As comissões vão continuar a subir em 2018?

Novos aumentos podem afastar clientes para serviços bancários alternativos.

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Banca tradicional começa a ter concorrência de outros produtos e serviços financeiros. pcm patricia martins

As fortes subidas atiram as comissões cobradas pelos quatro principais bancos (Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI e Santander Totta) para 1,37 mil milhões em 2016, segundo contas da Lusa. A associação de defesa do consumidor Deco refere que são cobrados diariamente cinco milhões de euros aos clientes bancários.

Os números são impressionantes e alguns economistas entendem que se caminhará para uma estabilização, mas as opiniões não são unânimes.

Em declarações ao PÚBLICO, João Loureiro, professor da Faculdade de Economia do Porto, entende que “as comissões não vão continuar a aumentar, em termos médios”, porque “já aumentaram bastante” e “novos agravamentos são difíceis de justificar”, podendo mesmo levar o Banco de Portugal “a impor restrições”. E lembra que o supervisor não tem interesse que o aumento de comissões possa gerar, por exemplo, maior circulação de dinheiro fora do circuito bancário, com todos os problemas que isso levanta.

Para o economista, que se recusou a comentar casos concretos de bancos com lucros e que ainda estão a acelerar na cobrança de comissões, as taxas de juro muito baixas, e as taxas negativas (-0,4 %) nos depositados de liquidez das instituições bancárias no Banco Central Europeu, “levaram os bancos a ter de encontrar alternativas para compensarem custos em que incorrem na sua actividade”. Quando as taxas de juro na zona euro começarem a subir, refere, “as comissões voltarão aos níveis normais”.

João Duque, presidente do Instituto superior de Economia e Gestão (ISEG) considera, a partir da sua experiência pessoal, que “há comissões escandalosas”, mas admite que num contexto actual em que “as margens financeiras estão muito comprimidas”, os bancos têm de encontrar outras formas de receitas. E porque tudo tem custos, admite como cliente bancário estar disponível para “pagar segurança e serviço”.

O economista mostra-se avesso a iniciativas legislativas que visem “pôr limites” a este tipo de comissões, considerando que “compete aos clientes protestar, procurar alternativas, criar associações”. Também João Duque se mostra confiante que “uma subida de taxas de juro dará alguma folga” neste domínio.

Nuno Rico, economista da Deco, associação que tem em curso uma petição para levar o Parlamento a discutir as comissões bancárias, tem uma perspectiva mais pessimista, considerando que as taxas de juro baixas por mais alguns anos darão aos bancos argumentos para justificar mais aumentos das comissões. E destaca o caso do Santander, com lucros expressivos, e que já anunciou novos aumentos para Janeiro e Fevereiro.

Sérgio Pereira, co-fundador do Comparajá.pt, uma plataforma electrónica que faz comparação de custos de vários serviços bancários, telecomunicações e outros, entende que os bancos terão de refrear as subidas, porque começam a surgir produtos financeiros “mais atractivos que os da banca tradicional”, referindo, a título de exemplo, o cartão de crédito Revolut ou a plataforma de transferências Transferwise”. Rosa Soares

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