacional de Saúde é “a única forma de garantir definitivamente a acessibilidade de pessoas surdas à saúde”. Durante a primeira semana, a petição já reuniu quase 1500 assinaturas, o que leva Cristina Rodrigues a acreditar que as 4000 assinaturas necessárias para o assunto ir à Assembleia da República serão “rapidamente” conseguidas.
Nesta segunda-feira, 22 de Janeiro, assinalou-se o Dia do Intérprete de Língua Gestual Portuguesa, uma profissão com 18 anos.