Portugal é o terceiro país do mundo que mais comissões paga

Relatório da FIFA traduz aumento da influência dos empresários na intermediação de transferências. Entre Abril de 2016 e de 2017, os clubes nacionais desembolsaram quase 50 milhões de euros.

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Pelo sistema da FIFA passaram, desde 2013, 69.505 negócios de compra e venda de jogadores ARND WIEGMANN/REUTERS

É recorrente a discussão em torno do protagonismo e do peso financeiro que representam os agentes de futebol para as contas dos clubes, especialmente quando é dado o tiro de partida para o ataque ao mercado de transferências. Os mais recentes dados disponibilizados pela FIFA vêm dar conta de uma influência crescente dos intermediários e colocar um número exacto no seu contributo para os negócios: desde 2013, 19,7% das compras e vendas de passes de jogadores realizadas em todo o mundo tiveram o cunho de pelo menos um empresário. E Portugal ocupa um lugar de destaque nas folhas de pagamentos.

O que o organismo que rege o futebol mundial fez foi um apanhado de todas as transferências que passaram pelo Transfer Matching Sytem (uma plataforma digital que reúne os dados de todos os negócios internacionais), desde Janeiro de 2013 (data de implementação do mecanismo) até Novembro passado. Neste período registaram-se 69.505 operações, 13.672 das quais completadas com recurso a (pelo menos) um empresário. A participação dos agentes nesta cadeia de transmissão revela-se mais ou menos expressiva em função da natureza do negócio, já que dos 19,7% enunciados, os números saltam para os 47,8% quando há uma cláusula de rescisão envolvida — ou seja, se não levarmos em linha de conta as transferências a custo zero, com o jogador livre de contrato.

Nesta janela de quase cinco anos, a preponderância dos intermediários foi crescendo, uma tendência que se regista tanto entre os representantes dos clubes compradores (mediaram 726 transferências em 2013 e 1190 nos primeiros 11 meses de 2017), como dos clubes vendedores (193
318) e dos próprios atletas (1819/2246). E que não parece ter sofrido grande impacto com a “liberalização” do acesso ao papel de agente, decretada pela FIFA em Abril de 2015.

Quando se trata de fazer aquisições, Inglaterra domina, quer no total de jogadores intermediados (1181 desde 2013), quer na percentagem que representam face às compras globais (37,7%). Numa tabela em que Portugal não figura entre os dez primeiros, Itália também se situa acima de um terço dos negócios de entradas de jogadores com recurso a agentes (647 e 36%), crescendo em ambos os países a percentagem para dois terços quando os atletas ainda estão sob contrato.

Na qualidade de território futebolístico eminentemente exportador, a Liga portuguesa ganha protagonismo quando se avaliam as vendas. Para colocarem os activos no mercado internacional, os clubes nacionais recorreram aos serviços de empresários 125 vezes desde 2013, o que se traduz em 11% do total de operações. No topo desta hierarquia encontra-se a Itália, com 15,1% (189 transferências concretizadas).

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Aumentar

É no pagamento das comissões, porém, que Portugal ganha maior visibilidade. Numa equação esmagadoramente dominada pelos países da UEFA, ocupa o terceiro lugar na tabela das despesas com intermediação: 135,1 milhões de euros gastos, um valor só superado por Itália (288 milhões) e Inglaterra (421,4 milhões). Ao contrário das grandes Ligas europeias, e fazendo jus ao perfil de gerador de talentos, o campeonato português paga mais aos empresários pelas operações de venda (72,6 milhões) do que de compra (62,5 milhões), o que ajuda também a explicar por que razão está à frente da Alemanha e de Espanha (que geraram mais negócios neste período) no valor global.

De acordo com os dados disponibilizados pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em Abril do ano passado havia 279 intermediários registados no país, tendo desde Abril de 2016 as comissões pagas por jogadores ascendido a 234 mil euros, enquanto os clubes desembolsaram no mesmo período 49,284 milhões de euros em serviços de mediação — ou seja, quase um terço do total registado desde 2013.

Outra tendência que se extrai do documento elaborado pela FIFA é a de os clubes compradores suportarem, por regra, comissões mais elevadas do que os emblemas vendedores, sendo que a percentagem cobrada pelos intermediários é inversamente proporcional ao valor da transferência — quanto mais elevado o montante do negócio, mais baixa é a percentagem. A média, para operações acima dos cinco milhões de dólares (cerca de 4,2 milhões de euros), ronda os 7%.

Para o crescimento dos pagamentos a empresários registado nos últimos cinco anos (passaram de 183 milhões de euros para 374 milhões) contribuiu de forma retumbante o futebol europeu. Na verdade, do total de 1,33 mil milhões de euros despendidos, 97,2% advêm de clubes respeitantes à UEFA. Um desequilíbrio que também pode ilustrar-se desta forma: as seis principais Ligas do continente, incluindo a portuguesa, são responsáveis por 83,5% das despesas mundiais com intermediação.

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