A dança portuguesa vai a França fazer uma foto de família

Vera Mantero, Cláudia Dias, Marco da Silva Ferreira, Jonathan Saldanha e Ana Rita Teodoro apresentam-se na próxima edição do festival DañsFabrik, em Brest. Tiago Guedes, o curador do ciclo, quis mapear um território que se vem desdobrando em múltiplas gerações e em múltiplas direcções.

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Marco da Silva Ferreira levará a Brest a sua criação de 2017, Brother, concebida já sob o efeito da invulgar projecção internacional de Hu(r)mano Nelson Garrido

Sucedendo ao Brasil, à Grécia e ao Chile, Portugal será o país em foco na próxima edição do festival DañsFabrik, que decorre em Brest, França, de 13 a 17 de Março. E é uma foto de família alargada, aquela que o programa especial com curadoria de Tiago Guedes – director do Teatro Municipal do Porto e do festival DDD – Dias da Dança – propõe à atenção do público do festival (cerca de dez mil pessoas, na edição de 2017), cruzando várias gerações e várias direcções da dança contemporânea portuguesa, de Vera Mantero (1966) a Ana Rita Teodoro (1982), de Cláudia Dias (1972) a Jonathan Saldanha (1979) e a Marco da Silva Ferreira (1986).

Pensado a partir de três eixos – a relação com a palavra, o documento e a memória; a relação com a voz e o som; as relações intergeracionais e legacionais –, o ciclo reflecte o vaivém actual das artes performativas portuguesas entre o país e o mundo, justapondo, por exemplo, uma peça profundamente ancorada numa região a todos os títulos periférica do território nacional (a Serra do Caldeirão tal como Vera Mantero a reinventou livremente em Os Serrenhos do Caldeirão, exercícios em antropologia ficcional, criada em 2012 no âmbito dos Encontros do DeVIR) ao expansivo mapa-mundo que Cláudia Dias desenha (literalmente) no chão com o clown italiano Luca Bellezze em Terça-feira: Tudo o que é sólido dissolve-se no ar (o melhor espectáculo de 2017 para as críticas de dança do PÚBLICO, Alexandra Balona e Luísa Roubaud), pondo o dedo na ferida da Palestina e da crise dos refugiados. Será a primeira visita ao estrangeiro deste que é o segundo capítulo do projecto Sete Anos, Sete Peças, iniciado em 2016 com Segunda-feira, atenção à direita, que teve a sua estreia mundial em Munique e apresentações posteriores na Holanda, na Irlanda, em Espanha, na Lituânia e na Grécia.

Num programa que pretende “atestar o quão diverso é o panorama actual das artes performativas em Portugal” haverá ainda lugar para assinalar um dos percursos mais fulminantes da dança contemporânea portuguesa – Marco da Silva Ferreira, que levará a Brest a sua criação de 2017, Brother, concebida já sob o efeito da invulgar projecção internacional de Hu(r)mano – e para dar um boost adicional em França, onde em parte se tem construído, à obra de Ana Rita Teodoro (mestranda do Centre National de Danse Contemporaine d’Angers/Universidade Paris 8 e artista associada do Centre National de la Danse), que, com MelTe e Fantôme Méchant, fará uma dupla apresentação no festival. E também Jonathan Uliel Saldanha, que em Abril do ano passado levou ao Palais de Tokyo, em Paris, a sua Oxidation Machine, apresentada no quadro do festival Do Disturb, regressará a França com nova instalação vídeo, que terá a sua estreia mundial no Passerelle – Centre d’Art Contemporain, sinalizando (apenas) uma das várias direcções para que o tem levado a sua prática furiosamente multidisciplinar e sempre em trânsito entre o estúdioa sala de concertos, o palco e a galeria.   

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