Será desta que George Weah realiza o sonho de ser Presidente?
Segunda volta das presidenciais será primeira transição pacífica democrática no país. O ex-futebolista transformado em político promete mudança e parece em vantagem.
Milhares de liberianos foram esta quarta-feira às urnas votar no que deverá ser mais um marco no país: a primeira transição pacífica democrática, da Presidente Ellen Johnson Sirleaf para o vencedor, e a segunda vez na história do país que o dirigente máximo não pertencerá à chamada elite libero-americana, descendente de escravos libertados.
Os concorrentes são o antigo futebolista internacional George Weah (que jogou, entre outros, no PSG e no Milan, e que continua a ser até hoje o único futebolista africano a ter vencido a Bola de Ouro), que teve mais votos na primeira volta (38,4%), e Joseph Boakai, vice-Presidente durante os últimos 12 anos, o segundo classificado (28,8%).
O terceiro candidato, Charles Brumskine (9,8%) alegou fraudes e irregularidades e, apoiado por Boakai, desafiou os resultados. As autoridades eleitorais determinaram que não houve irregularidades, mas acabaram por adiar a segunda volta, que deveria ter sido realizada a 7 de Novembro, para 26 de Dezembro.
Boakai disse que "aceitaria os resultados caso estes cumpram os padrões" eleitorais. Weah parecia ter vantagem não só pelo resultado na primeira volta, mas também pelo entusiasmo do seu último comício, em que juntou dezenas de milhares de pessoas no maior estádio de futebol da capital, Monróvia.
Liderada nos últimos anos pela economista que estou em Harvard, e co-vencedora do Nobel, Ellen Johnson Sirleaf, a Libéria manteve grandes problemas após o final da guerra, como a corrupção, a falta de serviços básicos como electricidade e água potável, e foi ainda duramente afectada pelo vírus do ébola, que matou milhares de pessoas.
Joseph Boakai, 73 anos, tentou demarcar-se na campanha do governo de Sirleaf por causa destas falhas. Num debate televisivo, disse que a sua candidatura não se tinha destacado na primeira volta, mas que o faria na segunda, comparando a eleição a uma corrida de automóveis. Um adversário pegou na analogia do automóvel, comentando que talvez este já estivesse parado há tanto tempo que se tivesse enferrujado, referindo-se aos 12 anos em que Boakai poderia ter posto em prática as suas promessas.
A principal proposta de Boakai para a Libéria são estradas: é a palavra que martelou ao longo da campanha. “Depois de se ter estradas, pode-se ter tudo o resto”, disse. O vice-presidente prometeu ainda 50 mil empregos nos seus primeiros 150 dias.
Mudança, promete
Weah, 51, tem o factor de estrela de futebol que é atractivo num país em que a maioria da população tem menos de 30 anos – e quer mudança.
No entanto, é criticado pela falta de experiência. Weah diz que aprendeu com os seus erros e cresceu muito desde a sua primeira tentativa de chegar à presidência, em 2005. No ano seguinte, Weah foi estudar para ter o diploma do liceu, e aos 40 anos, fez uma licenciatura e mestrado na Florida, em gestão e administração pública.
“Muitas pessoas perguntam porque é que um ex-futebolista quer ser Presidente”, comentou ao diário britânico The Guardian. “Mas não perguntam caso se trate de um advogado ou empresário”, disse, com alguma irritação.
Os críticos de Weah, que foi eleito senador em 2014, mencionam ainda a sua falta de intervenções no Senado. O antigo jogador internacional responde que tem estado mais ocupado em contactar com a população para perceber os seus problemas.
Quanto a planos concretos, responde que tem estado focado em ganhar a eleição. “A partir daí”, cita a agência Reuters, “vou sentar-me à mesa com a minha equipa e vamos desenhar um plano para fazer avançar o nosso país”, disse.
Os resultados da votação deverão ser conhecidos nos próximos dias, e Sirleaf deverá passar o testemunho ao seu sucessor a 15 de Janeiro de 2018.
“Vai ser muito difícil” para quem quer que assuma a presidência, comentou à emissora pan-árabe Al-Jazira Alix Boucher, do Centro de Estudos Estratégicos de África.
“A falta de confiança dos liberianos nas suas instituições deve-se à corrupção que infelizmente a administração Sirleaf não conseguiu travar”, comentou Boucher. ““O desafio vai desde o nível de interacção mais básico com o Estado, e o vencedor terá de lidar com isso.”