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O compositor genial do whiskey Jameson mostra-nos os interessantíssimos instrumentos de que dispõe

Surgiram em 2017 seis maneiras de compreendermos como é feita a composição do Jameson.

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whiskey Jameson tem-se tornado melhor de ano para ano, graças ao talento — eu diria, medindo as palavras, génio — do blender Billy Leighton. É espantoso que se venda em quantidades cada vez maiores mas que a qualidade, em vez de descer, tenha melhorado. Há já uns anos que o Whisky Bible de Jim Murray atribui 96 pontos (em 100, claro) ao Jameson vulgar, um blend de whiskies de pot still e whiskies de grain que, em Portugal, custa 15 ou 16 euros.

Como Jameson é o whiskey que bebo sinto-me à vontade para fazer estas generalizações. É natural que um blend mude de tempos em tempos mas a melhor maneira de observar a evolução (que pode ser negativa) é conhecendo a personalidade do blender, Billy Leighton. Felizmente surgiram em 2017 seis maneiras de compreendermos como é feita a composição do Jameson. Foram lançadas dois trios de whiskies que podem ser entendidos como componentes. 

O primeiro trio é literal: Blender’s Dog enfatiza a escolha do blender, Distiller’s Safe mostra o jeito do destilador, Brian Nation, e Cooper’s Croze concentra-se no papel de Ger Buckley, o director de tanoaria. Falta uma versão que nos mostrasse o papel crucial do tempo.

Infelizmente a Jameson deixou de produzir não só a edição de 15 anos (para mim o melhor whiskey de todos) como a deliciosa garrafa de 12 anos, insubstituível. Ainda se consegue encontrar o Jameson de 18 anos mas, apesar de sumptuoso, é amadeirado de mais.

Para consolar os fãs a Jameson tem-se excedido nas expressões NAS - No Age Statement, significando que não sabemos qual é a idade dos whiskies componentes. O que sabemos, provando, é que não contêm whiskies com mais de seis anos.

O Black Barrel, que já aqui elogiei, é um belo whiskey, com um travo delicado fornecido por um grain bem envelhecido, mas não substitui o Jameson de 12 anos, riquíssimo, com um aroma inconfundível.

O outro trio da Jameson — em generosas garrafas de litro — é constituído pelo Bold, que enfatiza o whiskey de pot still, o Lively, que salienta o whiskey de grain, e o Round, que realça a madeira.

O primeiro trio dedica-se às pessoas: ao papel do blender, do destilador e do tanoeiro. O segundo é dedicado aos materiais: o whiskey de pot still, o whiskey de grain e a madeira.

O Bold, Lively e Round são difíceis de encontrar em Portugal fora dos duty frees, mas encontram-se tanto em Lisboa como no Porto. Para encontrá-los, o ideal é o wine-searcher Pro. Custa 60 euros por ano mas vale a pena porque dá-nos a lista de todas as lojas onde as bebidas estão à venda (com links directos). A versão grátis dá apenas algumas lojas (com os respectivos preços).

Com estes seis whiskies consegue-se ter uma ideia bastante rigorosa de como o Jameson é feito. Note-se, porém, que, na minha opinião, o blend vulgar da Jameson, custando 15 euros, é mais delicioso do que os seis outros whiskies custando três vezes mais. Se foi esta a intenção dos lançamentos — levar-nos a dar valor ao Jameson vulgar — foi plenamente conseguida.

Até os blends superluxuosos (e caríssimos) da Jameson não contêm menção da idade dos whiskies. Parece uma grande lata — até provarmos.

Então percebe-se que são blends em que não se tem de pensar nas quantidades disponíveis. São versões do Jameson, mais ou menos jovens, que atingem a perfeição.

No trio pessoal, o Blender’s Dog é interessante porque mostra-nos a sensibilidade de Billy Leighton. Para mim, a obra-prima dele, à parte o Jameson normal, é o Signature Reserve. Tanto o Blender’s Dog como o Bold são aproximações a essa maravilha. Funcionam até como mapas gustativos. Os dois fracassos são os que falam da madeira. O Cooper’s Croze tem bonita maturidade mas a madeira é excessiva e pouco limpa. O Round ainda sofre mais desse defeito — estará enxofrado? — porque o whiskey é muito novo.

Claro que falo como apreciador de whiskey de pot still mas o grain de Lively é sensacional, mostrando-nos claramente uma das armas principais de Billy Leighton.

Como whiskies, atendendo aos preços, acho que não vale a pena comprá-los, a não ser que se seja um grande apreciador de whiskey irlandês. Mas, para nós, fãs, é fascinante poder espreitar por baixo do capot.

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