"Os alunos têm mais a dizer do que as pessoas pensam"
No “Dia do Perfil do Aluno”, o Agrupamento de Escolas de Caneças vai pôr os estudantes mais velhos a falar com os mais novos sobre estratégias para melhorar as aprendizagens. Uma iniciativa para se juntar às que rompem a rotina, numa das escolas que está a testar a flexibilidade curricular.
Esta segunda-feira será diferente nas escolas do ensino básico e secundário de Caneças. Para marcar o “Dia do Perfil do Aluno”, o agrupamento optou por colocar em contacto os alunos mais velhos, do 12.º ano, e os mais novos, do 5.º, 6.º e 7.º, e promover o debate sobre o que pode ser feito para fomentar a aquisição de competências que devem orientar a aprendizagem.
Para que isso aconteça, “vai haver uma assembleia onde vamos juntar alunos do ensino básico e perguntar-lhes o que se pode fazer para atingir o perfil do aluno”, detalha Alice Neves, de 17 anos, uma das estudantes encarregue de dinamizar este dia. A aluna do 12.º, que já está decidida em seguir a via das ciências políticas, defende que “esta iniciativa mostra que os miúdos mais pequenos têm uma voz que pode ser ouvida” e lamenta que os mais velhos só agora tenham essa oportunidade.
A ideia, explica Iolanda Martins, outra das alunas que participa na dinamização do dia, é dar uma “voz” aos estudantes no que toca à aprendizagem, ensino e papel da escola na educação dos jovens. “Os alunos têm mais a dizer do que as pessoas pensam”, defende a aluna, que se mostra confiante de que no final do dia haverá ideias produtivas. “Isto serve para que eles sintam que marcam a diferença.”
O director do agrupamento, Fernando Costa, defende que “a relação com a escola muda, só por os miúdos serem ouvidos e envolvidos no processo de trabalho”. A seu tempo, os estudantes mais velhos que hoje promovem a dinamização da iniciativa terão também oportunidade de expor as suas ideias aos professores e direcção da escola. “Estamos a pensar organizar alguma coisa lá para o final de Janeiro, início de Fevereiro”, diz Dora Pinheiro, subdirectora.
O "Dia do Perfil do Aluno" acontece hoje em várias escolas e comunidades educativas do país que se associaram a esta iniciativa promovida pelo Ministério da Educação e a Federação Nacional de Associações de Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário. Como o nome indica, vem na sequência da proposta elaborada há um ano por um grupo de trabalho coordenado por Guilherme d' Oliveira Martins sobre as competências que os estudantes devem ter à saída da escolaridade obrigatória.
“Ainda é cedo” para avaliações
Maria Inês, de 12 anos, é uma das alunas que vai ser ouvida durante o dia. Por ser estudante do 7.º ano, beneficia também do regime de flexibilidade curricular que a escola adoptou para este nível de ensino, algo que lhe agrada, “apesar de estarmos sempre em grupos e haver gente que não trabalha”, nota.
A Escola Básica de Caneças é uma das 235 que está a testar o regime de flexibilidade curricular, que para os alunos do 5.º e 7.º ano se traduz numa nova disciplina dedicada à educação para a cidadania e mais horas dedicadas à aprendizagem em grupo. A ideia foi posta em prática este ano lectivo (2017/2018), pelo que Paulo Falardo, coordenador do 7.º ano e responsável pelo novo modelo de organização curricular nesta instituição, diz que “ainda é cedo” para avaliar os resultados.
Ainda assim, já é possível falar de aspectos positivos e negativos. Por um lado, “há uma visão diferente da escola” por parte dos alunos e isso é bom. Mas, por outro, ainda se nota “algum desnorte, tanto para os professores como para os alunos”. Quanto aos pais, “a maioria acha que faz sentido”, assegura Paulo Falardo. No próximo ano lectivo, a escola prevê avançar com este regime para os estudantes do 10.º ano e garantir que os alunos que estão hoje no 7.º ano vão poder prossegui-lo no 8.º.
Já Fernando Costa destaca que “[os alunos] apercebem-se que conseguem fazer coisas que nem imaginavam”. Apesar da participação da escola enquanto projecto-piloto, “em termos de recursos materiais não tem havido grandes investimentos na renovação do parque informático”, diz Fernando Costa. “Se tivéssemos outras condições podíamos fazer ainda melhor do que estamos a fazer”, assegura o director do agrupamento.