The Portuguese, o musical absurdo para turistas

Estreia-se este sábado no Casino de Lisboa uma comédia virada para aqueles que visitam o nosso país, a contar os feitos, defeitos e virtudes do povo português. Escrita por Rui Cardoso Martins e Filipe Homem Fonseca, é encenada por Sónia Aragão e tem direcção artística de Ana Brito e Cunha. A primeira sessão já está esgotada.

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The Portuguese, uma comédia musical Nuno Ferreira Santos
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Rui Cardoso Martins Nuno Ferreira Santos
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A actriz Ana Brito e Cunha, responsável pela direcção artística Nuno Ferreira Santos
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The Portuguese, uma comédia musical Nuno Ferreira Santos

Uma rivalidade entre Luís de Camões e Fernando Pessoa. Uma partida de póquer entre António de Oliveira Salazar e James Bond. Amália Rodrigues a cantar num pequeno beco de Alfama ao lado dos já mencionados rivais poéticos, enquanto um casal de turistas que está a travessar uma fase confusa se desentende. Estas são algumas das situações que surgem em The Portuguese, uma comédia musical que se estreia às 18h30 de sábado no Auditório dos Oceanos do Casino de Lisboa e se manterá pelo menos até ao final de Março com sessões às terças, quintas e sábados.

Falado em inglês por um elenco de actores portugueses, é um musical feito de canções originais e versões de temas portugueses e estrangeiros, de Amália aos ABBA, passando pelas Spice Girls. “Isto é uma granda maradice que eu ainda não sei muito bem o que é”, diz ao PÚBLICO a actriz Ana Brito e Cunha, responsável pela direcção artística (a encenação propriamente dita é de Sónia Aragão). A ideia partiu, explica, “de uma vontade de mostrar Portugal ao mundo”. É um espectáculo que está a ser preparado desde 2015, mas tem sido adiado até agora.

No espectáculo, assegura, “mostra-se um bocadinho de nós” e “olha-se para os portugueses com humor e não com saudade e tristeza”. Mas, adverte, “não é só gargalhada, há momentos poéticos da evolução da nossa história”. “Acima de tudo”, prossegue, “[olha-se para tudo] com humor e a acreditar que podemos ser melhores e que podemos triunfar e chegar longe.” Ainda avisa que este não é um espectáculo “para pensar, não é nada intelectual, não é nada para a parte de trás do cérebro”, até “porque o objectivo é tentar chegar ao maior número de pessoas, principalmente num projecto destes que é pioneiro”.

Rui Cardoso Martins, o escritor – e ex-jornalista e cronista do PÚBLICO – que assinou o guião a meias com Filipe Homem Fonseca, desvenda o processo de criativo: “Tivemos de fazer uma inversão mental curiosa. O que é que vamos dizer, nós portugueses, para uma pessoa que não fala português e não é de cá, sem deixarmos de pensar que pode ser visto por portugueses? O que é que podemos encontrar de universal ou particular, que dê para fazer um espectáculo para alguém que venha de fora, que obviamente terá algumas referências da História de Portugal?” E tentaram, elucida, “encontrar uma forma sarcástica, cómica, às vezes musical de o fazer”, como fazem desde que começaram a trabalhar juntos no Contra-Informação.

O autor resume a história “básica” do musical: “É um casal de turistas que aterra em Lisboa.” Logo aí, no aeroporto, são recebidos por portugueses a cantar e dançar. Depois, prossegue Rui Cardoso Martins, “tudo começa a correr mal e o espectáculo também começa a correr mal”. “E, portanto, terá de ser utilizada aquela ideia de Portugal que é desenrascar, que nós tentámos transformar quase numa marca: ‘to desenrascate’.” E, “como o desenrascanço muitas vezes tem um efeito melhor do que aquele que se espera, ou melhor até do que se tivesse sido sempre programado, assim será”. “Tem qualquer coisa de musical romântico”, adianta o autor, que diz ainda que é um espectáculo “completamente absurdo”.

A abordagem a momentos históricos faz-se de forma leve – batalhas como a de Alcácer Quibir são mostradas, por exemplo, como se fossem lutas entre pauliteiros. Mesmo assim, The Portuguese não se coíbe de “criticar a avareza e a mesquinhez de Salazar ou os disparates da luta em que Portugal se iniciou, entre o D. Afonso Henriques e a própria mãe”, nem de mostrar “a violência” da expansão marítima portuguesa, que é representada em cima do palco com banheiras sobre rodas a fazerem de caravelas e em que também aparece, por exemplo, Pessoa. “[Mas] há coisas em que não podemos tocar, que são universais e reconhecidas em todo o mundo, como o mito de Pedro e Inês. Como é que iríamos fazer uma história tão trágica num espectáculo cómico?”

“Isto não é virado nem para os turistas no sentido de captar os turistas com paninhos quentes, mas também não é contra os turistas”, explica o escritor. Os protagonistas, revela, “são turistas típicos, bem-intencionados, que descobrem os problemas e as virtudes de Portugal”. “[Há] hospitalidade, boa comida, mas também a chico-esperteza e a violência verbal. É um espectáculo para portugueses e para estrangeiros.”

Os cruzamentos entre figuras históricas que ocorrem em cima do palco podem comparar-se com acontecimentos reais. O facto de Madonna ter cantado Elvis Presley numa casa de fado com Celeste Rodrigues, declara Rui Cardoso Martins, “foi uma espécie de prenda simbólica” que os autores receberam. “A partir desse momento estamos completamente à vontade”, remata.

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