O derradeiro segredo de Fátima?
É pelo trabalho árduo, gestão inovadora e investimento produtivo que alcançaremos a felicidade.
Somos um povo vocacionado para os assuntos da Fé no Altíssimo. Basta um Papa visitar Fátima e a Nação ajoelha-se no altar dos sacrifícios fazendo promessas e colocando velas na pira das tristezas. Somos crentes e gostamos de transmitir a nossa Fé aos gentios descrentes, para que eles possam beneficiar das nossas bem-aventuranças. Em tempos idos, ao lado dos marinheiros, dos soldados e dos comerciantes das caravelas, nunca deixou de estar presente um prior para a colheita das almas! E também para o levantamento dos padrões.
Porém, ocupados que andámos com a conversão das desvairadas gentes nas quatro partidas do Mundo, esquecemo-nos de tratar das nossas fraquezas de pecadores. Sem produção nacional fomos em demanda do Prestes João e do caminho das especiarias. O monopólio do comércio era a nossa visão. O negócio atraiu ingleses, franceses e holandeses que, em caso extremo, piratearam as nossas naus por esses mares nunca dantes navegados. Porém, o destino foi sempre cruel para as nossas aspirações imperiais e mercantis. Alcácer-Quibir não é apenas o nome da tragédia militar que antecipa a perda da independência. É também o fado de ser português! Não é segredo que a dinastia dos Braganças acabou numa poça de sangue no Terreiro do Paço pela mão da Carbonária.
A questão da Fé não é apenas religiosa. É também económica, social, política e agora, até futebolística. Depois da derrota na Taça das Confederações na Rússia, acreditar na selecção nacional campeã do Mundo em Moscovo é mesmo só uma questão de Fé em Fernando Santos. Eu acredito no Profeta!
Em termos económicos, a Fé parece ser um factor decisivo para a conversão das mentalidades pagãs dos nossos recursos humanos. Em Portugal somos pouco produtivos, dizem os entendidos. Por isso a nossa taxa de produtividade cá é baixa. No Luxemburgo somos altamente produtivos, dizem os entendidos. Por isso a nossa taxa de produtividade lá é alta. Lá fora somos bestiais, cá dentro somos bestas! Dizem eles, os entendidos. Mas qual é o segredo? Algum medicamento celestial? O Web Summit que entusiasmou os nossos intelectuais, tecnológicos? Algum animal voador?
Será que é este o derradeiro segredo de Fátima? Pedimos aos anjos e arcanjos que aceitem as nossas preces para que Portugal não fique envolto num nevoeiro mais denso do que aquele que engoliu o nosso saudoso rei D. Sebastião:
Rezemos a seguinte oração:
– Fazei que os nossos queridos turistas nunca nos abandonem
– Fazei com que o PIB voe nas alturas como Jardel no FCP
– Fazei com que as nossas reformas estejam garantidas para além de 2040
– Fazei com os nossos jovens licenciados não emigrem por falta de futuro
– Fazei com que os nossos emigrantes acreditem no nosso sistema financeiro
– Fazei que as nossas florestas não ardam ao ritmo da maratona de Lisboa
– Fazei com que o Estado não nos sobrecarregue de mais impostos
– Perdoai as nossas fraquezas e fazei-nos acreditar que é pelo trabalho árduo, gestão inovadora e investimento produtivo que alcançaremos a felicidade.
CIDADANIA SOCIAL – Associação para a Intervenção e Reflexão de Políticas Sociais – www.cidadaniasocial.pt