Música
O reencontro dos Cães Vadios com o público para se despedirem do Cave 45
O Cave 45 está a rebentar pelas costuras. Junto ao palco prepara-se a entrada de uma das bandas que ajudou a fazer o punk em Portugal.
O Cave 45 está a rebentar pelas costuras. Junto ao palco prepara-se a entrada de uma das bandas que ajudou a fazer o punk em Portugal. É noite de reencontro com o público da cidade onde se formaram, 22 anos depois do último concerto da banda que apostava numa abordagem mais sombria do subgénero do rock nascido em 1977.
Oscar Pinho (baixo), Guilherme Lucas (guitarra), Carlos Moura (bateria) e David Pontes (voz), elementos de uma das últimas formações dos Vadios, atiram-se para o alinhamento composto apenas por quatro temas com a força de quem tinha fome de palco. É uma aparição única, sem qualquer hipótese de se repetir, disseram nos últimos dias. Meia dúzia de ensaios foi o necessário para alinhavar o set de 20 minutos. Pode parecer exagerado, mas fica a ideia de que a banda nunca deixou de ensaiar.
Da guitarra de Guilherme Lucas parte-se para uma jornada soturna que por vezes resvala para o noise. Será arriscado usar o termo shoegaze? David Pontes, o único elemento afastado das lides musicais, não perdeu o jeito e cumpre em pleno o papel de frontman que lhe é atribuído.
“Em que ano estamos?”, pergunta ao público. Alguém responde que estamos em 1985, ano em que a banda se formou. Não estamos em 1985. Estamos em 2017, 22 anos depois da última aparição em palco dos Cães Vadios e ano em que o Porto vai perder o único clube dedicado exclusivamente ao rock da cidade – encerra a 31 de Dezembro.
O set foi curto, mas suficiente para matar saudades. Tocou-se Boca de Fogo e Loose, dos Stooges para encerrar o concerto. Há 22 anos despediram-se sem nunca mais dar sinal de vida. Reencontram-se em 2017 com o público sem tempo para grandes despedidas. Voltaram da mesma forma que se despediram em 1995 - de forma fugaz. Fica o mistério no ar e a suspeita de que que se tivessem mantido a regularidade talvez não fossem apenas um ícone do passado.
Fecharam o palco os The Magnets, que na bateria contam igualmente com Carlos Moura, em noite de festa com direito a invasão do balcão do bar por parte do vocalista, Sérgio Costa. Ironicamente ou não é também proprietário de um espaço comercial histórico, o Buraquinho, que corre o risco de fechar por força da não renovação do contrato do arrendamento por parte do senhorio.
Com duas bandas nacionais a encherem completamente o Cave 45, fica a certeza de que este espaço concebido para o rock vai deixar saudades. André Vieira