Rio não será “politicamente correcto”, mesmo que isso choque a corte lisboeta
O sucessor de Pedro Passos Coelho começa por estes dias a fazer convites para os órgãos nacionais do partido.
Quando no sábado Rui Rio assumiu a partir do Porto a vitória das eleições directas no PSD deu um sinal de que, com ele na liderança do partido, muita coisa pode mudar, a partir do momento em que tomar posse como novo líder dos sociais-democratas. Logo nessa noite houve quem se insurgisse contra a opção de ficar no Porto, considerando que novo líder deveria fazer o seu discurso de vitória a partir da capital.
Indiferente a quem pensa diferente, Rui Rio não pretende mudar-se de armas e bagagens para Lisboa, optando, para já, por manter a sua residência no Porto. E a estratégia deve passar por estar uma parte da semana em Lisboa e outra no Porto, onde tem a família, até porque este é o tempo de ouvir as pessoas e de fazer convites para os órgãos nacionais do partido.
“Rui Rio não é pessoa para fazer grandes cedências ao politicamente correcto, ele faz aquilo que deve fazer em cada momento, é um homem com apurado sentido do dever e, portanto, faz aquilo que deve e não aquilo que é politicamente correcto”, declara o antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional de Passos Coelho e ex-presidente da Câmara de São João da Madeira, Castro Almeida.
Quem o conhece bem, como é o caso de Castro Almeida, sabe que o ex-autarca do Porto vai fazer o que entender, mesmo que isso choque a “corte lisboeta”. O futuro inquilino da São Caetano à Lapa é um homem muito meticuloso e um estudioso profundo dos dossiers e não lhe basta saber para onde vai - quando se desloca a algum lugar, sabe a que horas vai chegar, onde é que o carro vai parar e quem o vai receber. “Com o dr.Rui Rio, não existe ‘devo chegar pelas 15h/15h30.’ Ele sabe exactamente a que horas vai chegar e é exactamente assim”, confidencia fonte social-democrata, notando que há um rigor em tudo o faz. A propósito, acrescenta que “cada palavra do discurso de vitória que o novo líder do PSD leu na noite eleitoral foi meticulosamente pensada”.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, afirma categórico: “Estamos a falar de uma viragem no modelo de actuação política em Portugal. Até agora vigorava o modelo do politicamente correcto, mas Rui Rio não é pessoa para privilegiar o politicamente correcto, foi assim na Câmara do Porto e em termos nacionais vai fazer a mesma coisa”.
Declarando que as “férias acabaram para o Governo de António Costa”, António Tavares, que é o responsável pela área social da moção de estratégia global que o novo líder do partido vai levar ao congresso nacional, em meados de Fevereiro, não tem dúvidas de que, com Rui Rio ao leme do PSD, “vai também acabar a deriva do partido, ao sabor das ondas”.
Daqui até ao congresso – diz ainda António Tavares –, o presidente do partido vai aproveitar para falar com as pessoas e tentar perceber como estão as coisas no grupo parlamentar e na secretaria-geral, e vai aguardar por aquilo que lhe vão dizer. “Este é o tempo do congresso, de preparar as listas”, diz.
Depois de mais de um ano no terreno, Rui Rio chega à liderança do PSD com a colaboração de figuras do partido, mas também com pessoas que não têm filiação partidária. A esta equipa, a trabalhar com Rio há mais de um ano, também se juntaram apoiantes mais recentes e que tiveram um papel importante na eleição do novo líder, como aconteceu com o deputado Pedro Alves, presidente da distrital do PSD de Viseu. O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, era o mandatário nacional de Santana Lopes.
O antigo ministro da Educação e ex-assessor político de Cavaco Silva, David Justino, responsável pela coordenação da moção de estratégia global do novo líder do PSD, é uma das figuras que se destacam nesta equipa que está com Rio desde que este ponderou apresentar uma candidatura à Presidência da República – um projecto do qual desistiu, a partir do momento em que Marcelo Rebelo de Sousa disse que seria candidato a Belém.
De resto, David Justino é uma pessoa que “Rio ouve com muita frequência” e, na opinião de várias pessoas contactadas pelo PÚBLICO, “fez um trabalho notável” a nível da moção de estratégia global.
“Enorme cumplicidade política”
Não se pode dizer que Rio tenha um núcleo duro propriamente dito. O seu grande estratega político é o professor universitário Manuel Teixeira, que foi director do jornal O Comércio do Porto, administrador do grupo Lusomundo e também chefe de gabinete de Rui Rio na Câmara do Porto. São de uma “enorme cumplicidade política”. Conhecem-se há muitos anos, desde o tempo em que o agora líder do PSD era um jovem estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. A partir daí nasceu uma forte e longa amizade que não passa por partilharem férias juntos, mas por projectos políticos. Com Manuel Teixeira na direcção de O Comércio do Porto, os jovens sociais-democratas Rui Rio, José Pedro Aguiar-Branco, José Puig e Agostinho Branquinho são convidados a escrever no jornal, ganhando notoriedade pública.
O ex-chefe de gabinete de Rio nunca aparece, opta por uma estratégia de retaguarda, de low-profile, mas é com ele que discute todas as questões e todas as hipóteses e foi pela pena deste professor do Instituto Superior de Línguas e Administração que passaram os principais documentos e as intervenções de fundo feitas pelo candidato ao longo da campanha. E não foi por acaso que, durante a campanha para as directas, Rio quis saber o que pensavam os militantes (contactou mais de 15 mil) da possibilidade de o PSD viabilizar um Governo minoritário do PS. As respostas foram… positivas. Daí que, quando o candidato lançou o tema na recta final da campanha, estava respaldado no “sim” dos militantes que lhe deram a vitória e que, na opinião de um elemento campanha, “abalou muita gente”.