Corte de impostos de Trump faz FMI rever previsões em alta
Fundo vê impacto positivo de curto prazo na economia, mas avisa que as condições favoráveis ao crescimento não vão durar para sempre.
Os cortes nos impostos que Donal Trump e o congresso norte-americano aprovaram no final do ano passado vai dar à economia mundial um estímulo de curto prazo significativo, defende o Fundo Monetário Internacional (FMI), que ainda assim avisa que as políticas seguidas actualmente e a forma como a desigualdade se tem vindo a agravar não são sustentáveis.
A actualização das previsões que o FMI tinha efectuado em Outubro foi apresentada esta segunda-feira em Davos e dá aos líderes políticos e empresariais que se irão reunir na estância turística suíça mais motivos para estarem optimistas. O Fundo diz agora que a economia mundial irá registar em 2018 e em 2019 uma taxa de crescimento de 3,9%, um valor que, não só constitui uma aceleração face aos 3,7% de 2017, como representa uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais face às projecções realizadas em Outubro para este e o próximo ano.
A principal razão dada pelo FMI para esta mudança de expectativas é o facto de, nos Estados Unidos, ter sido aprovado um corte de impostos, que se irá fazer sentir tanto nos particulares com nas empresas. O relatório assinala que a revisão nas previsões “reflecte o maior ritmo de crescimento global registado e o impacto esperado das mudanças de política fiscal recentemente aprovadas nos EUA”.
A melhoria das previsões não se regista apenas nos EUA, e é também significativa na Europa. O FMI antecipa agora que a zona euro cresça 2,2% este ano e 2% no próximo, uma melhoria em relação a Outubro de 0,3 pontos para cada um dos anos. A economia alemã destaca-se e é vista a crescer mais 0,5 pontos percentuais do que anteriormente.
Em relação a Portugal (e a vários outros países de menor dimensão), o FMI não divulga neste relatório novas previsões. No entanto, tendo em conta a importância que as exportações estão a ter no desempenho económico português, uma melhoria da conjuntura internacional – e em particular dos outros países da Zona Euro – pode vir a ter consequências positivas para o país.
Para os EUA, o Fundo prevê agora crescimentos de 2,7% e 2,5% em 2018 e 2019, respectivamente, quando em Outubro não ia além de 2,3% e 1,9%.
No relatório, o FMI explica que, com a redução de impostos, se torna provável um efeito de curto prazo significativo no investimento e no consumo da maior economia do planeta, que poderá contagiar o resto do mundo.
No entanto, o FMI não se limitou a dar sinais de maior optimismo. No relatório, os responsáveis da entidade com sede em Washington alertam que os factores que nesta fase estão a contribuir para um impulso da economia mundial não se poderão prolongar por muito mais tempo e pedem que os Governo tomem em antecipação medidas que permitam aumentar o crescimento potencial e minimizar o risco de entrada numa nova crise.
Na conferência de imprensa de apresentação das novas previsões, Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, mostrou estar preocupado com a possibilidade de estarem a ocorrer excessos nas valorizações dos mercados accionistas e defendeu que fenómenos como o agravamento da desigualdade podem mesmo conduzir, caso não comecem a ser rapidamente combatidos, a situações de ruptura de grande gravidade. “Os líderes políticos e os responsáveis pelas políticas económicas têm estar conscientes que o actual momento de crescimento económico reflecte uma confluência de factores que não é provável que se mantenha por muito mais tempo”, disse.