Paisagem de Sistelo já é monumento nacional
A aldeia, em Arcos de Valdevez, situa-se às portas do Parque Nacional de Peneda-Gerês. O decreto foi promulgado em Dezembro pelo Presidente da República.
O decreto que classifica como monumento nacional a paisagem cultural da aldeia de Sistelo, em Arcos de Valdevez, considerada o 'pequeno Tibete português', foi publicado nesta segunda-feira em Diário da República. Este é o primeiro reconhecimento do género a ser atribuído em Portugal.
De acordo com o decreto, que tinha sido promulgado em Dezembro pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a Paisagem Cultural de Sistelo "é composta por um espaço natural de superior qualidade paisagística, natural e ambiental, ao qual se soma um notável património etnográfico e histórico cuja preservação e autenticidade é fundamental garantir, sobretudo quando são reconhecíveis as ameaças com que se deparam as economias tradicionais e a organização do mundo rural".
O texto realça "o carácter matricial, o interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos, o valor estético, técnico e material intrínseco, a concepção arquitectónica e paisagística, a extensão e o que nela se reflecte do ponto de vista da memória colectiva, e as circunstâncias susceptíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade".
A Paisagem Cultural de Sistelo, no concelho de Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, abrange os lugares de Igreja, Padrão e Porta Cova, "encastoados entre o troço inicial do rio Vez e a serra da Peneda, e rodeados pelos icónicos socalcos do vale fluvial e pelas brandas de montanha".
"A profunda relação entre as populações desta região e o seu território, denunciadora do carácter agropecuário e familiar da economia local, conduziu à estruturação de uma paisagem única, caracterizada não apenas pelo mosaico de formas de ocupação do solo mas igualmente pelo domínio de uma arquitectura vernácula centrada no uso do granito, que moldou a feição de habitações, templos, pontes e calçadas", sustenta o diploma hoje publicado.
De "remota origem medieval, Sistelo teve desde cedo o seu território organizado pela acção humana". As zonas com melhor insolação foram "reservadas" para "os núcleos de espigueiros, a margem do rio para a implantação de moinhos, as distintas altitudes de montanha para os estreitos socalcos e levadas onde se cultiva, desde o século XVI, o milho, e, já perto do topo da serra, as áreas planas de pasto e cultivo para a prática da pastorícia transumante nas cotas mais altas, ainda pontuadas por peculiares abrigos e currais", lê-se no documento.
O diploma foi promulgado pelo Presidente da República, a 29 de Dezembro, a partir do hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde se encontrava depois de uma cirurgia a uma hérnia umbilical. A classificação foi aprovada num Conselho de Ministros de 7 de Dezembro, que fixou "restrições para a protecção e salvaguarda da aldeia de Sistelo e paisagem envolvente".
Encaixada no fundo de um vale, situado às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a aldeia de Sistelo integra a Rede Natura. Os socalcos verdes, junto ao rio Vez, representativos "da relação que o homem desenvolveu com a natureza e a forma como a moldou", as casas típicas, os moinhos e os espigueiros são "marcas de um passado com centenas de anos".
O processo de classificação começou, em 2015, com a apresentação da candidatura, pela Câmara e pela Direção Regional de Cultura do Norte, à Direção Geral do Património Cultural, que o remeteu para Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, tendo sido aprovada por unanimidade.