Zuckerberg e a resolução de fazer “a coisa certa”

No início do mês, o fundador do Facebook fez uma ambiciosa resolução de ano novo. Agora, afirmou que está disposto a cumpri-la, mesmo que isso custe ao negócio.

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LUSA/Alberto Estevez

Todos os anos, Mark Zuckerberg faz uma resolução de Ano Novo. Uma vez decidiu comer carne apenas de animais que tivesse ele próprio morto. Outra vez, usou uma gravata todos os dias, para se lembrar de que aquele era um ano “sério” em que era preciso pôr o Facebook a fazer dinheiro. Também já se desafiou a si próprio a visitar todos os estados dos EUA, a aprender mandarim e a ler um livro por mês. Em 2018, a resolução foi a de maior fôlego: reconhecer as falhas e consertar o Facebook.

Esta semana, numa nova publicação, Zuckerberg explicou em traços largos como pretende pôr em prática aquela promessa. O Facebook passará a mostrar menos conteúdos de empresas – órgãos de informação incluídos – e a privilegiar as publicações de amigos e familiares. E os funcionários da empresa, que há anos tentam agarrar os utilizadores à plataforma para lhes mostrar tanta publicidade quanto possível, estarão focados em assegurar que o tempo no Facebook é “tempo bem passado”.

Não é difícil adivinhar um peso de consciência nas entrelinhas daquela publicação. “Com um grande poder vem uma grande responsabilidade” é uma frase que foi dita – com variações – por estadistas e personagens de banda desenhada. Apesar do seu enorme poder (o Facebook é usado por cerca de um quarto da Humanidade), a rede social tem tido problemas em lidar com a responsabilidade. O episódio da remoção de uma fotografia da guerra do Vietname que mostrava uma criança nua veio mostrar que a empresa não fazia distinções entre pornografia infantil e uma imagem icónica da História do século XX (a fotografia foi reposta e as regras, revistas). Os anúncios e outros estratagemas russos para tentar influenciar as eleições norte-americanas levaram a uma investigação das autoridades dos EUA. A desinformação e notícias falsas têm sido uma pedra no sapato difícil de remover.

Zuckerberg parece também preocupado com um tipo de críticas de que o Facebook tem sido alvo nos últimos meses, incluindo por parte de um antigo executivo e de jornalistas proeminentes: a rede social acaba por prejudicar os utilizadores, que gastam tempo a ver vídeos inúteis, comparam as suas próprias vidas com as dos outros, e fazem depender parte do seu bem-estar do número de likes que conseguem.

A estratégia anunciada esta semana não é nova. A empresa já tinha dito há muito que ia dar prioridade aos conteúdos dos amigos. Em seis pequenos países até fez uma “experiência” drástica, em que passou todos os conteúdos dos jornais para um feed à parte.

Mas o presidente do Facebook parece agora disposto a correr riscos. “Ao fazer estas mudanças, antecipo que o tempo que as pessoas passam no Facebook e que algumas métricas de interacção vão descer”, afirmou, referindo-se a indicadores que são importantes para vender anúncios. “Mas também espero que o tempo que passam no Facebook seja mais valioso. E se fizermos a coisa certa, acredito que também será bom para a comunidade e para o nosso negócio a longo prazo.”

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