Associação Zero acusa Governo de manipular dados da reciclagem

Agência Portuguesa do Ambiente declarou 1,29 milhões de toneladas de resíduos urbanos reciclados, em 2016. No entanto, os Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos menos 269 mil toneladas — que terão sido enviadas para aterro ou para incineração.

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Mario Lopes Pereira

A associação ambientalista Zero acusa o Governo de manipular os dados dos resíduos urbanos, declarando como recicladas quase 270 mil toneladas que foram para aterros, recebendo assim mais dinheiro e apresentando um melhor desempenho.

Em comunicado, a Zero refere nesta terça-feira que cruzou números da reciclagem que pediu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), na dependência do Ministério do Ambiente, com os totais de resíduos urbanos no Relatório de Estado do Ambiente de 2017.

A APA declarou como recicladas 1,29 milhões de toneladas de resíduos urbanos em 2016, mas o total declarado pelos Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos indica uma reciclagem total de 1,03 milhões de toneladas.

"Trata-se obviamente de uma manipulação grosseira dos dados da reciclagem que visa aumentar artificialmente a taxa de reciclagem com base numa realidade fictícia que infelizmente está muito desfasada da realidade que se encontra no terreno", acusa a associação.

A Zero salienta que "essas 268.709 toneladas que a APA considera como recicladas foram enviadas para aterro ou incineração e que, por isso, pagaram Taxa de Gestão de Resíduos (TGR) ao Ministério do Ambiente".

Além de receber esse dinheiro, o Ministério pôde apresentar melhor desempenho ambiental, mas a Zero lembra que esta diferença significa oito pontos percentuais a menos na taxa de reciclagem oficial, que foi de 38%.

Para a Zero, esta situação mostra "não só uma total falta de transparência no processamento de dados ambientais por parte das entidades oficiais, mas também uma tentativa de esconder dos cidadãos e da União Europeia o mais que evidente colapso das políticas públicas de gestão dos resíduos sólidos urbanos".

"A Zero já solicitou ao Ministério do Ambiente que corrija de imediato os dados errados sobre a reciclagem de resíduos urbanos que constam no Relatório do Estado do Ambiente relativos a 2016, por forma a que a anunciada revisão extraordinária do Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos seja baseada em dados credíveis", acrescenta a associação.