Pianos de Laginha e Burmester retomam em 2018 uma parceria criativa “fascinante”

Mário Laginha e Pedro Burmester iniciam na Gulbenkian, este domingo, uma nova série de concertos para dois pianos. Há uma obra de Laginha, em estreia, mas também Piazzolla, Chopin, Debussy e Ravel.

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Mário Laginha e Pedro Burmester DR

O primeiro concerto é este domingo, na Gulbenkian, e já está esgotado. Mas outros virão e vão ser gravados para possível edição de um disco. Os pianistas Mário Laginha e Pedro Burmester retomam assim, em 2018, uma parceria iniciada em finais dos anos 1980 e concretizada num disco, Duetos, editado em 1994 pela Farol. Formaram depois o projecto 3 Pianos com Bernardo Sassetti (1970-2012), mas a morte deste levou-os a um interregno marcado pelo luto. Retomaram a parceria a dois em 2016, apresentando-se no Festival MIMO, em Amarante, ou no Festival de Sintra. E este ano iniciam nova série de concertos, com estreia no Grande Auditório da Gulbenkian, este domingo, às 18h.

O programa, diz Mário Laginha, tem mais ideias de Pedro do que dele. “Na realidade, acertámos o programa como sempre acertamos. Foram aparecendo sugestões. Em Dezembro de 2017 comecei a ter vontade de fazer um arranjo para dois pianos do meu Concerto para Piano e Orquestra. Dei-o ao Pedro e começámos a compor o programa com o Concerto, que é uma obra ainda grande, quase trinta minutos de música, depois juntámos-lhe o Grande Tango do Piazzolla, uma versão para dois pianos de que gostámos muito.” Estas duas peças, juntas, a começar por Piazzolla, preenchem a primeira parte. Depois do intervalo, tocarão Chopin, Debussy e Ravel. Com uma particularidade: a Balada n.º 1 op. 23 de Chopin terá duas versões, primeiro por Laginha, depois por Burmester. “Nos nossos concertos tocamos solos. E aqui decidimos que o solo é o mesmo tema, tocado de maneira original e de uma maneira revisitada”, diz Mário. Burmester remete para Laginha a inspiração: “A bola foi o Mário que a lançou, quando fez o álbum Mongrel. Que é muito interessante, porque é um trio clássico de jazz (bateria, contrabaixo e piano) a tocar só obras de Chopin.” E quando estavam a preparar o programa, Pedro sugeriu a Mário que fizessem ao vivo essa justaposição. “Uma mesma obra na sua leitura original e, duzentos anos depois, impregnada do discurso do jazz.”

Depois, ouvir-se-á Prélude à l’après-midi d’un faune, de Debussy: “O Pedro tinha encontrado uma partitura para dois pianos dessa obra orquestral. Gostámos muito, já a tocámos e vamos tocá-la pela primeira vez em Lisboa.” E o concerto fecha com La Valse, de Ravel, que aliás eles já tinham gravado juntos no disco Duetos: “É uma obra extraordinária, que tocamos há vinte anos”, diz Pedro. “E estes vinte anos de palco trouxeram muita sabedoria para nós. Dá-nos muito gozo tocar o Ravel, que é um compositor que também foi beber a outras músicas, a espanhola ou a asiática.”

Clássica e jazzística

Mas o centro do concerto é a peça de Laginha, em estreia mundial. Diz Burmester: “O motor deste programa é a obra do Mário, o Concerto para Dois Pianos, uma recriação do Concerto para Piano e Orquestra. Que no fundo é simbólica do resultado musical do nosso trabalho destes anos todos. Porque não sendo uma obra clássica não deixa de ter imensas coisas que nós associamos à música clássica; e não sendo uma obra jazzística, porque não tem a componente da improvisação, não deixa de ser uma obra completamente impregnada da linguagem jazzística, do ponto de vista harmónico, melódico ou rítmico. Faz a ponte entre as várias músicas que se podem juntar neste programa.”

Mas mesmo essa obra, escrita por Laginha, é fruto do intenso trabalho de ambos: “O Pedro é genuinamente criativo. Está-lhe no sangue. E apesar de ser um intérprete, se há pessoa que olha para uma partitura e lhe dá volta, de todas as maneiras, é o Pedro. Só para dar um exemplo: no meu Concerto para Piano, eu escrevi tudo, dinâmica, etc. Mas ao longo deste mês e meio, a quantidade de ideias que vieram do Pedro foram imensas. Ele faz-me olhar para a minha música de uma maneira mais profunda. E essa procura de uma interpretação que nos parece ideal naquele momento é absolutamente fascinante, é das coisas que me dá mais prazer.” Pedro Burmester também valoriza muito esta ligação: “Temos um trabalho em conjunto de há quase trinta anos. E é uma relação que vai evoluindo do ponto de vista musical e pessoal, e essa ligação entre o pessoal e o profissional, quando se faz música com outros é importante. Na clássica, no jazz, na ópera, em qualquer música.”

Em palco, este novo concerto será apresentado também no Porto (Casa da Música, 3 de Fevereiro), em Estarreja (Cine-Teatro, 3 de Março), Famalicão (Casa das Artes, 17 de Março) e Viseu (Teatro Viriato, 7 de Abril). E daqui pode sair um disco. “Mais cedo ou mais tarde, até porque começamos a ter repertório, gravaremos um disco novo. O que agora estamos a fazer é gravar os concertos”, diz Mário. Pedro confirma, e acrescenta: “Acho muito mais interessante o registo sonoro do concerto do que ir para estúdio. É no palco que nós vivemos, que nos expomos, e a ficar um testemunho esse é o ideal. Nem que isso implique depois fazer uma espécie de best of dos registos ao vivo.”

Notícia corrigida: o concerto de abertura da nova série é este domingo, e não sábado.

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